6.1. Como identificar a população para uma intervenção?
A população-alvo de uma intervenção educativa é constituída por diferentes grupos. Com a finalidade de adaptar os enfoques a cada grupo, é necessário estabelecer as diferenças existentes entre eles.
Grupos de risco e grupos objetivo
É importante diferenciar entre os grupos de risco e os grupos objetivo de uma intervenção. De fato, o grupo de risco pode ser o grupo objetivo de um programa de comunicação, mas isto não é freqüente. Por exemplo, um grupo em risco de desnutrir-se é o das crianças menores de cinco anos. As ações da intervenção nutricional para reduzir o risco de desnutrição não serão dirigidas à criança, mas sim a todos os envolvidos com seu cuidado. Neste caso, o grupo objetivo ao qual se dirigem as ações educativas será constituído pelas mães, os pais ou outras pessoas encarregadas do cuidado e da alimentação da criança. Nesta situação é fácil identificar o grupo objetivo e o grupo de risco.
Grupos objetivo
Na população-alvo, existem grupos objetivo primários, secundários e terciários.
O grupo objetivo primário é composto pelas pessoas cuja conduta deve ser modificada. No exemplo anterior, poderiam ser as mães das crianças menores de 5 anos. Neste caso, o propósito seria melhorar a maneira de preparo da comida de suas crianças ou o cuidado delas.
O grupo objetivo secundário é composto pelas pessoas que serão utilizadas como intermediárias para fazer chegar a mensagem ao primeiro grupo. No mesmo exemplo, elas poderiam ser os trabalhadores de saúde, os professores, os extensionistas rurais ou os jornalistas. Tudo depende das redes de comunicação da comunidade.
O grupo objetivo terciário é formado pelas pessoas que podem facilitar o processo de comunicação e as mudanças de conduta. Incluem-se os administradores e políticos, mas também todas aquelas pessoas próximas à mãe ou ao pai da criança e a toda a família.
Por isso, o enfoque irá variar conforme os distintos segmentos, que diferem em termos de nível educacional, sócioeconômico, etc. No último exemplo, necessitamos diferenciar entre as mães que constituem o grupo objetivo e entre os distintos segmentos do grupo objetivo de mães, cada um dos quais se beneficiará de uma estratégia específica.
Os meios e materiais de apoio utilizados para chegar às mães com baixo nível de instrução, que vivem em setores rurais, serão completamente distintos daqueles dirigidos a mães com maior nível educacional, que vivem em áreas urbanas.
Exemplo: |
Na prevenção da desnutrição, os grupos podem ser classificados da seguinte maneira: |
Grupos de risco: crianças menores de 5 anos. |
População-alvo: pessoas responsáveis pelo cuidado dessas crianças. |
Grupo objetivo primário: mães das crianças. Segmento A: mães analfabetas que vivem em áreas rurais. Segmento B: mães analfabetas que vivem em áreas urbanas. Segmento C: mães alfabetizadas que vivem em áreas urbanas, etc. |
Grupo objetivo secundário: profissionais da saúde, trabalhadores sociais, professores da escola, radialistas da estação de rádio local. |
Grupo objetivo terciário: funcionários administrativos e técnicos dos distintos setores envolvidos, pais das crianças. |
Não devemos esquecer que os grupos objetivo devem ser participantes do processo de comunicação social e não meros receptores de informação. Um sistema de comunicação para a educação nutricional em um único sentido arruinaria nosso propósito de um efetivo enfoque global. Por outro lado, os grupos objetivo devem desempenhar também um papel na transmissão de mensagens a outros grupos e aos “promotores” da intervenção.
As pessoas influentes na comunidade também devem efetuar uma parte importante dentro dos grupos secundário e terciário. Este grupo é um catalizador da comunicação social.
Para identificar quem são as pessoas influentes na comunidade, deve-se incluir no questionário ou roteiro de perguntas descrito anteriormente informações como as seguintes: |
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A observação direta pode também ajudar a identificar estas pessoas influentes (chamadas líderes de opinião). |
É importante identificar as pessoas influentes no setor pertinente. Estas podem ser diferentes em outras áreas da vida social. |
6.2 Em que níveis devem ser definidos os objetivos?
Objetivos nutricionais
O objetivo primário de um programa de intervenção nutricional é a melhoria do estado nutricional do grupo objetivo. Este pode ser medido por indicadores dietéticos, bioquímicos, clínicos, antropométricos e biofísicos. Indicam os diferentes níveis do estado nutricional de uma população.
O estado nutricional é um fenômeno complexo, dependente de vários fatores externos a uma intervenção educativa. Difere o marco temporal dentro do qual são afetados os diversos indicadores por efeito das intervenções. Portanto, os objetivos nutricionais devem ser definidos a curto e longo prazo.
Basicamente, um programa educativo é desenhado para mudar uma conduta dentro de um objetivo a longo prazo, como seria melhorar o estado nutricional, com a condição de que outros fatores externos que influem sobre tal estado sejam favoráveis. Por exemplo, melhoria da disponibilidade de alimentos e dos serviços de saúde. Estas são condições externas que estão fora do controle da intervenção em comunicação.
O produto imediato é o resultado direto da intervenção, independente de fatores externos. A melhoria do conhecimento das mães a respeito das necessidades nutricionais de seus filhos é um bom exemplo.
