FAO no Brasil

Diante da ameaça do El Niño, FAO prepara ações preventivas junto com membros e parceiros

02/05/2023

Padrões climáticos apontam para aumento do risco de seca no sul da África, América Central e Extremo Oriente Asiático

Roma – Após uma presença prolongada de três anos, o La Niña se retirou do cenário atmosférico global, dando lugar a uma provável transição iminente para o El Niño, fenômeno climático que normalmente distribui os padrões climáticos em sentido contrário. Isso pode trazer alívio para algumas áreas afetadas pela seca, como o Chifre da África, mas pode significar problemas para outras partes da África, América Central e Extremo Oriente Asiático.

Diante do número sem precedentes de pessoas que sofrem de insegurança alimentar aguda, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) examina as áreas do planeta especialmente vulneráveis ​​ao El Niño e as ações preventivas que podem ser tomadas para mitigar seus riscos.

De acordo com um novo relatório do Sistema Global de Informação e Alerta Precoce sobre a Alimentação e a Agricultura da Divisão de Mercados e Comércio e do Escritório de Mudanças Climáticas, Biodiversidade e Meio Ambiente da FAO, preocupam especialmente a África Austral, a América Central e o Caribe e partes da Ásia, uma vez que vários países nestas regiões já experimentam altos níveis de insegurança alimentar aguda, e importantes campanhas agrícolas estão sujeitas aos padrões de condições atmosféricas mais secas características do El Niño. Nas partes do norte da América do Sul também existe o risco de uma possível seca, enquanto a Austrália normalmente vê uma diminuição na precipitação.

“Os alertas antecipados implicam a necessidade de tomar medidas preventivas e preventivas, e apoiaremos nossos Membros nisso conforme os recursos permitirem”, disse Rein Paulsen, chefe do Escritório de Emergências e Resiliência da FAO.

Após os eventos do El Niño de 2015 e 2016, que afetaram mais de 60 milhões de pessoas em cerca de 23 países, a FAO tem trabalhado diligentemente com seus Membros – incluindo muitos daqueles que provavelmente verão sua segurança alimentar afetada pela chegada do El Niño —e com outras agências das Nações Unidas para estabelecer planos e protocolos de ação preventiva. Procedimentos operacionais padrão foram desenvolvidos para agilizar intervenções oportunas, como estabelecer depósitos comunitários de sementes, determinar reservas estratégicas de alimentos e fortalecer campanhas de vigilância da saúde animal.

Por exemplo, a FAO desenvolveu protocolos de ação preventiva para a seca em Burkina Faso, Chade, Níger, sul de Madagascar, Malawi, Zimbábue, Filipinas, Paquistão e América Central, e está pronta para agir de forma rápida em coordenação com governos e parceiros caso as previsões se concretizem.

Entrada em território desconhecido

Tendo em vista as previsões mais recentes que apontam para a probabilidade de um evento El Niño a partir de junho, a FAO já está fazendo os primeiros preparativos para apoiar os países afetados.

“As previsões são claras no momento, mas é inevitável que só possam ser feitas com pouca confiança devido à sua baixa validade no período maio-junho-julho”, explica Óscar Rojas, Agrometeorologista da FAO.

Os eventos do El Niño normalmente ocorrem a cada dois a sete anos; no intervalo prevalecem episódios de La Niña e condições neutras. O El Niño, catalisado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico, tem um impacto decisivo na temperatura e regime pluviométrico em muitas partes do mundo, onde dá origem a eventos climáticos extremos como secas, inundações e tempestades.

Embora os eventos e impactos do El Niño nunca sejam idênticos, os padrões típicos gerais aumentam a previsibilidade das consequências regionais. A abordagem da FAO tem sido mapear as mudanças nas condições da vegetação das terras agrícolas em todo o mundo e combinar essa análise com calendários de safras para entender melhor a influência potencial dos déficits de chuva na produção; os efeitos do estresse por falta de água variam ao longo de todo o ciclo de vida de uma cultura. Essa abordagem ajuda a identificar as áreas de maior risco (onde as condições de seca impactam todo o ciclo do cultivo) e orienta o tipo de intervenção a ser realizada.

De acordo com os procedimentos operacionais padrão do Comitê Permanente Interinstitucional das Nações Unidas para Ação Precoce em eventos El Niño/La Niña, as iniciativas de ação preventiva avançam na proporção da probabilidade de que um evento El Niño esteja se desenvolvendo. A FAO, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários e a Organização Meteorológica Mundial estão monitorando a situação junto com outros parceiros para identificar os países que correm mais risco ao longo do ano.

Mapeamento de riscos

Embora a chuva traga grande alívio para os agricultores na Argentina e no Oriente Médio, o El Niño também pode desencadear inundações severas que podem prejudicar a agricultura e aumentar o risco de doenças. A FAO examinou esse risco específico em relação à África Oriental, que sofreu quatro anos de déficits extremos de chuvas e que, de qualquer forma, precisará de muito tempo para se recuperar, mesmo que as chuvas voltem.

Austrália, Brasil e África do Sul, principais produtores e exportadores de cereais, estão entre os países em risco de seca, assim como muitos outros países da África Ocidental e Central, Sudeste Asiático e Caribe.

O risco inverso de chuvas excessivas paira sobre exportadores como Argentina, Türkiye e Estados Unidos da América, além de países da Ásia Central.

O El Niño, que normalmente eleva a temperatura média global, foi vinculado ao máximo registrado em 2016, quando ocorreram várias catástrofes de liberação de carbono, como incêndios florestais e de turfeiras na Indonésia e bilhões de árvores dizimadas pela seca na Amazônia.