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SESSÃO 1: O PAPEL DA HORTA FAMILIAR: PRIMEIRA VISITA À HORTA


OBJECTIVO

No fim desta sessão, os técnicos de campo estarão aptos a compreender a importância das hortas na vida quotidiana das famílias.

FIGURA 1.1
A horta fornece alimentos, combustível para cozinhar, ervas aromáticas, especiarias e flores e gera rendimentos.

ABORDAGEM GERAL

A horta familiar é uma parcela de terra extremamente importante em África. Como o seu nome sugere, pode situar-se em torno da habitação, mas está frequentemente localizada junto de um ponto permanente de água, como uma ribeira, uma lagoa ou um pântano. A horta familiar representa muitas vezes um dos vários sistemas agrícolas praticados por uma família rural. Contudo, em zonas urbanas e periurbanas, ou em lugares onde a terra é escassa, as hortas familiares podem ser as únicas parcelas cultivadas.

Em África, as hortas variam em função de factores agro-ecológicos, climáticos e culturais. Nas regiões húmidas e sub-húmidas da África central e ocidental, a horta familiar inclui muitas vezes uma parcela agrícola permanente onde se praticam culturas perenes e anuais. Nalguns casos, a horta rodeia a habitação, existindo algumas veredas conduzem a outras unidades de produção dedicadas a culturas anuais para consumo da família ou para o mercado. Noutros casos, a horta fica situada a uma certa distância da habitação, mas perto de um ponto de água.

A biodiversidade hortas familiares diminui das zonas húmidas, onde a pluviometria anual excede os 1.100 mm, para zonas semi-áridas ou áridas, onde a pluviometria anual varia entre 500 e 900 mm, não atingindo senão uns 250 a 500 mm, nas zonas saharianas. A falta de água constitui o maior obstáculo às hortas nas regiões secas, mas mesmo nestas áreas é possível ter hortas. Algumas culturas podem crescer em períodos secos, graças a uma boa gestão dos solos e a soluções económicas e eficazes de recolha e armazenamento de água. Para uma informação mais detalhada sobre as hortas familiares em África, veja-se a Ficha de Informação 1-"Definição e conceito de hortas familiares em África".

A visita às hortas familiares que será discutida nesta sessão ajudará os técnicos de campo participantes a conhecer melhor:

ACTIVIDADES

O formador visita a comunidade e, em concertação com as pessoas influentes da comunidade e com as famílias, selecciona um número de famílias com hortas bem tratadas e um igual número de famílias com hortas menos bem tratadas. O número de hortas seleccionadas dependerá do número de grupos de técnicos de campo que participam no programa. O formador explica a finalidade da visita e fixa as marcações de visitas a hortas familiares. Deve-se ter um cuidado especial em incluir famílias nas quais o chefe de família é uma mulher.

Discussão. Depois de apresentar o objectivo da sessão e de ter definido os objectivos da primeira visita à horta, o formador promove a discussão entre os técnicos de campo sobre os seguintes pontos:

Seguidamente os técnicos de campo comunicam os seus pontos de vista e experiências sobre estes assuntos.

Preparação da visita de campo. O formador prepara os participantes para a visita de campo elaborando uma lista de controlo preliminar, que é semelhante à Lista de Controlo 1, mas que inclui questões relevantes para a situação local. Divide então os técnicos de campo em grupos pequenos, de cinco ou seis, certificando-se de que os diferentes sectores - agricultura, nutrição ou saúde, desenvolvimento comunitário e educação - estão bem representados em cada grupo e, se possível, de que há um número igual de homens e de mulheres. O grupo de técnicos de campo constituído no princípio do curso de formação, deverá trabalhar em equipa durante todas as aulas teóricas e todas as sessões práticas. O curso de formação compreenderá ao todo três visitas a hortas familiares ou visitas de campo.

Planificação da visita de campo. Para preparar o trabalho de campo, o formador apresenta as seguintes etapas da planificação:

O formador pede aos participantes para identificarem os objectivos da sua primeira visita de campo. Tal pode consistir em identificar:

Quando os participantes chegarem a um acordo sobre os objectivos da visita de campo, deverão identificar o tipo de dados necessários e como recolhê-los de acordo com o guia de planificação acima referido. Durante a primeira visita de campo, os participantes realizarão entrevistas a pessoas influentes (representantes da aldeia) ou aos membros das famílias (marido, mulher, filhos).

