FAO no Brasil

Estudo propõe 10 recomendações para avanço na fusão entre extensão rural e pesquisa agropecuária no Brasil

12/11/2021

A integração entre Extensão Rural (ER) e Pesquisa Agropecuária (PA) foi tema do seminário virtual promovido pelo escritório sul da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) no Brasil na manhã desta sexta-feira (12).

O objetivo foi apresentar os resultados da pesquisa pioneira “Processos de Fusão entre Empresas Públicas de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) e Pesquisa Agropecuária (PA) no Brasil”, elabora pelos pesquisadores Sônia Bergamasco da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ricardo Borsatto da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Flaviane Canavesi da Universidade de Brasília (UnB) e Marcelo Corrêa da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

Durante a abertura do evento, Rafael Zavala, Representante da FAO no Brasil, destacou a importância de dados, estatísticas e pesquisas para aprimorar a eficiência de políticas para a agricultura e pecuária. “Mesmo que seja de conhecimento geral que as fusões entre ER e PA têm grande potencial, pesquisas são essenciais para uma ação direcionada, com maior clareza de desafios e oportunidades”.

Em mensagem de vídeo, o diretor-presidente do IDR-Paraná, Natalino Avance de Souza, complementou que no Estado, a pesquisa e a extensão foram bases fundamentais para uma agricultura mais insipiente, moderna e exportadora. Além disso, destacou que nos tempos atuais, se faz ainda mais necessário integrar estes serviços para qualificar as entregas.

Resultados da pesquisa

A pesquisa, destacada pelo pioneirismo de estudar as mudanças estruturais que vêm ocorrendo na atuação da Extensão Rural (ER) e Pesquisa Agropecuária (PA) nos estados brasileiros, envolveu instituições com distintas realidades e momentos diferentes de fusão institucional, tanto quanto experiências sem a ocorrência de fusões.

Foram realizadas entrevistas em profundidade levando em consideração diferentes perfis profissionais, como gestores públicos, pesquisadores, extensionistas e representação sindical. As categorias da pesquisa abordaram aspectos de fusão e institucionalidades; metodologias de integração pesquisa-extensão; e relações interpessoais.

Sônia Bergamasco, da UNICAMP, destacou que a pesquisa não esgota o assunto, mas tem o objetivo de suscitar o debate e trazer pontos relevantes para o processo de discussão da fusão entre ER e PA. Por sua vez, o pesquisador Ricardo Borsatto, da UFSCar, ainda complementou que longe de ser linear e simples, os processos de fusão e integração são um movimento complexo e dialético, que deve ser compreendido sob uma perspectiva crítica.

Com base nos processos metodológicos, a pesquisa resultou em 10 recomendações principais:

  1. A capacitação teórico metodológica dos profissionais de ER e PA como ferramenta estratégica;
  2. A construção de um planejamento estratégico a médio e longo prazos, de caráter participativo, a fim de delimitar objetivos e metas específicos para o alcance da integração;
  3. O estabelecimento de novas institucionalidades capazes de garantir a horizontalidade e participação nos diversos espaços decisórios das organizações;
  4. A promoção contínua de atividades de troca, devolutivas, avaliação e autoavaliação entre extensionistas, pesquisadores e agricultores;
  5. Compromisso institucional com a representatividade nos espaços decisórios das organizações;
  6. Adoção e promoção de abordagens territoriais e interdisciplinares;
  7. O incentivo à formação para a carreira de extensionistas;
  8. A superação gradual da divisão das carreiras de pesquisador e extensionista em direção a carreiras mais integradas;
  9. A equiparação salarial entre as carreiras de pesquisa e extensão enquanto ainda estiverem separadas;
  10. Ações afirmativas e de representatividade ao promover maior diversidade nas equipes e impulsionar transformações necessárias para integração ER e PA, bem como o aumento da participação da mulher nos espaços de decisão.

Os pesquisadores ainda destacaram que este estudo não se encerra com a divulgação dos resultados, pois são um pontapé inicial para a construção de novas pesquisas e apropriação de conhecimento e gestão de ATER e Pesquisa, nos desafiando a continuar este importante e consistente debate.

A importância de um olhar conjunto

Após a apresentação dos resultados, participaram do debate representantes de diversas organizações que atuam sob a perspectiva da fusão e integração da Extensão Rural (ER) e Pesquisa Agropecuária (PA).

A presidente da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI/SC), Edilene Steinwandter, destacou a relevância de uma Organização como a FAO tratar deste tema que ainda tem pouca visibilidade. Ela destacou que a EPAGRI comemora 30 anos de fusão pesquisa-extensão, e que ao longo desta trajetória, foi essencial a qualificação do quadro de funcionários e as parcerias entre o público e privado, além de instituições de ensino.

Sob uma perspectiva regional e trazendo a experiência da América Latina, Julio Catullo do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA) na Argentina, lembrou que a integração pesquisa-extensão é um processo ativo e contínuo. Para ele, a perspectiva da fusão e integração não pode se limitar à redução do gasto público, precisa abordar a superação do modelo difusionista atual.

John Preissing, Diretor Adjunto do Centro de Investimentos da FAO em Roma, reforçou que a importância desta pesquisa está ligada ao fato de que uma fusão mais participativa é melhor e mais eficiente, apesar de ser mais difícil de implementar. Mais do que mudar, é muito importante manter a consistência dos esforços a longo prazo.

Já Vivien Diesel, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), complementou dizendo que os resultados da pesquisa propõem uma transformação significativa no desenvolvimento rural, e que a abordagem inova principalmente por problematizar outros processos na etapa da fusão e integração.

O evento foi transmitido pelo Zoom e em breve estará disponível pelo YouTube da FAO no Brasil.