FAO no Brasil

Mulheres algodoeiras da América Latina compartilham experiências e desafios em evento virtual e discutem ações conjuntas na região

28/03/2023

A atividade foi promovida pela Rede Latino-Americana de Mulheres Algodoeiras e pelo projeto regional +Algodão.

Santiago do Chile, 27 de marco de 2023 - Mulheres do setor algodoeiro dos países da América Latina se reuniram no dia 24 de março para um evento virtual onde compartilharam experiências e discutiram os desafios e lacunas que ainda enfrentam na cadeia do algodão na região. O webinar regional Mulheres do Algodão: empoderamento econômico para cadeias de valor com enfoque de gênero transformador, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, foi promovido pela Rede Latino-Americana de Mulheres do Algodão e pelo projeto regional +Algodão, do Programa de Cooperação Internacional Brasil - FAO. 

O projeto regional +Algodão é desenvolvido em conjunto pela Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e sete países parceiros: Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Haiti, Paraguai e Peru. 

Participaram do evento agricultoras, artesãs, técnicas de campo, pesquisadoras, empresárias, gestoras de políticas públicas, especialistas de organismos internacionais, entre outras mulheres que fazem parte dos diversos elos que compõem essa cadeia. 

Na abertura, Mariana Falcão, analista de projetos da ABC/MRE, destacou a importância do evento para comemorar as conquistas alcançadas e disse que a Agência “tem trabalhado com a FAO e a ONU Mulheres Brasil para fortalecer políticas e ações de inclusão social de mulheres agricultoras familiares e seu empoderamento na cadeia produtiva do algodão”. A analista também ressaltou as ações executadas por meio da aliança entre o governo brasileiro e a FAO no âmbito do projeto +Algodão “que permitem apoiar o desenvolvimento das mulheres produtoras de algodão no cenário internacional”. 

Por sua vez, o oficial sênior de políticas do Escritório Regional da FAO para a América Latina e o Caribe, Luiz Carlos Beduschi, comentou sobre a relevância do encontro regional e destacou o compromisso da FAO com a igualdade de gênero, apoiando os países na geração de melhores capacidades e promovendo o acesso a bens e serviços para mulheres e homens do meio rural. “Esse tema no âmbito do Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO é fundamental; e o projeto +Algodão é um dos principais exemplos importantes de como a temática tem sido incorporada, trabalhada e fortalecida na agenda da região”, afirmou. 

Lívia Salles, gerente de projetos da ONU Mulheres Brasil, afirmou que as mulheres do campo em toda a sua diversidade “são fundamentais para alcançar mudanças sociais e econômicas, e também climáticas, e avançar para o desenvolvimento sustentável”. Ela comentou que, segundo dados da FAO, as mulheres do campo são responsáveis ​​por mais da metade da produção de alimentos e representam 43% da força de trabalho no campo no mundo. Segundo Salles, as mulheres do campo enfrentam vários desafios ao redor do mundo no acesso à terra, insumos, água, sementes, acesso a tecnologias, assistência técnica. A gerente da ONU Mulheres Brasil chamou a atenção para o baixo reconhecimento dos papéis produtivos e reprodutivos que as mulheres desempenham em toda a cadeia. “Elas são responsáveis ​​pela maior parte do trabalho não remunerado”, destacando que as mulheres desempenham diversas tarefas como atividades domésticas, cuidar de animais, criar filhos, entre outras. 