Revisão e adaptação da lista de controlo. O formador distribui a Lista de Controlo 1 aos técnicos de campo e explica o seu objectivo. A lista contém uma série de perguntas abertas sobre os assuntos mencionados. Alguns entrevistadores preferem ter uma lista de controlo pormenorizada de modo a não esquecerem o que devem perguntar; outros sentem-se melhor só com uma lista de tópicos ou de perguntas gerais. Em inquéritos familiares, uma lista de controlo permite mais flexibilidade do que um questionário, porque a conversa tende a decorrer mais espontaneamente, o que dá ao entrevistado a oportunidade de sugerir assuntos em que o entrevistador não tenha pensado. O formador pede depois aos participantes para reflectirem sobre se a lista de controlo preenche ou não todos os temas necessários para atingir os objectivos da visita de campo.

Nota: As listas de controlo deste manual foram concebidas como guias de orientação. Como tal, não impõem questões ou assuntos a tratar.

Interacção com a comunidade. Depois de os participantes se apresentarem e explicarem a razão da sua visita, uma boa maneira de iniciar a entrevista consiste em fazer perguntas sobre as actividades actuais dos agricultores. Outras boas questões introdutórias podem incidir sobre aspectos de ordem geral da comunidade, tais como o número de famílias na aldeia, os serviços e infra-estruturas existentes e as principais culturas praticadas (ver a Secção A da Lista de Controlo destinada aos representantes locais). Os técnicos de campo devem saber avaliar o clima de intimidade criado com os entrevistados antes de fazerem perguntas mais sensíveis, tais como as que se referem aos tipos de alimentos consumidos, o número de refeições diárias, e se produzem ou não alimentos suficientes para as necessidades das famílias.

As questões e assuntos incluídos na lista de controlo devem ser conduzidos de uma maneira descontraída. Certificando-se de que todos os elementos da lista estão tratados, os técnicos de campo devem fazer com que os membros da comunidade se sintam à -vontade e capazes de exprimir livremente as suas opiniões. Deve-se evitar fazer perguntas orientadas (perguntas que sugiram a resposta desejada pelo entrevistador; perguntas que possam ser respondidas com "sim" ou "não"; ou perguntas que não conduzam a discussão para um nível mais profundo). Os bons entrevistadores fazem perguntas que aprofundam quer os seus próprios conhecimentos, quer os do entrevistado (por exemplo, em vez de perguntar "Produz vegetais?", um entrevistador pergunta "Que vegetais produziu este ano? Que variedades? Porque é que plantou estes neste lugar?"). Perguntas iniciadas pelas palavras porquê, quem, o quê, onde, quando e como são geralmente boas perguntas para suscitar respostas pormenorizadas.

A atitude dos técnicos de campo para com a comunidade. Para poderem ajudar uma comunidade, os técnicos de campo devem dar às populações locais a oportunidade de descrever o modo como desempenham certas tarefas, o que sabem e o que desejam. Assim, os técnicos de campo deverão esforçar-se por compreender a situação local e apoiar a comunidade na procura de soluções e de como pô-las em prática. Enquanto pessoas exteriores à comunidade, os técnicos de campo têm sobretudo um papel de escuta e de animação, mais do que de ensino ou de especialista. Observam, fazem perguntas, escutam, aprofundam com cuidado os pontos que necessitam de ser clarificados. Agindo deste modo, dão à população local a oportunidade de analisar os seus próprios problemas. Esta posição de respeito conduz geralmente a uma boa relação e colaboração entre os membros da comunidade e os técnicos de campo. Assim, estes dois grupos podem partilhar conhecimentos e competências, e trabalhar em conjunto para encontrar soluções.

Preparação do grupo para o trabalho de campo. Haverá três visitas de campo durante o curso de formação. Cada grupo de técnicos de campo deve indicar o seu animador, que pode apresentar o grupo à comunidade e às famílias, explicar a finalidade da visita e iniciar o diálogo com os membros das famílias. Outros elementos do grupo intervirão quando surgirem assuntos relacionados com a respectiva área de competência. O grupo seleccionará também um relator, que deve registar por escrito todas as respostas dadas pelos membros da comunidade durante a discussão. Para dar a todos a oportunidade de desempenharem os vários papéis de animação e de secretariado, adoptar-se-á um esquema de rotatividade de tarefas entre os membros da equipa, durante as três visitas de campo.

