FAO fortalece laços com o Brasil para elevar prioridades alimentares e agrícolas na COP30
Missão de alto nível busca ampliar colaboração com a Presidência brasileira da COP30 para promover ação climática por meio do investimento em sistemas agroalimentares sustentáveis e resilientes
Brasília – Uma delegação de alto nível da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), liderada por Kaveh Zahedi, Diretor do Escritório de Mudança do Clima, Biodiversidade e Meio Ambiente, concluiu uma missão a Brasília com o objetivo de fortalecer a colaboração com o Brasil antes da COP30.
Com a conferência prevista para ocorrer em novembro, em Belém, no coração da Floresta Amazônica, a visita reforçou o compromisso da FAO em trabalhar junto à Presidência brasileira na COP30 para posicionar a agricultura e a segurança alimentar no centro das negociações climáticas e da agenda de ação.
Ao longo de três dias de discussões com autoridades-chave do governo, a FAO reafirmou seu apoio à visão do Brasil de integrar agricultura, florestas e segurança alimentar às ações climáticas. A delegação dialogou com diversos ministérios, incluindo Relações Exteriores, Meio Ambiente e Mudança do Clima, Agricultura e Pecuária, Desenvolvimento Agrário e Pesca e Aquicultura, além de importantes instituições de pesquisa e representantes do setor agropecuário.
O tema central das conversas foi a necessidade de ampliar práticas agrícolas sustentáveis e resilientes para atender tanto às metas climáticas quanto às demandas de segurança alimentar. “Sem a expansão de sistemas agrícolas e alimentares resilientes e sustentáveis, incluindo a restauração de terras agrícolas degradadas, a agrofloresta e o manejo florestal sustentável, os países não conseguirão alcançar o Acordo de Paris”, enfatizou Zahedi. “Isso inclui o aumento do investimento climático em adaptação e mitigação por meio da agricultura e dos sistemas alimentares, e estamos prontos para apoiar o Brasil na construção dessa agenda na COP30, assim como fizemos em conferências climáticas anteriores”, acrescentou.
As discussões reforçaram o compromisso da FAO em promover a colaboração intersetorial para enfrentar a mudança do clima, com iniciativas contínuas de COP para COP, como o programa Food and Agriculture for Sustainable Transformation (FAST) e a Baku Harmoniya Climate Initiative for Farmers.
A delegação da FAO também incluiu Zhimin Wu (Diretor da Divisão de Florestas), Jorge Meza (Representante da FAO no Brasil), Martial Bernoux (Oficial Sênior de Recursos Naturais), Thais Juvenal (Oficial Sênior de Florestas) e Amy Duchelle (Oficial Sênior de Florestas).
A visão do Brasil para a COP30
Como país anfitrião da COP30, o Brasil está comprometido em fazer da conferência um marco na ação climática global. Marina Silva, Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, destacou a importância de alinhar a agricultura e as florestas às estratégias climáticas, garantindo amplo engajamento da sociedade civil. “A participação social é a base de qualquer política ambiental eficaz. Precisamos garantir que as vozes das comunidades rurais, pequenos agricultores e grupos marginalizados sejam ouvidas e integradas às decisões que moldam o uso da terra e as estratégias ambientais”, afirmou.
O Brasil vê a COP30 como uma oportunidade para alinhar ação climática, desenvolvimento sustentável e redução da pobreza. A carta da Presidência brasileira convoca um “mutirão global” para enfrentar a crise climática, destacando que a cooperação é o único caminho para um progresso real. A FAO segue como um parceiro-chave na concretização dessa visão, apoiando a liderança do Brasil para garantir que soluções para os sistemas agroalimentares sejam também soluções climáticas.
O papel da agricultura na agenda climática foi reforçado por Paulo Teixeira, Ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, que ressaltou a necessidade de o financiamento climático alcançar os pequenos produtores e apoiar práticas sustentáveis cruciais, como a agrofloresta e a bioeconomia.
O Secretário Pedro Alves Correa Neto, do Ministério da Agricultura e Pecuária, destacou a importância do setor agrícola para atingir as metas climáticas. “Precisamos demonstrar que a agricultura contribui positivamente tanto para a segurança alimentar quanto para a ação climática. Tecnologias como a integração lavoura-pecuária-floresta e a pecuária sustentável fazem parte dessa transição, na qual buscamos aumentar a produtividade sem prejudicar o meio ambiente.”
Além das instituições governamentais, a FAO também se reuniu com atores-chave do setor agropecuário e de pesquisa no Brasil. Na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Presidente Silvia Massruhá destacou os esforços em curso para o desenvolvimento de tecnologias agrícolas, incluindo calculadoras de pegada de carbono e técnicas de restauração de terras adaptadas à agricultura tropical, que podem servir de modelo para outros países por meio da cooperação Sul-Sul.
O Brasil tem sido um ator fundamental na governança climática global. A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 (Rio 92) estabeleceu as bases para os marcos ambientais internacionais, reforçando a conexão entre clima, biodiversidade e desenvolvimento sustentável.
Nos últimos anos, tem crescido a atenção internacional para o papel crítico dos sistemas agroalimentares nas três principais Conferências das Partes (COPs) ambientais da ONU. O financiamento emergiu como um desafio central — os sistemas agroalimentares representaram menos de 5% do total de financiamento climático global em 2019-2020 e 23% do financiamento climático para o desenvolvimento em 2022, uma queda em relação aos 37% da década anterior.
À medida que os preparativos para a COP30 avançam, a colaboração da FAO com o Brasil será essencial para transformar compromissos em ações concretas. Com o Brasil defendendo ação coletiva, mobilização financeira e políticas baseadas na ciência para enfrentar a crise climática, a parceria FAO-Brasil contribuirá para a construção das discussões que definirão a COP30 e seu legado.