FAO no Brasil

Protagonismo em defesa dos babaçuais: mulheres rurais são vencedoras do prêmio de boas práticas de sistemas agrícolas tradicionais

Foto: Palova Souza/FAO
19/06/2018

Brasília, 19 de junho de 2018 - Há 25 anos, a Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais (AMTR), do Médio Mearim, no estado do Maranhão, desenvolve um trabalho em defesa dos babaçuais da região, especialmente da zona onde vivem, no município de Lago do Junco. 

A experiência deste grupo de mulheres, formado atualmente por 102 associadas em 14 comunidades rurais, foi a grande vencedora do Prêmio de Boas Práticas para Sistemas Agrícolas Tradicionais (SAT), do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Com a boa prática intitulada Protagonismo das Mulheres de Fibra do Médio Mearim, estas mulheres concorreram com outras 47 inscrições de diversas regiões do Brasil. A cerimônia de premiação ocorreu nesta segunda-feira (18), em Brasília (DF). 

O Prêmio teve o objetivo de reconhecer as boas práticas ligadas aos sistemas agrícolas de povos e comunidades tradicionais que contribuem para a sustentabilidade ambiental e para a sobrevivência social e econômica dos grupos que delas se utilizam e cuja manutenção está vinculada aos saberes ancestrais. 

Chamada por elas de “árvore da vida”, as palmeiras de babaçu exercem uma função ecológica importante para esta associação de mulheres, contribuindo para a conservação da biodiversidade e das nascentes, e permitindo a construção de vários arranjos produtivos que contribuem para a economia local. 

Na Associação de Mulheres (AMTR), as práticas agroecológicas e os saberes ligados ao extrativismo são transmitidos de mãe para filha. A agricultura familiar é fomentada por meio do consórcio do babaçu com outras culturas como arroz, feijão e milho, o que tem permitido a geração de renda para suas famílias, garantindo a segurança alimentar e a proteção do meio ambiente. Para agregar mais valor, no final dos anos 90, a Associação criou uma fábrica de produção de sabonetes de babaçu. 

Valorização dos conhecimentos ancestrais

Durante a cerimônia de premiação, o Representante da Organização nas Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) no Brasil, Alan Bojanic, destacou a importância do concurso para a preservação de conhecimentos muitas vezes ancestrais, para sua visibilidade e valorização. “É uma oportunidade de valorizar o que muitas vezes não é reconhecido”, disse Bojanic.  

O Diretor de Gestão Pública e Socioambiental do BNDES, Marco Ferrari, ressaltou a relevância do Prêmio para que os sistemas agrícolas tradicionais sejam protegidos e preservados em convivência com as inovações da atualidade. 

Para o Diretor de Inovação e Tecnologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Cleber Soares, os sistemas agrícolas tradicionais contribuem para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente para a erradicação da fome e fortalecimento da agricultura sustentável. 

Prêmio

Os cinco primeiros colocados receberam um prêmio no valor de R$ 70 mil e os outros 10 melhores classificados, R$ 50 mil. Os cinco primeiros ganhadores são: 

  1. "Protagonismo das Mulheres de Fibra do Médio Mearim", da Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais (AMTR), em Lago do Junco/MA;
  2. "A Autodemarcação e Gestão do Território Tradicional dos Vazanteiros de Pau Preto", da Associação dos Produtores Rurais de Vereda, em Matias Cardoso/MG;
  3. "Feira de Troca de Sementes e Mudas das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira", da Associação dos Remanescentes de Quilombo de São Pedro, em Eldorado/SP;
  4. "Feira da Mandioca de Imbituba", da Associação Comunitária Rural de Imbituba (ACORDI), em Imbituba/SC; e
  5. "Recaatingamento", do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), em vários municípios da Bahia.

É considerado um Sistema Agrícola Tradicional (SAT) um conjunto de elementos desde os saberes, mitos, formas de organização social, práticas, produtos, técnicas e artefatos e outras manifestações associadas formando sistemas culturais que envolvem espaços, práticas alimentares e agro ecossistemas manejados por povos e comunidades tradicionais e por agricultores familiares. 

O Prêmio BNDES conta com o apoio da FAO, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), da Embrapa e da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário (SEAD).