Organização do trabalho de campo. A visita de campo inicia-se com uma visita de cortesia aos chefes locais e um encontro com um grupo de membros da comunidade, antes de visitar os sítios de interesse e as famílias.

Primeira visita às hortas familiares. A primeira visita às hortas familiares permite aos participantes compreenderem globalmente a estrutura, o papel, as limitações e as potencialidades das hortas familiares na região. Depois de o formador ter explicado a preparação e organização da visita de campo, o grupo encontra-se com a comunidade; o animador do grupo apresenta a equipa e explica a finalidade da visita.

Os técnicos de campo começam por fazer perguntas gerais aos representantes da aldeia, antes de irem às hortas seleccionadas[2]. À medida que caminham pela aldeia e pelas hortas, os agentes podem falar com as pessoas sobre o que vão vendo (por exemplo, o solo, a ribeira, as culturas, as casas, os poços, as instalações sanitárias, o centro de saúde, a escola). Este método, chamado "visita de reconhecimento" (transect), proporciona aos técnicos de campo uma boa ideia sobre a região. Esta visita de reconhecimento pode também ser repetida com diferentes membros da comunidade, por exemplo um grupo de homens, um grupo de pessoas idosas ou de jovens da aldeia, permitindo reflectir assim sobre as diferenças de acesso aos recursos ou de participação na vida comunitária existentes entre homens e mulheres, ou pessoas de diferentes idades (são dados mais pormenores na Sessão 8, "Promover as hortas familiares para melhorar a nutrição").

Discussão em grupos pequenos. Os participantes voltam ao lugar da formação para resumirem as suas observações e organizarem a informação recolhida segundo o tipo de família (por exemplo, as famílias que têm hortas bem tratadas e as que têm hortas menos bem tratadas).

Discussão com o conjunto dos participantes. Cada grupo apresenta o resultado das suas observações em plenário, seguindo-se então a discussão. O formador pede aos grupos para comparar as diferenças fundamentais observadas entre as hortas que são bem tratadas e as que o não são; encoraja os técnicos de campo a discutirem o papel das hortas familiares no aprovisionamento alimentar das famílias em geral, e de algumas famílias em particular. No fim da sessão, o formador resume os resultados.

MATERIAL NECESSÁRIO

LISTA DE CONTROLO 1:

AS FUNÇÕES DA HORTA

Nome do relator: ........................................................ Data: ................................................................

Nome da aldeia: ........................................................... Nome da família: .........................................

A) Lista de controlo destinada aos representantes/responsáveis locais

Os pontos que se seguem deverão ser discutidos durante a reunião inicial com os responsáveis locais e outros representantes da comunidade.

1. Número de famílias da aldeia; ......................................................................................................

2. Tamanho médio das famílias; .........................................................................................................

3. Características do clima/ da pluviosidade; .....................................................................................

4. Localização da aldeia (proximidade de estradas de alcatrão, de um centro distrital ou regional, de um mercado, de transportes públicos);

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5. Equipamentos existentes na aldeia (por exemplo, escola, centro de saúde, centro de divulgação agrícola);

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6. Tipos de comissões permanentes ou grupos comunitários locais (isto é, grupo de poupança, organizações de mulheres, grupos informais de iniciativa pessoal);

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7. Recursos de água: ...........................................................................................................................

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8. Sistemas de produção alimentar:

a) Quais são as principais culturas alimentares?

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b) Quais as culturas comerciais mais importantes?

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c) Quais os principais legumes cultivados?

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d) Qual é a percentagem de famílias que cultiva vegetais numa horta familiar durante a estação das chuvas? .................................................................................................

e) Qual a percentagem de famílias que têm hortas de estação seca?

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f) Qual a percentagem de famílias que têm árvores de fruto?

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g) Qual a percentagem de famílias que colhe alimentos na floresta?

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h) Qual o tipo de produção animal praticada?

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i) Qual a percentagem de famílias que pratica cada tipo de produção animal?

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j) Qual a percentagem de famílias que se dedica à pesca?

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9. Quais são as outras actividades geradoras de rendimentos?