Rede Latino-Americana de Mulheres do Algodão

No segundo painel, Adriana Gregolin, coordenadora do projeto +Algodão, apresentou as ações de gênero desenvolvidas desde 2013 no âmbito do projeto. Com a participação de mais de 100 instituições dos setores público e privado, o projeto visa apoiar a cadeia de valor do algodão para torná-la competitiva e posicionar o cultivo como fundamental na região, promovendo melhores condições de vida para as famílias agricultoras. “E quando falamos de famílias, estamos falando de mulheres, homens, jovens, meninos e meninas. Porque o setor é mais forte quando as famílias são mais fortes em termos sociais, econômicos e culturais”. A coordenadora destacou que as ações de gênero vão além da transversalização, e buscam realizar ações concretas e entregar resultados. Entre as ações promovidas pelo projeto +Algodão, destacou: o aumento da participação de mulheres em espaços associativos; agregação de valor e geração de receita; o fortalecimento das lideranças; bem como o fortalecimento de capacidades e assistência técnica especializada. 

Representando a Rede Latino-Americana de Mulheres do Algodão, Doriana Feulliade, do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA) da Argentina, apresentou os eixos estratégicos e os próximos passos da Rede, criada em 2022 com o objetivo de consolidar o trabalho conjunto para avançar em uma agenda para o empoderamento das mulheres algodoeiras, contribuindo para fortalecer seus meios de subsistência e seu papel em toda a cadeia. 

Entre os eixos estratégicos destacam-se: a visibilidade dos múltiplos papéis das mulheres; o reforço das capacidades técnicas; a articulação de mulheres algodoeiras de diversos países; a promoção do diálogo e troca de experiências e a mobilização de recursos. Feulliade também destacou as duas linhas de trabalho da Rede: o fortalecimento de capacidades e a comunicação para a promoção da mulher. “Nós integrantes dessa Rede somos mulheres que estamos construindo, compartilhando sonhos e não nos sentimos sozinhas. Nós tecemos nossas histórias e nosso futuro. ” 

Modelos de negócios e enfoque de gênero transformador

No painel técnico sobre modelos de negócios para a inclusão social da mulher na agricultura familiar e no setor artesanal da América Latina e Caribe, foram compartilhadas boas práticas que apoiam o empoderamento da mulher, com a participação de representantes da FAO, da Rede Argentina de Mulheres Algodoeiras e da Empresa de Extensão Rural e Assistência Técnica do Estado de Minas Gerais (Emater-MG). 

Em sua apresentação, a oficial de gênero da FAO, Claudia Brito, destacou que a proposta hoje da Organização é "entender a inclusão dos sistemas alimentares e cadeias de valor, como forma de garantir o direito das mulheres sempre e quando se adota uma postura um enfoque de gênero transformador”, disse Brito, destacando a necessidade de cadeias de valor, projetos, programas e investimentos públicos que potencializem a abordagem de gênero. 

Pela Rede Argentina de Mulheres do Algodão (RAMA), Débora Mascotena e Julia Pettinari, integrantes da equipe técnica do INTA, apresentaram como se estabelecem os preços do fio de lã na cadeia de valor têxtil artesanal e como pode servir de exemplo para a cadeia do algodão. Para a construção dos preços é levado em consideração: preço justo para todos e todas integrantes da cadeia; certificação em grupo da qualidade da produção; inovações tecnológicas que aumentam a qualidade dos produtos; gestão e administração coletiva de insumos estratégicos, entre outros. O RAMA é formado por representantes do governo, instituições representativas dos cotonicultores, fiandeiras, tecelãs e representantes comerciais. 

Do Brasil, Arquimedes Batista, da Emater-MG, apresentou o modelo de negócio para a inclusão social da mulher rural mineira, destacando a experiência de assistência técnica e agregação de valor desenvolvida em conjunto com a Associação Comunitária de Mulheres Quilombolas da Comunidade de São Sebastião do Município de Monte Azul. “Como extensionistas queremos melhorar tanto a parte produtiva quanto o trabalho de comercialização”, disse. 

Diálogos

No encerramento do evento, foi promovido um diálogo com depoimentos de mulheres da cadeia algodoeira que compartilharam seus desafios para promover o empoderamento econômico em toda a cadeia algodoeira da região. Participaram representantes do Brasil, Bolívia, Colômbia, Paraguai e Peru.