FAO no Brasil

O direito à alimentação saudável deve ser uma dimensão fundamental para o Fome Zero, diz Graziano da Silva

18/02/2019

Los Angeles – A luta pela erradicação da fome no mundo requer uma nova abordagem que inclua, em suas diretrizes, o direito a uma alimentação saudável. A afirmação foi feita pelo Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, José Graziano da Silva, durante uma palestra na Faculdade de Direito da Universidade da Califórnia (UCLA), na última sexta-feira.

 

“Precisamos reposicionar nossos sistemas alimentares que visam apenas fornecer comida, para sistemas que visam nutrir as pessoas”, disse Graziano da Silva durante a palestra. “De acordo com nossos últimos números, a obesidade e o excesso de peso estão crescendo mais rapidamente que a fome. É uma epidemia. O direito à alimentação saudável deve ser uma dimensão fundamental para a fome zero e para o direito à alimentação em si”, completou.

 

De acordo com o Diretor-Geral, assegurar o direito à alimentação adequada é mais do que ter comida suficiente sobre a mesa. Significa capacitar as pessoas a se alimentarem e a alimentarem suas famílias com dignidade. Trata-se de garantir que todas as crianças, em todos os lugares, tenham acesso a dietas saudáveis para que possam atingir seu pleno potencial.

 

Durante a palestra, Graziano da Silva contou que, no início dos anos 2000, como pós-doutorando na UC Santa Cruz, observou algumas práticas de sucesso na Califórnia, como os bancos de alimentos e os circuitos locais de produção e consumo que, mais tarde, o ajudaram para que afinasse a arquitetura do Programa Fome Zero no Brasil.

 

Hilal Elver, Relatora Especial da ONU para o Direito à Alimentação e bolsista do Centro de Liberdade de Alimentos e Política Alimentar da Faculdade de Direito da UCLA, destacou o Fome Zero durante sua introdução à palestra de Graziano. “Experimentamos várias políticas positivas de alimentos garantindo o direito à alimentação em todo o mundo e isso ficou particularmente evidente na América Latina.

 

Segundo Elver, o governo brasileiro, em um período de 15 anos, tirou 20 milhões de cidadãos da pobreza extrema e, desde 2015, o país não faz mais parte do Mapa da Fome da FAO.

 

Direito à alimentação e dietas saudáveis

 

O Direito à Alimentação está incluído na Declaração Universal dos Direitos Humanos, que foi endossada por todos os países há mais de 70 anos. Também é garantido em muitos instrumentos internacionais e constituições nacionais. No entanto, os números globais de desnutrição mostram que muitas pessoas não têm acesso regular a uma dieta saudável.

 

A quantidade de pessoas subnutridas no mundo aumentou nos últimos três anos para 821 milhões. Mais de 150 milhões de crianças com menos de cinco anos sofrem de problema de crescimento, 99 milhões de crianças estão abaixo do peso e 50 milhões estão perdendo peso. Ao mesmo tempo, a obesidade está aumentando rapidamente, com 672 milhões de adultos obesos em todo o mundo, no ano de 2017. Conflitos e mudanças climáticas são os principais impulsionadores do aumento da desnutrição.

 

A palestra do Diretor-Geral, "Uma perspectiva global sobre regulamentação e promoção da nutrição" foi organizada pela Faculdade de Direito da UCLA.