FAO no Brasil

Projeto da FAO Brasil é destaque na feira FAO Transforma

06/09/2024

Pelo terceiro ano consecutivo, a Feira FAO Transforma selecionou 10 projetos inspiradores realizados pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) nos diferentes países da América Latina e Caribe. A iniciativa de combate à desertificação no semiárido brasileiro, REDESER, foi um dos destaques apresentados no evento, que ocorreu nos dias 4 e 5 de setembro. A gravação completa está disponível aqui. 

No coração do Nordeste do Brasil, encontramos a Caatinga, a área seca mais populosa do planeta. O bioma exclusivo do país abriga um em cada sete brasileiros, que enfrentam secas cada vez mais intensas e frequentes, potencializadas pelo aquecimento global. Com a perda da vegetação e a degradação do solo, o clima e o ciclo da água são afetados, gerando insegurança alimentar, pobreza e migração.

Para enfrentar esses desafios, a FAO, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e com financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), lançou o projeto REDESER.  Com o slogan "Revertendo o Processo de Desertificação nas Áreas Suscetíveis do Brasil – Práticas Agroflorestais Sustentáveis e Conservação da Biodiversidade", a iniciativa busca interromper e reverter a desertificação em áreas críticas do semiárido nordestino, promovendo a gestão sustentável dos recursos naturais.

Realizado em 14 municípios nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Bahia e Alagoas, o REDESER visa implementar práticas que incentivem a conservação ambiental e uma agricultura resiliente ao clima. A expectativa é que 900 mil hectares sejam geridos de forma sustentável, beneficiando cerca de 1.500 produtores e ampliando a oferta de alimentos saudáveis para o mercado local.

Comunidades de fundo de pasto

O Coordenador Técnico do Projeto na FAO, Manoel Timbó, apresentou os resultados do REDESER, destacando o trabalho realizado junto às comunidades de fundo de pasto, uma ocupação tradicional de territórios presente no interior da Bahia, baseada no uso comunitário da terra por meio da agricultura familiar. “Implementamos um conjunto de atividades que se estabeleceram como espaços para a difusão de boas práticas para combater a desertificação e estimular o uso sustentável dos recursos naturais”, explicou.

Essas atividades desenvolvidas serviram de aprendizado prático tanto para os agricultores locais como para jovens estudantes da escola agrícola da região, com cerca de 800 alunos. A difusão de práticas sustentáveis resultou no aumento da produção de produtos da Caatinga, que hoje são comercializados por cooperativas locais, inclusive para a indústria de cosméticos.

Outro resultado importante das ações do projeto foi a realização do primeiro inventário florestal dos povos de fundo de pasto, em uma área de 18 mil hectares. “Também identificamos, durante uma missão de campo, a possibilidade de reconhecimento das comunidades de fundo de pasto como Sistema Importante do Patrimônio Agrícola Mundial (SIPAM) da FAO”, adicionou Timbó.

Recuperação eficiente

Segundo o Coordenador do Departamento de Combate à Desertificação do MMA, Marcos Santana, parceiro na implementação do REDESER, a caatinga abriga 45 povos indígenas, 1,4 milhão de estabelecimentos de agricultura familiar, mais de 2 mil assentamentos de programas de reforma agrária e centenas de comunidades rurais afrodescendentes. Aproximadamente 28 milhões de pessoas habitam essa região, que hoje já sofreu a perda de mais de 40% de sua cobertura vegetal.

Contudo, a solução para evitar a crescente perda de umidade nesses ecossistemas pode estar facilmente ao alcance dos agricultores. “Um estudo promovido pelo REDESER mostra que os sistemas agroflorestais (SAF) são uma das práticas de recuperação mais eficientes e de baixo custo”, afirma Santana. 

Além dos SAF, o REDESER implementa um conjunto de práticas como apicultura, meliponicultura, sistemas alimentares e para forragem, práticas de conservação do solo e da água. O cerne do projeto é utilizar a tecnologia social de convivência com o semiárido, como as barreiras de base zero e iniciativas de recuperação de áreas degradadas e uso sustentável da caatinga. “A Caatinga, a partir desse projeto, se transforma em um laboratório de oportunidades para o combate à desertificação”, celebra Timbó.

Os projetos que integraram a feira FAO Transforma sobressaem-se por seu potencial de ampliação e replicação na região. Nesse sentido, o projeto desenvolvido no Brasil pode tornar-se referência para outras áreas suscetíveis à desertificação, impactadas pelas mudanças climáticas. “A FAO desempenha um papel estratégico em iniciativas como essa, pois sua presença global permite a conexão entre países e contextos similares, e permite articular a agenda climática com a luta contra a fome”, destaca Santana.