Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO

Colômbia e Brasil trocam experiências sobre associatividade e cooperativismo na agricultura familiar

O projeto Semeando Capacidades promoveu um evento virtual para contribuir com os processos em desenvolvimento nos dois países.

Bogotá, 12 de agosto de 2021 - No âmbito do projeto de cooperação sul-sul trilateral Semeando Capacidades, Brasil e Colômbia compartilharam suas experiências em associatividade e cooperativismo para a agricultura familiar, durante oficina virtual no dia 11 de agosto. O objetivo foi apresentar um olhar sobre políticas e experiências sobre o tema, a fim de contribuir com os processos de formulação de políticas em curso nos dois países. 

O projeto Semeando Capacidades é executado em conjunto pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) do Brasil e o Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MADR) da Colômbia; e integra as ações do projeto regional América Latina e Caribe sem Fome 2025. 

Na abertura, Graciela Fernandez Quintas, presidente das Cooperativas das Américas, da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), destacou os impactos que a pandemia de Covid-19 tem gerado nos países latino-americanos. “Os efeitos sociais e econômicos aprofundaram as lacunas estruturais existentes em nossa região”, disse Quintas. Nesse sentido, ela destacou o papel do trabalho conjunto, do cooperativismo: “Reconstruímos melhor quando estamos juntos. As cooperativas favorecem o desenvolvimento de escalas produtivas, mas também o acesso a uma multiplicidade de serviços, que são fundamentais para o bem-estar das sociedades rurais”, afirmou.

Experiências da Colômbia e Brasil

O primeiro painel apresentou experiências de organizações de agricultores familiares e camponeses. Da Colômbia, Esperanza Riaño, representante legal da Cooperativa Multiativa de Campesinos Ativos de Boyacá (COOCAMPO), apresentou o trabalho realizado pela organização, criada há sete anos, composta por 135 famílias de três municípios. A cooperativa possui produção de leite, entre outras. Segundo Riaño, a pandemia fortaleceu a cooperativa, que chegou a criar uma padaria com um grupo de mulheres, gerando assim uma nova unidade de trabalho. Da mesma forma, neste contexto, a cooperativa também tem apoiado os agricultores na prestação de serviços como aluguel de máquinas e na comercialização de insumos e materiais. 

Do Brasil, Bruno Justin, vice-presidente da Cooperativa Mista de Agricultores Familiares de Itati, Terra de Areia e Três Forquilhas (COOMAFITT), apresentou a experiência da cooperativa, criada há 15 anos, e que conta com 278 associados. O principal mercado da organização é o institucional. Justin explicou que os jovens e as mulheres desempenham um papel importante nas tarefas administrativas da cooperativa. Dentre os valores da organização, destaca-se a inclusão, com a inserção dos jovens para valorizar o conhecimento técnico-qualitativo, promovendo a permanência dos jovens no campo. A gestão é democrática, onde os associados participam da tomada de decisões.

A visão da institucionalidade 

A Coordenadora do Grupo de Segurança Alimentar e Geração de Renda do MADR, Socorro Águas, apresentou as diretrizes de políticas públicas para o associativismo rural produtivo na Colômbia. Segundo a coordenadora, a política nessa temática é ´muito jovem ´, a partir de 2019 por meio da mesa técnica do associativismo rural, que passa a construir essas diretrizes com a participação de diversos atores como entidades nacionais e territoriais, sociedade civil e academia. O objetivo das diretrizes é fortalecer o associativismo rural como mecanismo de desenvolvimento econômico, social e ambiental dos territórios e de seus habitantes. Águas destacou alguns antecedentes importantes para a construção dessas diretrizes, como o Censo Agropecuário Nacional, o Acordo de Paz, a Resolução 464/17 e o Plano Nacional de Desenvolvimento, entre outros. No marco das diretrizes, foram construídas seis estratégias para articular e integrar a oferta institucional de associações rurais produtivas no país. “Com base nisso, buscamos traçar uma rota nacional de associatividade”, disse.

Do Brasil, Márcio Madalena, Diretor do Departamento de Cooperativismo e Acesso a Mercados da Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo do MAPA, apresentou o programa Brasil Mais Cooperativo, que visa apoiar o cooperativismo e o associativismo rural brasileiro com ações voltadas ao cooperativismo, singular ou central, e associações de produtores rurais. O programa, criado em 2019, possui seis linhas de atuação: gestão, intercooperação, capacitação técnica, mercado privado, internacionalização e mercado institucional. O Diretor destacou o eixo 2 do programa, onde está em execução o Projeto de Apoio à Intercooperação, desenvolvido pelo Ministério, com o apoio da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). Segundo Madalena, este projeto visa promover estratégias de negócio, melhorar processos e boas práticas de gestão e governação; além de promover o contato entre as cooperativas, oferecendo ferramentas para facilitar o intercâmbio. Para este piloto, foram selecionadas 24 cooperativas agrícolas da agricultura familiar, do Nordeste do Brasil, identificadas como ´Cooperativas Sócias´. Estas 'cooperam' com nove cooperativas da região Sul, identificadas como ´Cooperativas Colaboradoras´ pela excelência nos modelos de gestão e acesso a mercados. Devido à pandemia de COVID-19, o projeto está sendo realizado 100% virtualmente, por meio de uma série de atividades.

Alberto Ramírez, Consultor especialista em sistemas agroalimentares e organizações de agricultura familiar do Escritório Regional da FAO, fez algumas reflexões finais sobre as apresentações. Ele disse que a crise gerada pela pandemia pode ser uma oportunidade, do ponto de vista da transformação dos sistemas alimentares. “A associatividade e o cooperativismo são formas de gerar uma recuperação transformadora, uma forma real de promover o empoderamento e a inclusão”, frisou. 

Nas palavras de encerramento, Carolina Smid, Analista de Projetos da ABC/MRE, indicou que os exemplos apresentados mostram como a ação conjunta pode potencializar e melhorar a qualidade de vida dos pequenos agricultores em todos os países, melhorando também o acesso aos mercados e a negócios. Márcio Madalena, Diretor do MAPA, disse que essas ações de cooperação geram crescimento e alcançam muitos sucessos. Por sua vez, Joaquin Salgado, representante do MADR, convidou a todos a continuarem a participar nas atividades do projeto que apresentará os seus resultados até dezembro, e que os produtos gerados podem apoiar os processos nos territórios.