FAO no Brasil

América Latina e Caribe se empenham para reduzir o risco de desastres na agricultura e na segurança alimentar

07/06/2016

Entre 2003 e 2014 o custo dos desastres naturais na região registrou 34.300 milhões de dólares, afetando a 67 milhões de pessoas

Santiago do Chile – Os países da América Latina e Caribe estão empenhados em aumentar a resiliência do setor agrícola e os meios de vida diante das ameaças, crises e desastres como uma pré-condição fundamental para erradicar a fome e alcançar o desenvolvimento sustentável, apontou hoje a FAO.

Ministros e altas autoridades dos países da região vão se reunir no Paraguai, de 8 a 9 de junho para avançar na implementação do Marco de Sendai para a Redução de Risco de Desastres 2015-2030, adotado em março de 2015 na Terceira Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a Redução de Risco de Desastres.

Um evento paralelo durante a reunião do Paraguai dará os primeiros passos para adotar uma estratégia regional de gestão de riscos de desastre para o setor agrícola e para a segurança alimentar que faz parte do Plano de Segurança Alimentar, Nutrição e Erradicação da Fome 2025 da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC). 

Um dos pilares do Plano é a atenção oportuna de desastres de origem sócio-naturais que podem afetar a disponibilidade de alimentos, por meio de programas de gestão de riscos e sistemas de alerta precoce, entre outros.

 “A meta para a nossa região é alcançar sistemas produtivos mais resilientes, mais produtivos e eficientes, que preservem a base produtiva dos recursos naturais e tenham a capacidade de suportar riscos e choques”, apontou Jorge Meza, responsável pela Iniciativa Regional da FAO focada na gestão de risco de desastres.

Uma região em risco

Entre 2003 e 2014 o custo dos desastres advindos dos fenômenos naturais na América Latina e Caribe registrou 34.300 milhões de dólares, o que representa a quarta parte das perdas em âmbito global, afetando a cerca de 67 milhões de pessoas.

De acordo com a FAO, os desastres vinculados ao clima, cujo impacto e frequência são exacerbados pelas mudanças climáticas, são os que mais afetam a região, totalizando 70% das emergências. 

Segundo o Índice de risco climático global publicado em 2016, três dos cinco países com maior risco estão na América Latina e Caribe: Honduras, Haiti e Nicarágua. A Guatemala está em décimo lugar.

Um terço da população regional mora em áreas altamente expostas as ameaças geológicas e particularmente hidrometeorologicas.

 “Os desastres têm um efeito desproporcionado sobre as pessoas que moram em condições de pobreza. Entre 1975 e 2000, a população vivendo em pobreza extrema concentrou 68% da mortalidade devido a desastres”, explicou Meza.

Impactos sobre o setor agrícola

Segundo a FAO, entre 2003 e 2013, o setor agrícola dos países da América Latina e Caribe sofreu 16% dos danos e perdas causadas por desastres. O setor agrícola sofreu 6% dos danos totais dos ativos físicos e sofreu 23% das perdas totais da produção e danos aos meios de vida.

Ainda de acordo com os dados, no setor agrícola, 71% dos efeitos dos desastres afetaram os cultivos, 13% as florestas, 10% a pecuária e 6% a pesca.  

O impacto econômico sobre o setor agrícola pode ser devastador. Na Colômbia, a temporada de inverno de 2010-2011 gerou perdas e danos agrícolas calculados em 824 milhões de dólares; as inundações de Tabasco de 2007 no México totalizaram 816 milhões de dólares de danos no mesmo setor. Apenas na Nicarágua, em 2007 o Furacão Félix causou perdas de 608 milhões de dólares na agricultura.

Entre 2003 e 2013, a maioria das perdas na produção de cultivos e pecuária na América Latina e Caribe ocorreu após as inundações (55%), seguida por secas (27%) e as tempestades (10%). O Brasil foi o país mais afetado, devido ao grande tamanho da produção agrícola.

“Após os desastres, as importações agrícolas aumentaram significativamente em muitos países da região. Em média, o valor das importações aumentou em 25% em comparação aos valores projetados”, explicou Meza.

Os desastres também afetaram o crescimento do setor: segundo a FAO, entre 2003 e 2013, o crescimento do setor baixou 2,7% após os desastres naturais na região.

Não basta responder apenas as emergências

Apesar dos países terem avançado na incorporação do enfoque de reduzir os riscos no setor agrícola, o planejamento, os orçamentos, os mecanismos institucionais e a implementação de ações em âmbito local seguem focados em dar respostas às emergências.

“Não basta responder as emergências: os países devem estar preparados desde antes, não somente para evitar os custos econômicos, mas para salvaguardar vidas humanas. Para isso é importante reduzir e gerir os riscos, gerando desenvolvimento socioeconômico inclusivo”, disse Meza.

Segundo a FAO, o setor agrícola da América Latina e Caribe tem uma grande capacidade para reduzir os risco de desastres e contribuir para a resiliência dos meios de vida, caso os países sigam quatro princípios orientadores que se reforçam entre si de maneira sinérgica:

  • Governar os riscos e as crises: devem ser reforçadas as instituições e governança para a redução de riscos de desastres em todo o setor agrícola.
  • Vigilar para proteger: criar e fortalecer os sistemas de informação e alerta precoce sobre a segurança alimentar e ameaças transfronteiriças.
  • Aplicar medidas de prevenção e mitigação: promover e diversificar os meios de vida com tecnologias, enfoques e práticas de redução de risco.
  • Se preparar para responder: preparação para responder e se recuperar de maneira eficaz em todos os âmbitos do setor agrícola.

A FAO colabora com os países por meio de uma nova iniciativa regional focada especificamente na gestão de risco de desastres, no uso sustentável dos recursos naturais e a adaptação às mudanças climáticas.

A FAO trabalha fortalecendo os sistemas nacionais de gestão de riscos que afetam a segurança alimentar nos países do Conselho Agropecuário do Sul, potencializado pela cooperação Sul-Sul entre Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai.

No Paraguai, a iniciativa da FAO permite facilitar a formulação do Plano Nacional de Gestão de Riscos de Desastres e a Adaptação as Mudanças Climáticas do setor agrícola, e o fortalecimento de sistemas de monitoramento de riscos agroclimáticas, incluindo secas, inundações e geadas.

 “Com a adequada redução de risco, os países da América Latina e Caribe podem fortalecer a segurança alimentar, construir sistemas agrícolas resilientes e melhorar a capacidade de milhões de pessoas para enfrentar as ameaças”, concluiu Meza.