FAO no Brasil

Debate sobre alimentação no Museu do Amanhã reforça a urgência de novas políticas públicas contra o desperdício e a obesidade

14/08/2018

Rio de Janeiro – Melhorar o cultivo, o acesso e o consumo dos alimentos, reinventando a forma com que a população brasileira enxerga a alimentação, é um dos focos no combate ao desperdício e à má nutrição. “Hoje, estima-se que a obesidade tenha um custo global de cerca de um trilhão de dólares, impactando os sistemas de saúde, mas, sobretudo, reduzindo a vida útil e a capacidade motora das pessoas. O problema de enfrentar isso começa em tratar a alimentação como um bem público. Não podemos acreditar que a alimentação é um problema das famílias, das mães. É uma questão de saúde pública”, alertou Graziano da Silva, Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em vídeo-mensagem transmitida ontem, no debate sobre a Plataforma “2018: Brasil do Amanhã”.

Em 2006, de acordo com dados do Ministério da Saúde, a prevalência de obesidade na população brasileira era de 11,8%. Em 2016, esse número subiu para 18,9%. Enquanto os números crescem a uma velocidade alarmante em todo o mundo, a questão segue sendo mal compreendida: “fome e obesidade são dois pontos de uma longa linha do ‘comer mal’. E a diferença fundamental é que, em relação a obesidade, nós não sabemos bem onde ela se localiza. Nós não temos evidência suficiente de como a combater”, lamentou Graziano da Silva.

Para o Diretor da Divisão de Água e Solos da FAO, Eduardo Mansur, é hora de encarar a agricultura – tanto no contexto da obesidade, quanto no contexto do desperdício – com um novo olhar. Enquanto a alimentação é um assunto que interessa novas gerações, a agricultura continua com estigmas que a afasta dos debates da juventude. “É tempo de ter inovação na agricultura, de ter mais juventude na agricultura. De ter uma agricultura que seja atrativa e revolucionária. Isso vai acontecer no momento em que nós valorizarmos esse produto”, analisou Eduardo Mansur, lembrando que em países de primeiro mundo, é cada vez mais comum que as hortas urbanas, ou mesmo o cultivo de hortaliças dentro de casa, já é uma tendência entre as novas gerações.

Desperdício de alimentos

O evento, que tem como objetivo aprimorar o nível de informação, engajamento e mobilização social com relação a alimentação no Brasil, aconteceu no Museu do Amanhã e contou também com a participação da apresentadora Bela Gil, do Diretor de Sustentabilidade e Responsabilidade Social do Carrefour, Paulo Pianez e da Idealizadora da ONG Comida Invisível, Daniela Leite. O debate reforçou a importância da criação de políticas eficazes contra a fome e o desperdício de alimentos.

 “A fome, na verdade, não é um problema de falta de alimentos. O mundo, globalmente, tem alimentos mais do que suficientes para alimentar a todos de maneira adequada. Nós jogamos fora cerca de um terço do que produzimos. A fome é um problema de acesso aos alimentos, seja porque eles não estão bem distribuídos geograficamente falando, ou seja porque as pessoas mais pobres não têm acesso a quantidade e qualidade dos alimentos produzidos”, explicou Graziano da Silva.

 Plataforma “2018: Brasil do Amanhã”

A Plataforma “2018: Brasil do Amanhã” é uma iniciativa do Museu do Amanhã, com apoio da Fundação Roberto Marinho, da Globo, da GloboNews, do Instituto Clima e Sociedade (ICS) e do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). A ação foi criada com o objetivo de elevar o nível da pauta política de 2018 por meio de debates realizados no Museu do Amanhã e demais ações que possam ajudar a esclarecer a sociedade sobre temas de relevância, aproximando a população do processo político.