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B) Lista de Controlo 1 para as entrevistas com as famílias

Os participantes pedem aos membros de cada família para lhes mostrarem os arredores das suas hortas, tomando notas atentas do que vêem (incluindo o tipo da casa, os espaços úteis e o uso da terra, os tipos de culturas praticadas à volta da casa e os sinais de doença ou de má nutrição nas crianças).

Para cada observação realizada, os técnicos de campo devem registar dois aspectos: (1) o que observaram; (2) a sua interpretação do que observaram. É importante que confrontem as suas observações e interpretações com a informação obtida no convívio com outras famílias e que as comparem com as opiniões de outros técnicos de campo. Assim, devem colocar aos membros das famílias as seguintes questões:

1. Quais são as principais utilizações da vossa horta?

Área de descanso

Superfície (em metros quadrados) ou número de plantas/árvores

Local de repouso ou de convívio


Fornecer sombra


Area de utilidade

Descrição das instalações ou dos processos

Abrigo de animais


Composto


Secagem e tratamento das colheitas


Vedações


Celeiros para armazenagem


Fonte/ reservatório


Reserva de lenha


Outros (especifique):


Área de produção ou económica

Descrição das instalações ou dos processos

Culturas para venda


Culturas alimentares


Viveiro


Outros (especifique):


2. Da lista de culturas que se segue, quais são aquelas que pratica na sua horta?

Cultura

Estação

Utilização dos produtos

Estação húmida

Estação seca

Consumo por famìlia (%)

Outros
V = venda T = troca

Coqueiro





Girassol, sementes





Palmeira dendém*





Outras culturas oleaginosas (especifique):





Batata-doce





Inhame





Mandioca





Outras raízes ou tubérculos (especifique):





Amendoim





Feijão-congo*





Feijão-nhemba*





Outras leguminosas (especifique):





Beringela





Quiabo





Pimento





Tomate





Legumes de folhas verdes (especifique):





Banana





Banana-pão





Manga





Papaia





Outros frutos (especifique):





* Ver outros nomes vulgares no Anexo 1, página 278.

3. Faz criação de animais? Quais?

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4. Quantos são os membros da família?

a) Adultos: .......................
b) Crianças (tomar nota das crianças com menos de 15 anos, especificando a idade)

5. Quais são as pessoas que trabalham:

a) nas áreas de cultivo? .......................
b) na horta ? ......................

6. Quem decide o que se deve cultivar:

a) nas terras de cultivo? .......................
b) na horta ? .......................

7. Quem dirige as actividades do dia-a-dia:

a) nas terras cultivo? .......................
b) na horta? .......................

8. Quais são os alimentos que consomem diariamente?

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9. Quais destes alimentos provêm da horta?

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10. Quais são os principais géneros alimentares que compram?

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11. Identifique três razões pelas quais a horta é importante?

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12. Quais são os três principais problemas que encontra para produzir uma grande variedade de alimentos na sua horta?

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13. Quais são as mudanças/melhoramentos que gostaria de fazer para produzir uma maior variedade de alimentos?

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NOTAS TÉCNICAS

Mensagens prioritárias

1

A horta é uma parcela de terra importante para as famílias africanas porque contribui significativamente para a sua segurança alimentar

2

Uma horta bem tratada preenche múltiplas funções

A horta é uma parcela de terra importante para as famílias africanas porque contribui significativamente para a sua segurança alimentar

Em muitas áreas húmidas e sub-húmidas de África, as hortas familiares são um elemento muito comum do sistema de produção alimentar. Em contrapartida, por causa da falta de água, as hortas são menos frequentes nas zonas áridas e semi-áridas de África.

Na maioria das comunidades africanas, a população local é tributária de uma ou duas culturas de base, tais como milho, milho-miúdo, sorgo arroz, tef, mandioca, inhame, batata-doce, banana-de-São-Tomé e banana-de-jardim. Estas culturas fornecem habitualmente o essencial (cerca de 60 a 80 %) da energia alimentar dos membros da família. Os produtos da horta completam os das culturas de base, acrescentam variedade ao regime alimentar e melhoram o seu valor nutritivo. Incluem geralmente raízes e tubérculos, hortaliças, leguminosas e frutos, ricos em micronutrientes - tais como as vitaminas A e C, ferro e por vezes vitamina B - e, nalguns casos, contêm quantidades apreciáveis de proteínas, óleo ou gorduras.

