FAO no Brasil

Conflitos e crises levam a aumento de 20 milhões de pessoas com fome em 2020

Foto | Oluwaseun Oluwamuyiwa/WFP
07/05/2021

Pelo menos 155 milhões de pessoas enfrentaram níveis de crise de insegurança alimentar em 2020 por causa de conflitos, eventos climáticos extremos e choques econômicos ligados em parte à COVID-19, de acordo com um novo relatório, lançado por agências da ONU e parceiros na quarta-feira (5).

Segundo a Rede Global contra a Crises Alimentares (GNAFC), que organiza o Relatório Global sobre Crises Alimentares 2021, os níveis de fome já não eram tão ruins nos últimos cinco anos nos 55 países analisados. No entanto, 20 milhões de pessoas a mais passaram fome no ano passado do que em 2019.

O documento destaca que os países da África permaneceram “desproporcionalmente afetados”. Os conflitos foram a principal causa da fome, levando quase 100 milhões de pessoas à insegurança alimentar aguda. Em seguida, vieram os choques econômicos, responsáveis por 40 milhões de pessoas nessa situação, e os eventos extremos climáticos, que empurraram 16 milhões à fome.

Ciclo vicioso - “O conflito e a fome reforçam-se mutuamente. Precisamos combater a fome e o conflito juntos para resolver qualquer um deles. Devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para acabar com este ciclo vicioso. Enfrentar a fome é uma base para a estabilidade e a paz”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, no prefácio do relatório.

Baseando as avaliações na escala do IPC para Insegurança Alimentar Aguda, a rede GNAFC - que inclui a União Europeia (UE), a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e o Programa Mundial de Alimentos da ONU (WFP) - revelou que os países mais afetados foram Burquina Faso, Sudão do Sul e Iêmen.

Em todos esses países, cerca de 133 mil pessoas estavam no IPC 5 - o nível mais alto de necessidade - e eles exigiam ação imediata “para evitar mortes generalizadas e um colapso dos meios de subsistência”, disse o relatório da rede.

Pelo menos outras 28 milhões de pessoas estavam “a um passo da fome” - no nível IPC 4, considerado de emergência - em 38 países e territórios, onde uma ação urgente salvou vidas e meios de subsistência e evitou a disseminação da fome.

Quase 98 milhões de pessoas que enfrentavam a insegurança alimentar aguda em 2020 - ou dois em cada três - estavam no continente africano. 

Não só a África - Outras partes do mundo não foram poupadas, com países como Iêmen, Afeganistão, Síria e Haiti fazendo parte das 10 piores crises alimentares do ano passado.

Os autores do relatório - a Organização das Nações Unidas, a União Europeia e agências governamentais e não governamentais - também observaram que 39 países e territórios passaram por crises alimentares nos últimos cinco anos.

Nesses países e territórios, a população afetada por altos níveis de insegurança alimentar aguda (IPC 3 ou pior) aumentou de 94 para 147 milhões de pessoas, entre 2016 e 2020, disse a rede global.

Nos 55 países e territórios em crise alimentar contemplados pelo relatório, mais de 75 milhões de crianças menores de cinco anos sofriam de atrofiamento e pelo menos 15 milhões apresentavam sinais de desgaste em 2020.

Embora o conflito continue a ser o principal fator das crises alimentares em 2021, a COVID-19 e suas medidas de contenção relacionadas e os extremos climáticos continuarão a exacerbar a insegurança alimentar aguda em economias frágeis. 

O impacto do coronavírus - A pandemia da COVID-19 revelou a fragilidade do sistema alimentar global e a necessidade de sistemas mais justos, sustentáveis ​​e resilientes para alimentar de forma nutritiva e consistente 8,5 bilhões de pessoas até 2030. 

“É necessária uma transformação radical dos nossos sistemas agroalimentares para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, afirmaram os membros fundadores da Rede Global, juntamente com a agência de desenvolvimento internacional dos Estados Unidos (USAID), em um comunicado.

Em março de 2021, o chefe da ONU, Guterres, estabeleceu uma força-tarefa de prevenção da fome, liderada pelo chefe de alívio de emergências da ONU, Mark Lowcock, junto com a FAO e o WFP e com o apoio do Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) e outras agências da ONU, assim como ONGs parceiras. A força-tarefa visa trazer atenção coordenada de alto nível para a prevenção da fome e mobilizar apoio para os países mais afetados.