FAO no Brasil

O turismo sustentável e seu importante papel na preservação das comunidades rurais

A China utiliza alguns dos métodos de cultivo de arroz mais inovadores do mundo para o cultivo de arroz
15/12/2020

A pandemia da COVID- 19 atingiu em cheio o setor de turismo. O setor de viagens internacionais, particularmente, sofreu um golpe que impactou as comunidades rurais onde os meios de sustento dependem de visitantes estrangeiros.  Mas, junto aos desafios, sempre vem uma oportunidade, e a oportunidade aqui é construir uma volta melhor do turismo: mais sustentável, mais justa, promovendo destinos rurais não-tradicionais e criando meios de sustento mais resistentes para as comunidades locais.

Uma maneira de fazer isso é através do 'agroturismo'. Recentemente, ele tem se tornado popular entre os viajantes, que podem vivenciar as tradições culturais e gastronômicas locais. O agroturismo beneficia agricultores e comunidades rurais, fornecendo oportunidades, diversificando suas atividades econômicas e criando novas demandas para seus produtos agrícolas.

Como em toda atividade turística, um gerenciamento cuidadoso é necessário. Entretanto, sustentabilidade é a chave para prevenir impactos negativos ao meio-ambiente, aos recursos agrícolas, à biodiversidade e às vidas e culturas das pessoas dessas áreas.

Tendo isso em mente, a FAO e a Organização Mundial do Turismo (OMT) vão trabalhar juntas para promover o turismo agrícola sustentável como uma maneira promissora de impulsionar o desenvolvimento rural.

A parceria FAO-OMT começará promovendo o agroturismo nas regiões dos Sistemas Importantes do Patrimônio Agrícola Mundial (SIPAM ou GIAHS na sigla em inglês), as quais representam não apenas paisagens naturais belíssimas, mas também práticas agrícolas que criam meios de subsistência nas áreas rurais, combinando tradição e inovação de maneira única. 

Aqui estão quatro exemplos de regiões dos SIPAM onde o turismo sustentável pode aumentar o desenvolvimento, combater a pobreza e dar novas oportunidades de trabalho aos jovens.

Vinhas do Vale Soave, Itália 

Colinas, casas antigas de fazendas e vinhas a perder de vista. Uma paisagem icônica da Itália. Soave, uma pequena região entre Verona e Veneza, é famosa pelos seus vinhos – na verdade, os vinhedos tradicionais da variedade local de uva, Garganega, proporcionam renda para mais de três mil famílias há 200 anos.

Agricultores da região ainda utilizam métodos tradicionais na condução das vinhas, com um método de gestão que equilibra o crescimento da videira com a qualidade da fruta para obter os melhores resultados. O resultado? Um dos vinhos mais famosos da Itália – vino Soave. Apesar de suas propriedades tipicamente pequenas ou micro, esta área tem conseguido garantir uma fonte de renda sustentável para os viticultores, produtores de vinho e engarrafadores, mesmo nos períodos mais desafiadores, graças à cooperação e inovação. Por exemplo, para aumentar o lucro líquido do vinho e manter seu preço, a área recebeu da União Europeia a Denominação de Origem Protegida (DOP) em 1968, reconhecendo o produto por sua qualidade única no mundo inteiro. Além disso, os agricultores organizaram uma cooperativa de vinhas e criaram um sistema de cooperação complexo que garante a seus membros uma renda razoável a cada ano, apesar da flutuação de preços do mercado. 

Agora a área continua a inovar, promovendo turismo local que emprega um número expressivo de funcionários de hotéis, restaurantes e vinícolas, gerando bom lucro para a região.

Satoyama e Satoumi, Japão

A península de Noto é um microcosmo do tradicional Japão rural, onde montanhas, florestas e áreas costeiras se interligam formando um incrível sistema agrícola. O terreno montanhoso é intercalado com amplos vales e campos, todos cercados por uma costa de rocha vulcânica. A península é caracterizada por um mosaico de satoyama, ecossistemas de paisagem terrestre-aquática, e satoumi, ecossistemas marinhos-costeiros.

Únicos da península de Noto, os métodos tradicionais agrícolas e silvícolas, como a secagem de arroz, carvão e sal marinho, pesca tradicional e administração da água, são praticados nessa área há séculos. As comunidades de Noto estão trabalhando juntas para manter de forma sustentável as paisagens satoyama e satoumi e as tradições que sustentaram gerações por séculos. O governo nomeou a área como zona especial de turismo-verde e se esforça para aumentar a conscientização no local e promover o turismo de áreas urbanas. 

Agricultura Chiloé, Chile 

Na região sul do Chile, caracterizada por ilhas e grandes e tranquilos trechos costeiros, repousam milhares de casas coloridas. Esse é o arquipélago de Chiloé, uma área de beleza natural e tradição, onde agricultores dedicam seu tempo e trabalho há milênios. Em 2011, também foi nomeado como uma área SIPAM por sua biodiversidade única e métodos agrícolas.

No passado, as mulheres rurais realizavam atividades de conservação da biodiversidade em suas hortas familiares e pequenas roças, sendo a batata uma das mais importantes. Na verdade, é em torno da batata que gira a vida de muitos moradores da Ilha. Está ligada às suas tradições culturais, práticas sociais ancestrais, crenças e mitologia – muitas das quais no alvorecer do terceiro milênio ainda estão em uso. Atualmente, o governo local desenvolve serviços turísticos rurais, produtos alimentícios e artesanato.

Terraços de arroz nas áreas montanhosas do Sul, China

Essas áreas montanhosas nas províncias do sul da China são conhecidas por suas paisagens deslumbrantes – mas você sabia que as pessoas de lá utilizam alguns dos métodos mais inovadores de cultivo de arroz do mundo?

Os antigos colonos desta área construíram campos em terraços para a conservação de água, tornando possível o cultivo de arroz em áreas montanhosas. Esses fascinantes métodos de agricultura ainda são utilizados, e a China está promovendo o ecoturismo para estimular turistas a visitarem a região, entenderem as tradições e revitalizarem a economia rural. Os novos projetos de ecoturismo são uma estratégia para atenuar a pobreza nessas áreas rurais através de ajuda para as comunidades locais diversificarem a renda. O Airbnb e o governo local têm trabalhado juntos para treinar as comunidades locais na administração turística e em hospedagem.

27 de setembro é o Dia mundial do Turismo e, nesse ano, foi celebrado em um momento difícil. O tema Turismo e Desenvolvimento Rural, permite a exploração de um novo tipo de turismo fora dos grandes centros e a descoberta do seu papel no apoio às comunidades rurais. As áreas da SIPAM encorajam o público a gostar das tradições agrícolas, mesmo em suas regiões, e a reconhecer a importância histórica e cultural delas. Focando no papel que o turismo sustentável pode desempenhar para impulsionar o desenvolvimento e fortalecer os meios de subsistência, especialmente nas áreas rurais, esta pandemia está nos ajudando a repensar o setor – e nos dando a chance de garantir que locais incríveis permaneçam vivos por mais mil anos.

*Traduzido do Inglês por Eliane Resende sob supervisão de Valter Bianchini e Aline Czezacki