É importante estabelecer objetivos nutricionais mensuráveis, mas também entender que estes objetivos somente serão atingidos quando os fatores externos à intervenção em comunicação conduzirem a alcançá-los.
Objetivos educativos
O objetivo especifico de um programa de educação nutricional é obter mudanças duradouras nas condutas que afetam o estado nutricional. A adoção de uma nova conduta depende de muitos fatores externos ao programa de comunicação.
Os objetivos intermediários são aqueles relacionados às mudanças na motivação, conhecimento, auto-estima, decisão (preferência por uma conduta em particular) e a destreza (“saber fazer”). Estes são os resultados independentes - os promotores da intervenção devem prestar-lhes especial atenção, apesar dos fatores externos.
Os objetivos educativos devem ser operacionalizados, o que é descrito na última sessão.
Objetivos de comunicação
Para que o programa de comunicação seja efetivo e produza mudanças duradouras, deve-se focalizar a exposição da população-alvo às mensagens e a sua retenção.
No campo da comunicação, os métodos são tão importantes como os resultados aparentes, pois forjam atitudes duradouras na população. Por exemplo, dois programas de comunicação podem alcançar o mesmo objetivo de retenção da mensagem. O primeiro programa, porque seu estilo autoritário, de cima para baixo, produz uma relação de dependência, enquanto o segundo, que é participativo, estimula a população a tomar suas próprias decisões, baseadas em informações prévias para resolver seus problemas. Deve-se preferir a segunda opção.
Resumo
Pode-se hierarquizar os objetivos: |
Objetivo geral: melhorar o estado nutricional |
Objetivo educativo específico: mudança na conduta |
Objetivos educativos intermediários: modificações na motivação, conhecimentos, auto-estima, preferências, decisão |
Objetivos de comunicação: exposição a mensagens e sua retenção |
6.3. Como definir os objetivos educativos?
Os objetivos educativos devem ser o mais operacionais possivel. Isto fornece as bases para uma avaliação objetiva da intervenção.
Para que seja operacional, um objetivo educativo deverá estabelecer claramente:
Na seqüência, damos vários exemplos ilustrativos.
Objetivo específico: a mãe introduzirá uma refeição cozida, à base de milho, leguminosas e óleo, entre o 6° e o 9° mês de vida da criança; esses alimentos estão disponíveis e são acessíveis para ela. |
Critério: esta refeição será consumida pelas crianças desse grupo de idade, pelo menos três vezes por semana, e não mais que uma vez por dia. |
Os objetivos intermediários também podem ser operacionais, como se mostra nos seguintes exemplos:
Motivação: a mãe expressará seu desejo de melhorar a dieta tradicional de seu filho
a partir dos seis meses. Critério: expressa seu desejo em resposta a uma pergunta aberta sobre a dieta de seu próximo filho. |
Conhecimento: a mãe será capaz de dar exemplos de como enriquecer o milho
cozido com outros alimentos ricos em proteínas e lipídios. Critério: três exemplos qualitativos considerados aceitáveis. |
Auto-estima: a mãe considera-se capaz de preparar essa refeição para seu filho. Critério: isto se observa durante o transcorrer de uma entrevista informal com a mãe. |
Preferências: a mãe selecionará a receita de milho cozido enriquecida com alimentos
ricos em proteínas e lipídios entre várias receitas, e saberá prepará-la para seu filho. Critério: dada uma lista de dez receitas, a mãe selecionará três receitas nutricionalmente adequadas. |
Destreza: usando farinha de milho, leguminosas, óleo e alguns condimentos, a mãe
será capaz de preparar uma refeição bem balanceada. Critério: as proporções necessárias para os grupos de alimentos serão respeitadas, dentro de um nível de erro de 20%. |
Em termos de destreza, deve-se fazer um esforço considerável para definir a conduta que a população deverá adotar.
A equipe do programa HEALTHCOM fez uma lista de 38 condutas de caráter curativo e 69 de caráter preventivo para as doenças diarréicas. |
A seguir, apresentam-se as práticas que se requer para a rehidratação oral, mais especificamente, aquelas que se referem à mistura do conteúdo de um pacote de sais de rehidratação com um litro de água fervida. |
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A Comissão de Planejamento deve ser capaz de definir as mensagens para a comunicação baseada nesta análise.
Outro exemplo de formulação de objetivos:
Problema
Nos últimos 20 anos, Cuba tem mostrado uma diminuição substancial na prática do aleitamento materno exclusivo, segundo os resultados de um estudo nacional realizado em 1990 sobre a prevalência e duração do aleitamento materno e a alimentação da criança menor de um ano.
Se temos presente o problema enunciado, pode-se aceitar como exemplos de objetivos educativos os seguintes:
Objetivo Geral | Objetivos Educativos Específicos |
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• Incrementar o aleitamento materno exclusivo até o quarto mês, em 70 % dos recém-nascidos a termo e mantê-lo complementado com outros alimentos durante o primeiro ano de vida. | As mães serão capazes de: • Identificar o leite materno como o melhor e único alimento para o recém-nascido até os quatro meses de idade • Praticar o aleitamento materno com livre demanda • Observar o estado nutricional das crianças alimentadas com leite materno exclusivo durante os quatro primeiros meses de idade. |