Novo relatório da FAO aponta que produção da pesca e aquicultura no Brasil deve crescer mais de 100% até 2025
Cenário positivo é resultado de investimentos feitos no setor nos últimos anos
Brasília – O novo relatório da FAO, o Estado Mundial da Pesca e Aquicultura 2016 (SOFIA) estima que o Brasil deve registrar um crescimento de 104% na produção da pesca e aquicultura em 2025. Segundo o estudo, o aumento na produção brasileira será o maior registrado na região, seguido de México (54,2%) e Argentina (53,9%) durante a próxima década. O crescimento no país se deve aos investimentos feitos no setor nos últimos anos.
“A FAO acompanha de perto o crescimento do setor pesqueiro no Brasil. As políticas públicas criadas especificamente para o setor e os investimentos comprovam que o país pode ser também uma potência importante na pesca e aquicultura. Sabemos que a demanda por esses produtos tendem a crescer e por isso é necessário que os países invistam cada vez mais nessa área como vem ocorrendo no Brasil”, ressaltou o representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic.
O cenário positivo também se reflete na região. Segundo o relatório, a América Latina e Caribe vai apresentar uma expansão importante na produção aquícola que pode chegar as 3,7 milhões de toneladas em 2025, um crescimento de 39.9% em relação a 2013-15, período em que foram produzidas em média 2,7 milhões de toneladas.
Segundo a FAO, a pesca não deve crescer muito nos próximos anos e produção total de peixes da região (aquicultura + capturas) deve registrar 16.2 milhões de toneladas em 2025, 12.6% a mais que o nível alcançado em 2013-15.
Em âmbito global, a produção deve crescer até alcançar 195,9 milhões de toneladas em 2025, um aumento de 17% em comparação a produção de 2013-15, de 166,8 milhões, após 2014 registrar pela primeira vez aumento na produção aquícola para o consumo direto em relação às capturas por pesca.
Isso significa que no ano 2025 o mundo vai produzir 29 milhões de toneladas a mais de peixe que em 2013-15 e quase todo esse aumento vai acontecer nos países em desenvolvimento por meio da aquicultura.
“Dessas 29 milhões de toneladas, a América Latina e Caribe pode responder por quase três milhões de toneladas”, explicou Alejandro Flores Nava, Oficial Principal de Pesca e Aquicultura do Escritório Regional da FAO para ALC.
Do total de 4.6 milhões de embarcações pesqueiras em âmbito global, a América Latina e Caribe responde por 6%, cerca de 90% dos quais tem menos de 12 metros de cumprimento.
Segundo o SOFIA, as exportações regionais de produtos de pesca estão crescendo de forma mais acelerada que as importações.
“Mesmo que ainda estejamos longe da produção da Ásia, a América Latina e Caribe começou a se consolidar como uma região exportadora de produtos pesqueiros e aquícolas para o consumo humano direto e indireto, mantendo uma das taxas de expansão aquícola mais elevadas do mundo”, explicou Flores.
Flores destacou ainda que uma importante tarefa pendente para a região é estimular o consumo local de peixes e mariscos, principalmente na alimentação escolar.
Comprar públicas e alimentação escolar para aumentar o consumo per capita
Atualmente, a América Latona e Caribe produz 2,7 milhões de toneladas de peixe em aquicultura e extrai cerca de 11,7 milhões de toneladas do mar. Porém, o consumo per capita na região alcançou apenas dez quilos de peixe por ano, a metade da média global, apontou o SOFIA.
A FAO está incentivando programas de compras públicas de peixe para abastecer os programas de alimentação escolar na região.
“Incluir produtos da pesca na dieta das crianças pode ter uma grande contribuição no combate à desnutrição crônica, o sobrepeso e a obesidade, além de mudar os hábitos alimentares por comidas mais saudáveis e melhorar a economia das famílias de pescadores artesanais e aquicultores de recursos limitados”, explicou Flores.
No México, parlamentares estão debatendo atualmente um projeto de lei para incorporar esses produtos na alimentação escolar do país. Iniciativas similares também estão sendo desenvolvidas no Paraguai e na Guatemala e futuramente a iniciativa deve se expandir para Belize, Costa Rica, El Salvador, Honduras, Nicarágua e Panamá.
Grande crescimento aquícola não se traduz em mais emprego
De acordo com o SOFIA, o emprego no setor pesqueiro cresceu moderadamente na região, enquanto que no âmbito de capturas reduziu. Já a produção aquícola, cresceu a taxas altas.
A FAO estima que a produção aquícola dos países em desenvolvimento deve continuar em expansão aumentando em 26% na próxima década e crescendo com força na América Latina.
No entanto, o SOFIA destaca que o grande crescimento da produção aquícola não vai gerar um aumento equivalente em relação a emprego.
“Grande parte dessa produção está orientada a mercados estrangeiros muito competitivos que dependem mais de avanços tecnológicos que da mão de obra humana”, explicou Flores.
Segundo o SOFIA, apenas 4% de todos os que se dedicam a pesca e aquicultura em âmbito global moram na América Latina e Caribe.
Nos dias atuais, a aquicultura emprega oficialmente 356 mil pessoas na região, porém mais de dois milhões e 80 mil pessoas se dedicam a pesca. Estima-se ainda que existam mais de 500 mil famílias que dependem da aquicultura de pequena escala para a própria segurança alimentar e renda familiar na região.
“É fundamental apoiar os pequenos pescadores artesanais da América Latina e Caribe, já que não apenas são a maioria, mas também exercem um papel chave na segurança alimentar da região e na sustentabilidade do setor pesqueiro”, ressaltou Flores.