FAO no Brasil

Quase metade da população mundial vive em lares vinculados a sistemas agroalimentares

©FAO/Luis Sanchez
03/04/2023

Novo estudo da FAO revela que os sistemas agroalimentares oferecem emprego direto para 1,23 bilhões de pessoas.

 Roma - Quase 1,23 bilhões de pessoas trabalharam em sistemas agroalimentares no mundo inteiro em 2019, e mais do triplo desse número, ou quase metade da população mundial, vive em lares vinculados a sistemas agroalimentares, de acordo com novas pesquisas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

Deste total, 857 milhões de pessoas estavam envolvidas em produções agrícolas primárias, enquanto 375 milhões trabalhavam nos segmentos não agrícolas dos sistemas agroalimentares.

Os novos números, que integram a primeira estimativa global sistemática e documentada deste tipo, são extraídos de uma variedade de fontes e incluem dados sobre empregos integrais ou sazonais. Além disso, é feita referência aos sistemas agroalimentares e não aos setores agrícolas, refletindo a crescente importância das atividades não agrícolas na alimentação da população mundial, que hoje conta com 8 bilhões de pessoas.

"As agendas de políticas públicas e ações em nível nacional e global devem abordar os desafios enfrentados pelos sistemas agroalimentares de forma integrada. E, para estar à altura da tarefa, os dados devem ir além das abordagens compartimentadas (como os dados de emprego agrícola) para incluir todo o processo, desde a produção de alimentos, passando pela indústria e transporte, até chegar ao consumidor final – ou seja, tudo o que está por trás do que comemos", diz Ben Davis, Diretor da Divisão de Transformação Rural Inclusiva e Igualdade de Gênero da FAO e principal autor do relatório.

“Para que os sistemas agroalimentares sejam sustentáveis, é necessário levar em conta a nutrição, a saúde e a crise climática”, acrescentou.

O estudo, intitulado Estimating Global and Country Level Employment in Agrifood Systems (Estimando o nível de emprego global e nacional em sistemas agroalimentares), foi publicado como um documento de trabalho da Divisão de Estatísticas da FAO. Além de contar com uma equipe da FAO, ele foi preparado por Kate Schneider, da Escola Paul H. Nitze de Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins, Ramya Ambikapathi, do Departamento de Desenvolvimento Global da Universidade Cornell, e Paul Winters, da Escola Keough de Assuntos Globais da Universidade de Notre Dame.

O estudo adota uma abordagem padronizada utilizando modelos econométricos baseados em dados da Organização Internacional do Trabalho e validados com pesquisas domiciliares do banco de dados do Sistema de Informação sobre Meios de Subsistência Rural (RuLis) da FAO, como explicado no documento de trabalho. 

Principais resultados

A Ásia é o continente com o maior número de pessoas empregadas em sistemas agroalimentares, 793 milhões, seguido pela África com quase 290 milhões.

A maioria da população economicamente ativa nos países de baixa renda, especialmente na África, tinha pelo menos um emprego ou exercia algum tipo de atividade nos sistemas agroalimentares.

Se forem incluídas atividades comerciais e de transporte, 62% do emprego na África está relacionada aos sistemas agroalimentares, frente a 40% na Ásia e 23% nas Américas.

A participação do emprego em sistemas agroalimentares nos dados totais de emprego que não está diretamente nos setores agrícolas varia de 8% na Europa a 14% na África.

Na maioria dos países sobre os quais existem dados disponíveis em RuLis, os jovens, definidos como indivíduos de 15 a 35 anos, representam cerca da metade de todos os trabalhadores do sistema agroalimentar, e sua participação é muitas vezes maior na indústria alimentícia e na prestação de serviços.

Dos 3,83 bilhões de pessoas que dependem dos sistemas agroalimentares para sua subsistência, 2,36 bilhões vivem na Ásia e 940 milhões na África.

O primeiro ano da pandemia de Covid-19 levou a uma redução de 6,8% no número de pessoas empregadas em sistemas agroalimentares. O impacto da crise sanitária foi maior na América Latina, onde o emprego caiu 18,8%.

Em 13 de abril, a FAO publicará um relatório inédito intitulado Status of Women in Agrifood Systems (Situação da Mulher nos Sistemas Agroalimentares), no qual os dados sobre o emprego em sistemas agroalimentares são desagregados por sexo.

Histórico

A medição detalhada do emprego em sistemas agroalimentares fornece informações valiosas para a tomada de decisões, e a FAO espera reunir o apoio necessário para converter as últimas pesquisas em uma série contínua de dados estatísticos.

Os sistemas agroalimentares abrangem a produção agrícola primária de alimentos e produtos não-alimentares, a produção de alimentos de origem não agrícola, a cadeia de fornecimento de alimentos do produtor ao consumidor e o consumidor final de alimentos. Em todo o mundo, esses sistemas produzem cerca de 11 bilhões de toneladas de alimentos a cada ano e formam a espinha dorsal de muitas economias.

Dados robustos deste tipo são essenciais para garantir que a transformação dos sistemas agroalimentares gere novos empregos, particularmente em países de baixa renda com grande população jovem, e que o faça de forma equitativa.

Com o crescimento econômico dos países, a participação do emprego nos sistemas agroalimentares diminui. Isto se deve principalmente a uma redução no emprego no setor agrícola. A medida que os países passam de níveis de renda mais baixos para níveis mais altos, a participação da força de trabalho dos sistemas agroalimentares que se dedica diretamente à agricultura tende a diminuir, enquanto que a participação daqueles que se dedicam a empregos não agrícolas (no setor de processamento de alimentos, serviços, comércio e transporte) aumenta.

A FAO também constatou que a soma das pessoas envolvidas em atividades de trabalho secundárias ou atividades agrícolas domésticas nos sistemas agroalimentares – por exemplo, um professor em tempo integral que cultiva colheitas para venda - representa um aumento médio de cerca de 24% no número de pessoas cuja subsistência depende desses sistemas.