FAO no Brasil

Seminário da FAO debate a importância da digitalização no campo e desafios da ATER Digital

09/11/2021

Na manhã desta terça-feira (9), o escritório sul da FAO no Brasil promoveu o seminário “ATER Digital – Construção e Perspectivas”, com o objetivo de debater as alternativas metodológicas e instrumentais da Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) para a prestação de serviços no contexto do desenvolvimento sustentável e transferência de tecnologia pós-Covid-19. Palestraram no evento representantes da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER-MG), do Instituto BioSistêmico (IBS) e do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná).

Durante a abertura do seminário, o Representante da FAO no Brasil, Rafael Zavala, destacou que a digitalização não serve para substituir o extensionismo, mas sim para reforçá-lo. “Os dois grandes desafios do extensionismo têm sido a cobertura (quantidade) e a eficiência (qualidade). Sem dúvida, a digitalização pode ser a grande ferramenta para melhorar esses dois desafios”.

Hur Ben Corrêa, do escritório sul da FAO, também explicou que a pandemia de covid-19 acelerou o processo de transformação digital, e que o campo não ficou de fora dessa discussão. Neste contexto atual, o serviço de ATER também precisa aprimorar suas práticas.

O consultor da FAO, Kleber Pettan, apresentou o referencial teórico utilizado para analisar as potencialidades e desafios do processo da transformação digital para o serviço de ATER no Brasil, e mostrou que, atualmente, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) já fazem parte do cotidiano dos agricultores familiares, mas precisam ser rápidas e confiáveis, integrando os três pilares: pessoas, processos e tecnologia.

A experiência da EPAGRI foi apresentada por Humberto Bicca Neto, que trouxe os resultados da implementação da ATER Digital em Santa Catarina. Segundo o balanço de 2020, cada real investido pela EPAGRI em tecnologia para ações online, gerou um retorno de R$6,92 para a sociedade. “Estamos vivendo uma oportunidade única, e sabemos que ainda há muito o que avançar no uso das tecnologias para um sistema híbrido que permita gerar maior aproximação e contato com os produtores”, explicou.

Helena Silva, da EMATER-MG, trouxe a experiência do sudeste e reforçou que a implementação deve estar diretamente conectada a uma capacitação da equipe de extensionistas. “Para seguir avançando, precisamos disponibilizar mais equipamentos, ampliar o alcance da capacitação e otimizar instrumentos para verificar o alcance dos resultados”, reforçou.

Já a experiência do Paraná foi apresentada pelo IDR-Paraná, e Milton Satoshi Matsushita mostrou que já existem diversas iniciativas que possibilitam uma integração maior não apenas entre as áreas de atuação da instituição, mas também entre organizações parceiras. No entanto, para seguir consolidando estas iniciativas, é preciso um olhar atento para os desafios operacionais e humanos.

Herlon Goelzer, também do IDR-Paraná, ainda explicou como funciona a implementação estrutural para otimizar a conectividade no campo, e os desafios para ampliação da estrutura nas unidades produtivas. “O nó e a dificuldade não estão na tecnologia, o problema é como fazer, bancando o custo de implementação com crédito rural, compartilhando o custo com instituições financeiras que aceitem a modelagem”.

Já Claudio Pinheiro, do IBS, apresentou a proposta do Instituto de desenvolvimento de uma plataforma customizável a diferentes realidades, que ofereça a possibilidade de identificar desafios e prover soluções e ferramentas de suporte para o desenvolvimento da produção e qualificação dos agricultores familiares. Com a implementação da tecnologia, mais de 4 mil propriedades já se beneficiaram da tecnologização do campo.

Durante o debate final do seminário, Valter Bianchini, do escritório sul da FAO, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) desempenham um papel importante no fortalecimento da produção e pós-produção de pequenos agricultores, principalmente no pós-pandemia. “Precisamos olhar com atenção para o uso das TICs para facilitar os pagamentos, ampliar a possibilidade de entrega dos produtores, para que a agricultura familiar tenha à sua disposição tecnologias que ajudem a avançar na renda e na otimização de processos”, defendeu.

Adriana Gregolin, coordenadora de projetos da FAO Américas, fez novamente a pergunta “o que é necessário para avançar na ATER Digital?”, e pontuou que a infraestrutura é essencial. “Temos que avançar na conectividade do campo, ofertar aparelhos para que os técnicos e produtores possam ter facilidade, além de trabalhar a regulamentação desta conectividade e a criação de conteúdos que possam ser difundidos nas redes digitais”.

Por fim, Argileu Martins da Silva, da EMATER MG, deixou uma reflexão sobre a ATER do futuro, e mencionou que ela precisa caminhar junto com este processo de digitalização. “Este processo precisa estar focado na renda dos produtores, no ponto de vista social inclusivo, sem excluir produtores. E do ponto de vista ambiental, a ATER digital precisa ter como enfoque a produção integrada à preservação, e a regeneração, um processo totalmente possível”.

O evento foi transmitido via Zoom e contou com participantes do Brasil, Paraguai, Bolívia e Colômbia. Em breve a gravação estará disponível pelo YouTube da FAO.