Os produtos da horta têm também uma função importante na segurança alimentar das famílias. Durante a estação pobre, quando os alimentos de base se esgotaram e a nova colheita ainda não está pronta, os produtos da horta podem permitir restabelecer as provisões alimentares da família. Ao contrário das culturas nos campos, e se houver água suficiente para a rega, os produtos da horta podem ser cultivados e estar disponíveis para consumo da família durante todo o ano. Para uma discussão pormenorizada dos factores que afectam a segurança alimentar e a nutrição das famílias, ver a Sessão 4.

Uma horta bem tratada preenche múltiplas funções

Ao caminhar-se a pé pela maior parte das aldeias, podem encontrar-se hortas bem tratadas. As famílias com hortas bem tratadas têm ideias, competências e os recursos necessários para produzir diferentes culturas; por exemplo, algumas culturas de base como as de raízes e tubérculos, leguminosas, legumes e frutos. Criam gado e, por vezes, praticam a piscicultura. Sabem como combinar plantas, nomeadamente as plantas altas com as plantas baixas, ou ainda as plantas que atingem a maturidade em épocas diferentes. Os seus animais

consomem plantas provenientes da horta e restituem ao solo nutrientes através do estrume. Para além da produção de alimentos, estas hortas são fonte de rendimentos através da venda dos produtos; fornecem também factores de produção para o desenvolvimento das actividades agrícolas, e produtos tais como especiarias, ervas e plantas medicinais. Por fim, proporcionam ainda espaço de processamento, preparação e armazenamento dos alimentos.

Rendimentos da venda dos produtos da horta. A venda dos produtos da horta pode trazer um contributo substancial ao orçamento familiar, especialmente durante certos períodos do ano quando as fontes de trabalho ou de rendimentos são limitadas, ou ainda quando as colheitas são más devido a catástrofes naturais (cheias, infestação por pragas, doenças dos animais ou doenças na família). Nestes períodos, o rendimento da horta pode ser usado para comprar alimentos que a família não pode produzir, variando assim as refeições e complementando a produção. O rendimento proveniente das hortas pode pagar artigos e serviços essenciais ao dia-a-dia, tais como sabão, roupa, custos relativos à escolaridade dos filhos, medicamentos e factores de produção agrícola que a família não pode produzir.

Factores de produção para as actividades de desenvolvimento agrícola. Importantes actividades de desenvolvimento agrícola têm lugar nas hortas e geram factores de produção para outras actividades. Por exemplo, uma horta familiar pode produzir sementes de legumes, ou mesmo materiais de plantação, como podas de batata-doce ou de mandioca e plantas de árvores de fruto. Quando os animais fazem parte da horta (por exemplo ovelhas, cabras, aves de capoeira e, por vezes, vacas e porcos), fornecem alimentos, rendimentos, estrume e força de tracção. Por sua vez, os animais aproveitam os desperdícios de plantas não utilizadas, tais como a palha dos cereais, talos das diversas hortícolas incluindo as leguminosas. A horta é também um lugar para experimentar novas culturas e novas técnicas agrícolas.

Produtos não alimentares. Quando as condições climáticas permitem, e isso possa representar interesse no plano de cultivo, podem ser cultivados produtos não alimentares tais como ervas medicinais, especiarias e flores. As árvores e os arbustos da horta dão sombra e servem de protecção do vento e de barreiras contra os animais à solta; fornecem também materiais para vedações, para a construção e lenha.

Espaço de processamento e de armazenagem. A horta é também um lugar que pode servir para processamento e armazenagem. Para beneficiar durante todo o ano de um aprovisionamento estável de cereais e de culturas leguminosas, as famílias precisam de instalações adequadas para o processamento e armazenagem dos alimentos. As estruturas de armazenagem para cereais e leguminosas, situadas muitas vezes dentro do espaço da habitação, devem ser bem construídas, de modo a evitar perdas de alimentos causadas por insectos, ratos e outras pragas, bem como a deterioração dos alimentos devida a fungos ou ao apodrecimento.

FIGURA 1.2
Uma horta familiar africana


[2] A primeira visita pode começar pela casa, só depois indo à horta, no caso de esta ficar longe.

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