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FAO: Fome aumenta no mundo e na América Latina e no Caribe pelo terceiro ano consecutivo

11/09/2018
  • Fome mundial aumentou para 821 milhões de pessoas e para 39,3 milhões na América Latina e no Caribe em 2017. Um em cada quatro habitantes da região sofre de obesidade, enquanto que a desnutrição infantil continua diminuindo.

 

Santiago de Chile – Pelo terceiro ano consecutivo, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) anunciou um aumento no número de pessoas que sofre de fome. No caso da América Latina e do Caribe, 39,3 milhões de pessoas vivem subalimentadas na região, um aumento de 400 mil pessoas desde 2016. 

Segundo O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2018 (SOFI), em nível mundial quase 821 milhões de pessoas - cerca de uma em cada nove - foram vítimas da fome em 2017, um aumento de 17 milhões em relação ao ano anterior. 

"Na região, estamos parados na luta contra a fome há quatro anos. Em 2014, a fome afetou 38,5 milhões e em 2017 ultrapassou os 39 milhões. Estes números são um forte e claro apelo para redobrar os esforços em todos os níveis ", disse o Representante Regional da FAO, Julio Berdegué. 

Berdegué explicou que o aumento da fome no nível regional segue a tendência global e nos afasta do cumprimento da meta do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2- Fome Zero até 2030. 

O SOFI deste ano foi desenvolvido pela FAO junto com o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Programa Mundial de Alimentos (PMA) e a Organização Mundial de Saúde (OMS). 

A experiência da insegurança alimentar

Além do tradicional indicador de fome relatado pelo SOFI (subalimentação), este ano o relatório apresenta um indicador de insegurança alimentar grave, elaborado com pesquisas em domicílios. 

De acordo com essa medição, a grave insegurança alimentar em 2017 é maior do que em 2014 em todas as regiões, exceto na América do Norte e na Europa, com notáveis aumentos na África e na América Latina. 

Na América Latina, o grave índice de insegurança alimentar saltou de 7,6% em 2016 para 9,8% em 2017. 

Desnutrição aguda e crônica em crianças

Uma boa notícia para a região é que esta possui uma taxa muito baixa de desnutrição aguda em crianças (1,3%), equivalente a 700.000 crianças com menos de cinco anos de idade, bem abaixo da média global de 7,5%. Apenas uma em cada 100 crianças menores de 5 anos de idade na América Latina e no Caribe sofre dessa condição. 

O atraso no crescimento de meninas e meninos (desnutrição crônica) também foi reduzido, caindo de 11,4% em 2012 para 9,6% em 2017: hoje afeta 5,1 milhões de crianças menores de cinco anos na região. 

Obesidade afeta quase um em cada quatro habitantes

As notícias são muito menos alentadora no tema da obesidade. Segundo o SOFI, praticamente um em cada quatro habitantes da região convive com a obesidade: em 2016, a obesidade afetou 24,1% da população, um aumento de 2,4% desde 2012. 

"Em 2016, havia 104,7 milhões de adultos com obesidade em nossa região. Mas houve um aumento gigantesco - de mais de 16 milhões - em apenas quatro anos. É uma epidemia que, apesar das repetidas advertências da FAO e da OPAS/OMS, continua descontrolada, com enormes efeitos na saúde das pessoas e na economia dos países ”, alertou Berdegué. 

A América Latina e o Caribe têm o segundo maior percentual de crianças com excesso de peso no mundo (7,3%), o que equivale a 3,9 milhões de meninas e meninos. 

A obesidade em adultos também está piorando em nível mundial: 672 milhões de pessoas são obesas, mais de uma em cada oito pessoas. 

O clima impacta na segurança alimentar

Além dos conflitos, a variabilidade e as condições climáticas extremas do clima estão entre os principais fatores do recente aumento da fome no mundo. 

De acordo com o SOFI, o efeito cumulativo das mudanças no clima está minando todas as dimensões da segurança alimentar, incluindo a disponibilidade de alimentos, o acesso, a utilização e a estabilidade. 

Na América Latina e no Caribe, isso pode ser visto no Corredor Seco da América Central, particularmente em El Salvador, Guatemala e Honduras, uma das regiões mais afetadas pela seca causada pelo fenômeno El Niño em 2015-16. 

A seca foi uma das piores dos últimos 10 anos e resultou em reduções significativas na produção agrícola, com perdas estimadas entre 50% e 90% da safra agrícola. Mais de 3,6 milhões de pessoas precisaram de ajuda humanitária como resultado dessa seca.