FAO no Brasil

FAO e Mapa dão início a projeto para fortalecer cultivo de cacau e conservar a Mata Atlântica

Mapa/Ceplac
15/05/2023

Ao longo de 4 anos, a iniciativa pretende revitalizar lavouras e beneficiar cerca de 3 mil produtores rurais do Sul da Bahia. 

Ilhéus - A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) no Brasil e o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) concluíram uma semana de atividades que marcaram o começo das ações do projeto “Conservação da Mata Atlântica por meio do manejo sustentável de paisagens agroflorestais com cacaueiras”. A iniciativa é fruto de parceria com a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira do Ministério da Agricultura e Pecuária (Ceplac/Mapa), e conta com investimentos de 4,7 milhões de dólares do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) 

Com implementação prevista para quatro anos, o projeto pretende promover a conservação da Mata Atlântica, a inclusão produtiva e a melhoria da qualidade de vida das populações rurais no sul da Bahia. Busca, ainda, dar visibilidade ao sistema cabruca, um modo de cultivo tradicional que utiliza a sombra de árvores nativas para a produção de cacau. A expectativa é atender 3 mil agricultoras e agricultores da região, revitalizar 50 mil hectares de lavouras de cacau e transformar 1,6 milhões de hectares de áreas produtivas. 

Na segunda-feira (08), ocorreu a cerimônia de lançamento do projeto em Salvador, que contou com a presença de representantes do governo da Bahia, da prefeitura da capital do estado, do poder Judiciário, cooperativa de produtores e da sociedade civil.  

Na abertura do evento, o representante da FAO no Brasil, Rafael Zavala, destacou o papel da agricultura familiar na produção de cacau sustentável e a importância dos consórcios para a governança das estratégias de desenvolvimento local. Ele também comemorou "a feliz coincidência de termos um projeto realizado no início da década das Nações Unidas para a restauração dos ecossistemas degradados" 

"Nossa proposta é converter esse projeto em uma lição para o território, e também para o mundo. Estamos aqui para transformar essa oportunidade em uma política pública de desenvolvimento que poderá ser replicada em outras partes do país", destacou.

 

Para a Diretora da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac/Mapa), Lucimara Chiari, o projeto é uma oportunidade de unir transformação socioeconômica com conservação da biodiversidade. Ela destacouo papel fundamental dos produtores rurais na conservação da floresta. “As atividades que vamos realizar são um marco para a história da cabruca aqui na região. Teremos o produtor rural como parte central deste projeto. Precisamos garantir a sustentabilidade da iniciativa e deixar um legado para o sul da Bahia", disse.  

No encerramento da cerimônia de lançamento do Projeto Cacau Cabruca, a secretária-executiva da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (UNICAFES), Regina Dantas, falou do desafio de se garantir a presença dos jovens no meio rural, que emigram para as cidades em busca de melhores condições de vida.

“Temos a oportunidade de refazer o caminho, de garantir renda para manter a agricultora e o agricultor no campo, manter a juventude no campo. Precisamos dar essa condição. Faremos tudo isso preservando a Mata Atlântica, pois nós trabalhamos com os princípios de conservação do meio ambiente, de produzir com dignidade, zelo e cuidado, sem destruir, concluiu.  

Construção coletiva 

Na terça-feira (09), as atividades seguiram em Ilhéus, onde ocorreu o Seminário de Construção Coletiva do Projeto Cacau Cabruca. O evento reuniu cerca de 130 pessoas, entre produtores e produtoras, membros de cooperativas, de indústrias e comerciantes envolvidos na cadeia de valor do cacau, além de poder público, ONGs e institutos de pesquisa. 

Com uma metodologia colaborativa, o Seminário deu início à fase de desenho e planejamento da iniciativa. Ao longo do dia, foram realizadas plenárias e dinâmicas em grupos de trabalhos para que os participantes pudessem identificar gargalos, demandas e potencialidades da região, bem como adequar as ações do projeto às realidades locais. 

Durante palestra no evento, o gerente de projetos da FAO no Brasil, Tiago Rocha, lembrou que o sistema cabruca é uma prática agroflorestal tradicional realizada há mais de 200 anos pela agricultura familiar na região. Por isso, segundo ele, o caráter participativo é fundamental para o sucesso da iniciativa.  

“Esse projeto busca potencializar as ações que já são desenvolvidas no território. Queremos fortalecer as instituições, os agricultores e trabalhar toda a cadeia do cacau, possibilitando maior produtividade e renda, ao mesmo tempo que vamos garantir uma produção mais sustentável. Nesta fase de construção coletiva, vamos identificar as principais atividades que serão fomentadas dentro do projeto, incluindo o desenvolvimento de tecnologias e a garantia de assistência técnica”, explica.  

Semana de diálogos 

Após os eventos, as equipes da FAO e do Mapa realizaram uma série de reuniões com os principais atores locais para identificar parcerias e sinergias. As agendas tiveram como objetivo dar continuidade aos debates iniciados no Seminário, aos esforços de estreitar diálogos e mobilizar atores locais para o processo de construção coletiva. 

Na quarta-feira (10), um encontro no Sebrae reuniu representantes do setor empresarial para discutir os gargalos da cadeia de valor do cacau, incluindo aspectos relacionados à qualificação da mão-de-obra, à importância da agregação de valor ao cacau por meio de certificações, rastreabilidade dos produtos, e garantia da qualidade do cacau diferenciada no sul da Bahia. À tarde, junto ao ICMBio, FAO e Mapa debateram questões relacionadas à conservação da biodiversidade e formas de mapear as áreas prioritárias onde o projeto pretende atuar.  

Já na quinta-feira (11), as equipes tiveram a oportunidade de conhecer o sistema cabruca em visita a um assentamento referência em práticas agroflorestais 

Para o coordenador do projeto, Anderson Bonilha, os diálogos desenvolvidos ao longo da semana mostraram a aderência do projeto às demandas do território e destacaram o potencial de mobilização para a construção coletiva da iniciativa.  

Foi uma semana extremamente produtiva, que demonstrou a capacidade do projeto em mobilizar os atores locais. O setor industrial é um parceiro importante, devido principalmente à longa experiência na região.Tivemos uma reunião muito importante com o ICMBio, onde buscamos compreender de que maneira o projeto pode contribuir na construção de uma inteligência territorial voltada para a conservação ambiental. E conhecemos a experiência do assentamento na gestão do sistema cabruca a partir da agroecologia. Foram atividades muito positivas e precisamos avançar no diálogo”, conclui.