FAO no Brasil

Índice de Preços dos Alimentos da FAO cai pelo 11º mês consecutivo

O setor pecuário na Etiópia foi duramente atingido pela seca. | ©FAO/Michael Tewelde
03/03/2023

As primeiras perspectivas apontam para uma safra abundante de trigo em 2023

Roma – O índice de referência internacional do preços dos alimentos caiu em fevereiro pelo 11º mês consecutivo, embora apenas ligeiramente, informou hoje a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). 

O Índice de Preços dos Alimentos da FAO teve média de 129,8 pontos em fevereiro, ou seja, ligeiramente menor (0,6%) do que em janeiro, mas 18,7% abaixo do pico atingido em março de 2022. A queda do índice, que mostra a variação mensal dos preços internacionais dos produtos alimentares mais comercializados, refletiram quedas nos preços dos óleos vegetais e dos lacticínios, que mais do que compensaram a forte subida dos preços.

O Índice de Preços dos Cereais da FAO foi praticamente o mesmo de janeiro. Os preços internacionais do trigo aumentaram ligeiramente durante o mês, uma vez que as preocupações com as condições de seca nos Estados Unidos da América e a demanda robusta por suprimentos da Austrália foram amplamente compensadas pela forte concorrência entre os exportadores. Os preços internacionais do arroz caíram 0,1% devido às atividades comerciais mais lentas na maioria dos principais países exportadores da Ásia, cujas moedas também se desvalorizaram em relação ao dólar americano.

O Índice de Preços do Óleo Vegetal da FAO caiu 3,2% em relação a janeiro, e os preços mundiais dos óleos de palma, soja, girassol e colza também caíram.

O Índice de Preços de Lácteos da FAO caiu 2,7% no mês, com as cotações internacionais de manteiga e leite em pó desnatado registrando as quedas mais acentuadas.

O Índice de Preços da Carne da FAO também ficou quase inalterado em relação a janeiro. Os preços mundiais da carne de aves continuaram a cair em meio a ampla oferta de exportação, apesar dos surtos de gripe aviária em vários dos principais países produtores, enquanto os preços da carne suína subiram, principalmente devido a preocupações com a escassez de suprimentos exportáveis ​​na Europa.

Por outro lado, o Índice de Preços do Açúcar da FAO aumentou 6,9% em relação a janeiro, atingindo seu nível mais alto em seis anos, principalmente devido à revisão para baixo da previsão de produção para 2022-23 na Índia, bem como à queda nos preços internacionais de petróleo bruto e etanol no Brasil.

Perspectivas iniciais de produção para as safras de trigo de 2023

Em sua nota informativa sobre oferta e demanda de cereais, também divulgada na sexta-feira, a FAO divulgou sua previsão inicial para a produção mundial de trigo em 2023, prevendo uma produção mundial resultante de 784 milhões de toneladas, que seria a segunda maior safra já registrada, embora inferior ao ano anterior. Uma safra abundante é esperada na América do Norte, já que os agricultores aumentaram a área plantada em resposta aos altos preços dos grãos.

Nos países do hemisfério sul, as perspectivas de produção para as safras de grãos grossos de 2023 são geralmente favoráveis, e as plantações agregadas de milho no Brasil devem aumentar para um nível recorde.

A FAO também reviu em alta a sua previsão para a produção mundial de cereais em 2022 para 2,774 milhões de toneladas, valor ainda 1,3% inferior ao de 2021.

Prevê-se que a utilização mundial de cereais em 2022-23 seja de 2,78 bilhões de toneladas, uma queda de 0,6% em relação à temporada anterior, em grande parte devido a uma contração antecipada da utilização de todos os principais grãos grossos.

A FAO prevê que os estoques mundiais de grãos que terminam em 2023 diminuam 1,2% em relação aos níveis de abertura, uma redução para 844 milhões de toneladas, já que se espera que os declínios previstos nos estoques de cereais secundários, e, em menor escala, de arroz, compensem o aumento esperado nos estoques de trigo. De acordo com as novas projeções, a relação reservas/utilização globais de cereais permaneceria em 29,5%, o que é considerado um “nível geralmente confortável”.

Segundo as previsões, o comércio de grãos deve contrair 1,8%, para 473 milhões de toneladas.

Perspectivas de safra e situação alimentar

Secas, conflitos e preços altos, juntamente com problemas macroeconômicos, estão exacerbando a insegurança alimentar em muitos países. As avaliações realizadas confirmam que um total de 45 países em todo o mundo precisam de ajuda alimentar externa, de acordo com o último relatório Perspectivas de safra e situação alimentar, uma publicação trimestral do Sistema Mundial de Informação e alerta sobre a Alimentação e a Agricultura (SMIA) da FAO, também publicado hoje.

Algumas pessoas em seis países estão experimentando, ou devem experimentar em breve, níveis elevados de insegurança alimentar aguda, definida como Fase 5 da Classificação Integrada em Fases da Segurança Alimentar Integrada (IPC), ou fome catastrófica: Burkina Faso, Haiti, Mali, Nigéria, Somália e Sudão do Sul. Outros milhões enfrentam fome severa, de acordo com o relatório.

Embora o Índice de Preços dos Alimentos da FAO tenha diminuído ligeiramente nos últimos meses, a inflação interna dos preços dos alimentos se encontra em níveis extremamente altos em muitos países. Por exemplo, os preços dos grãos grossos em Gana em janeiro foram 150% mais altos do que no ano anterior, e os preços dos grãos atingiram recordes no Malawi e na Zâmbia. Segundo o relatório, o aumento total da produção de cereais nos 47 países de baixa renda e com déficit alimentar (LIFDCs) na atual safra ajudou a mitigar o impacto do aumento dos preços mundiais de alimentos básicos, mas o declínio da produção e a fraqueza da moeda em muitos outros manterão o custo das importações de alimentos dos LIFDCs em níveis elevados.

No relatório Perspectivas de cultivos e situação alimentar, são oferecidos mais conclusões extraídas de todo o mundo, destacando a situação alarmante na África Oriental, que está passando pela pior seca em 40 anos.