FAO no Brasil

Não podemos garantir segurança alimentar sem uma gestão adequada dos recursos hídricos

©FAO/Max Valencia
06/02/2023

Precisaremos de pelo menos 1/3 a mais de água doce para atender à demanda mundial por alimentos, diz FAO. 

Santiago – A América Latina e o Caribe concordaram com a criação e implementação de uma Agenda Regional de Ação pela Água. O objetivo da resolução é avançar no cumprimento do ODS 6, o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável que busca garantir a disponibilidade e a gestão sustentável da água e do saneamento para todo o mundo.  

O acordo foi celebrado no âmbito da terceira edição dos Diálogos Regionais da Água na América Latina e no Caribe, que ocorreu entre os dias 1 e 3 de fevereiro na sede da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), em Santiago, no Chile.

Segundo estimativas da FAO, até 2050, a produção mundial de alimentos terá de crescer 50% em relação a 2012 para atender à crescente demanda mundial do setor. Se as condições atuais seguirem como estão, será necessário pelo menos 35% a mais de água doce ", disse Mario Lubetkin, Representante Regional da FAO para América Latina e o Caribe. Em sua participação no evento, ele destacou a importância deste recurso hídrico para garantir a segurança alimentar em todo o mundo.

"Relatórios recentes estimam que 80% de todos os prejuízos e danos causados pela seca ocorrem em países de baixa e média renda, e 35% das perdas globais de alimentos devido à seca ocorrem na América Latina e no Caribe. Isto representa perdas de produção estimadas em aproximadamente US$ 13 bilhões", disse o representante.

Neste sentido, Lubetkin destacou que, sem uma gestão adequada da água, não será possível implementar os cinco eixos de ação estabelecidos na Cúpula das Nações Unidas sobre Sistemas Alimentares, que são: Garantir o acesso a alimentos saudáveis e nutritivos para todas e todos; Adotar padrões de consumo sustentáveis; Promover uma produção que respeite o meio ambiente; Promover meios de vida eqüitativos; e Desenvolver resiliência a vulnerabilidades, crises e conflitos.  

A adoção da Agenda Regional de Ação pela Água permitirá aos países da América Latina e do Caribe chegar com contribuições compartilhadas e uma única posição na Conferência das Nações Unidas sobre Água, que será realizada em março deste ano na sede da ONU em Nova Iorque.

A Agenda destaca que a região precisa avançar em direção a uma transição sustentável e inclusiva da água, baseada em quatro pilares de ação: Garantir o direito humano à gestão segura da água potável e ao saneamento através de um grande estímulo ao investimento no setor, não deixando ninguém para trás; Promover mudanças regulatórias e políticas para fomentar o acesso equitativo e acessível e, assim, erradicar a pobreza hídrica, por meio de instrumentos inovadores, incluindo tarifas sociais; Reverter as crescentes externalidades negativas associadas à poluição, exploração excessiva e aos conflitos socioambientais, promovendo a fiscalização e a regulamentação; dentre outras.

Este diálogo realizado pela CEPAL segue o evento Global Water Dialogues organizado pela FAO em Roma, em novembro do ano passado, que concluiu que água, saneamento, saúde, ecossistemas, oceanos, energia, sistemas alimentares e nutrição estão totalmente interligados.

Água, um recurso em crise

As mudanças climáticas estão atualmente exercendo uma pressão sem precedentes sobre os recursos hídricos do mundo. Segundo dados da FAO, 300 milhões de pessoas vivem atualmente em países que sofrem de escassez de água, e mais de 733 milhões de pessoas - aproximadamente 10% da população mundial - vivem em países afetados por alto e grave estresse hídrico. Nos últimos anos, temos visto o impacto do clima sobre a água, com inundações e secas nunca antes vistas em muitos países e regiões.

Além disso, a agricultura depende dos recursos hídricos e é responsável por 72% das captações globais de água doce, juntamente com outros setores econômicos, tornando-a um elemento essencial da Agenda para o Desenvolvimento Sustentável de 2030. Embora a consciência da importância da água para a agricultura e para o desenvolvimento sustentável tenha aumentado, a FAO defende que uma ação mais eficaz, integrada e coordenada, aliada a uma forte vontade política de reconhecer, valorizar e administrar os recursos hídricos de forma holística e integrada, ainda é necessária para alcançar todos os ODS.