FAO no Brasil

Precisamos libertar o potencial dos jovens africanos em prol do desenvolvimento sustentável, diz Graziano da Silva

FAO / Luis Tato
22/08/2018
  • Diretor-Geral da FAO enfatiza necessidade de criar mais empregos para jovens e capacitar  áreas rurais para o uso das novas tecnologias digitais

Kigali – A juventude africana é personagem fundamental no desenvolvimento sustentável do continente. Segundo o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, a compreensão desse imenso potencial pede a criação urgente de mais empregos para os jovens, em especial nos setores agrícolas, cada vez mais digitalizados.

"Precisamos tomar medidas para tornar a agricultura mais atraente para os jovens. Eles devem perceber a agricultura como um setor remunerado e lucrativo. A disseminação das tecnologias de informação e comunicação (TICs) nas áreas rurais desempenha um papel chave nesse sentido", disse Graziano da Silva.

As declarações foram feitas durante a abertura da conferência internacional Youth Employment in Agriculture as a Solid Solution to ending Hunger and Poverty in Africa, em Kigali. O evento de dois dias, que é co-organizado pelo Governo do Ruanda, a União Africana e a FAO, tem o foco voltado para a geração de empregos para a juventude, para as TICs e para o empreendedorismo.

Entre os principais oradores da conferência estavam a Ministra da Agricultura e Recursos Animais de Ruanda, Geraldine Mukeshimana, a Comissária da União Africana para a Economia Rural e Agricultura, Josefa Leonel Correia Sacko e o Director-Geral da Organização para o Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas, Li Yong.

À medida que a população da África cresce, aumenta a demanda por alimentos

Graziano da Silva alerta que a demanda por alimentos na África está projetada para crescer mais de 50% nos próximos anos, graças ao contínuo crescimento populacional, a rápida urbanização e as mudanças na dieta da população à medida que a renda das famílias aumenta. O Banco Mundial espera que o agronegócio africano crie um mercado de US $ 1 trilhão até 2030.

Os setores agrícolas têm, assim, "um potencial inestimável e inexplorado para enfrentar o desafio do desemprego entre os jovens. Mas é sabido que a juventude que busca um sustento digno dentro da agricultura enfrenta numerosas restrições", lamentou Graziano da Silva.

Os jovens geralmente são empregados em uma base casual ou sazonal na região, com acesso limitado em vários âmbitos, como a educação relevante, treinamento técnico, financiamentos, informação e mercados, além do baixo envolvimento nos processos de tomada de decisão de seus países.

"Essas restrições tornam-se um gargalo que também os impede de iniciar seus próprios negócios na agricultura. Como resultado, os jovens rurais estão migrando", disse ele.

Preparar jovens para o mercado de trabalho

 "Nos próximos anos, mais e mais atividades agrícolas exigirão habilidades digitais", disse ele. As cooperativas, ou outras formas de associação, representam "a melhor maneira de fornecer assistência técnica, capacitação e acesso a tecnologias modernas para os agricultores familiares e jovens profissionais".

O diretor-geral da FAO também afirmou que há uma necessidade de "pensar além dos empregos no campo" e explorar oportunidades de trabalho em toda a cadeia agroalimentar. A crescente demanda por produtos de alto valor em áreas urbanas também oferece múltiplas oportunidades de emprego no processamento, distribuição, marketing e varejo de produtos alimentícios.

Conseguir isso requer "um novo tipo de transformação rural", o que significa equipar as áreas rurais com serviços básicos como educação, saúde, eletricidade, acesso à internet e assim por diante. "Esses serviços são, eles próprios, outra fonte importante de emprego, especialmente para mulheres e jovens", apontou Graziano da Silva.

O papel da FAO

O diretor-geral disse aos participantes presentes na conferência que a FAO continuará a fortalecer suas atividades para ajudar os países a alcançarem seus potenciais agrícolas e criarem sistemas alimentares que gerem mais oportunidades de emprego para os jovens.

Em particular, a FAO pode ajudar os países a desenvolver e implementar estruturas legais e regulatórias e serviços para inclusão de jovens, bem como treinamento em alfabetização financeira, desenvolvimento e gerenciamento de negócios, e em soluções inovadoras de finanças digitais.