FAO no Brasil

FAO disponibiliza dados desagregados sobre o custo da alimentação saudável no mundo.

©FAO/Max Valencia
01/03/2023

O portal de dados FAOSAT traz informações detalhadas sobre o alto custo da alimentação saudável na América Latina e no Caribe em comparação com outras regiões.

Roma – A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) tornou públicos os indicadores desagregados por país sobre o custo da alimentação saudável – e por grupos de alimentos – e o número de pessoas que não conseguem acesso a ela. Os dados servem para lembrar que, apesar dos avanços registrados quanto ao fornecimento de calorias suficientes para alimentar a população mundial, ainda há um longo caminho a percorrer no sentido de garantir, de forma sustentável, a nutrição para todas as pessoas em todo o mundo.

A FAO realizou, recentemente, uma análise ampla sobre o número de pessoas que, de fato, podem pagar uma alimentação saudável, oferecendo uma diversidade de alimentos ricos em nutrientes, de acordo com as diretrizes dietéticas.

Os indicadores desenvolvidos pela FAO com contribuições-chave de pesquisadores da Universidade Tufts e do Banco Mundial revelam, por exemplo, que a América Latina e o Caribe têm o maior custo de uma alimentação saudável em comparação com outras partes do mundo. Em 2020, o valor era de USD 3,89 por pessoa por dia; seguido da Ásia (USD 3,72), África (USD 3,46), América do Norte e Europa (USD 3,19) e Oceania (USD 3,07).

Entre 2019 e 2020, a Ásia registrou o maior aumento no custo de uma alimentação saudável (4,0%), seguida pela Oceania (3,6%), América Latina e pelo Caribe (3,4%), pela América do Norte e Europa (3,2%) e África (2,5%).

Quase 3,1 bilhões de pessoas não puderam pagar uma alimentação saudável em 2020, isso representa um aumento de 112 milhões de pessoas em comparação a 2019. Esse aumento foi registrado principalmente na Ásia, onde um adicional de 78 milhões de pessoas não tiveram recursos para arcar com uma alimentação saudável, seguido pela África (mais 25 milhões de pessoas) e, em menor escala, América Latina e Caribe, e América do Norte e Europa (8 milhões e 1 milhão de pessoas a mais, respectivamente).

Em 12 países, todos eles na África, mais de 90% da população não consegue ter acesso a uma alimentação saudável com regularidade.

O mesmo ocorre com mais da metade da população em 53 dos países onde os dados estão disponíveis. Esse número é inferior a 1% em 26 países.

Disponível para todas as pessoas

O conjunto de indicadores pode agora ser facilmente consultado e acessado por meio do banco de dados da FAO. O FAOSTAT é a maior plataforma de dados do mundo sobre alimentação e agricultura, com quase 20.000 indicadores referentes a mais de 245 países e territórios.

Os processos para o cálculo, o monitoramento e a divulgação dos relatórios de indicadores em níveis global, regional e nacional sobre os custos e a acessibilidade de uma alimentação saudável estão agora institucionalizados e serão atualizados regularmente pela FAO. Essa ação representa uma nova e valiosa referência para o acompanhamento do progresso global rumo à garantia de uma alimentação saudável para todas as pessoas.

Esses indicadores se baseiam em um conjunto integrado de dados, calculados a partir de variáveis que incluem preços de varejo de alimentos disponíveis localmente e diretrizes alimentares, padrões de distribuição da renda familiar do país e as fórmulas necessárias para estabelecer a paridade do poder de compra.

"Acabar com a fome, a insegurança alimentar e a má nutrição em todas as suas formas (incluindo a desnutrição, deficiências de micronutrientes, sobrepeso e obesidade) é mais do que obter alimentos suficientes para sobreviver: o que as pessoas comem também deve ser nutritivo", disse David Laborde, Diretor da Divisão de Economia Agroalimentares da FAO. "Entretanto, um dos principais obstáculos é o alto custo dos alimentos nutritivos e o pouco acesso a uma alimentação saudável para um grande número de pessoas em todo o mundo".

"Acompanhar o custo e a acessibilidade de uma alimentação saudável é um passo à frente no processo de reconhecimento da necessidade de nutrir e não apenas alimentar o mundo", disse Lynnette Neufeld, Diretora da Divisão de Alimentos e Nutrição da FAO. "Esta nova metodologia também nos proporciona o ponto de partida para gerar evidências relevantes, em nível local, que sirvam para orientar políticas e programas destinados a tornar a alimentação saudável acessível a todas as pessoas em todos os momentos".

Esta iniciativa da FAO sobre o custo da alimentação saudável e o acesso a ela é parte de um conjunto mais amplo de atividades que contribuirão para alcançar um dos quatro objetivos da FAO em seu Marco Estratégico 2022-2031: uma melhor nutrição.

"Quantificar e monitorar sistematicamente o custo da alimentação saudável, além de acompanhar os avanços na garantia da acessibilidade econômica a ela é de suma importância e uma necessidade premente". A FAO deu um passo à frente e assumiu esta tarefa", disse José Rosero Moncayo, Diretor da Divisão de Estatística da organização.

Como funciona

A FAO calcula oito indicadores relacionados ao custo e à acessibilidade.

Uma alimentação saudável fornece não apenas as calorias certas, mas também os tipos certos de alimentos ricos em nutrientes de uma variedade específica de grupos de alimentos, conforme recomendado nas diretrizes dietéticas baseadas em alimentos. A alimentação de referência é calculada com base em um adulto “representativo” consumindo 2.330 quilocalorias por dia, uma abordagem comumente usada em diretrizes dietéticas baseadas em alimentos. Os alimentos de menor custo disponíveis localmente, em porções recomendadas para seis grupos de alimentos (básicos, vegetais, frutas, alimentos de origem animal, leguminosas, nozes e sementes e óleos e gorduras) constituem a alimentação saudável de referência.

O preço ao consumidor desses alimentos é obtido do Programa de Comparação Internacional (PCI) do Banco Mundial e é atualizado usando os índices nacionais de preços ao consumidor de alimentos. Para comparações internacionais, os preços são convertidos em dólares internacionais usando taxas de câmbio de paridade de poder de compra e distribuições de renda nacional. O limite de acessibilidade é definido como 52% dos gastos médios das famílias.

Perspectivas para o futuro

A disponibilidade desses indicadores em níveis global, regional e nacional constitui a base para uma maior transparência, através da utilização de dados adequados sobre os preços de varejo de produtos alimentícios nutritivos em todos os países do mundo. Futuramente, o trabalho servirá para acelerar a atualização dos dados sobre preços dos alimentos.

Esta iniciativa é parte do amplo compromisso da FAO em gerar dados objetivos para orientar os países sobre suas políticas alimentares e nutricionais. A FAO incentiva seus membros e todas as partes interessadas a ampliar o cálculo e a apresentação desses indicadores em nível local, contribuindo assim para a elaboração de políticas e programas mais adaptados e com maior impacto no território.

A edição de 2023 do relatório O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo será publicada em julho.