Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO

+Sementes: rede de pesquisadores organizará informações sobre recuperação e conservação de sementes de algodão

Rede fortalecerá os dados sobre variedades da América Latina e colocará à disposição de instituições de pesquisa.

Santiago do Chile, 18 de agosto de 2021 - Mais sementes de algodão - e de qualidade - no campo. É o que propõe uma iniciativa iniciada neste mês de agosto para alavancar a formação de uma rede internacional latino-americana, formada por instituições de pesquisa para a recuperação e a conservação de variedades de sementes de algodão sul-americanas. A iniciativa +Sementes visa recuperar e conservar as variedades autóctones, tradicionais e crioulas, brancas e coloridas no âmbito da estratégia de preservação do património cultural de cada país parceiro desta cooperação internacional. 

Sob a coordenação operacional do Centro de Estudos e Capacitação para o Ecodesenvolvimento ALTER VIDA, do Paraguai, a iniciativa +Sementes conta com o apoio técnico do projeto de cooperação regional sul-sul trilateral +Algodão, e financeiro da Bio Bridge Initiative (BBI) das Nações Unidas. 

O projeto +Algodão é executado em conjunto, desde 2013, pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE) e os governos da: Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Haiti, Paraguai e Peru. 

Esta cooperação para +Sementes é uma oportunidade de troca de conhecimentos e articulação entre as instituições: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa, Brasil), Instituto Paraguaio de Tecnologia Agropecuária (IPTA, Paraguai), Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA, Argentina), Instituto Nacional de Inovação Agrícola e Florestal (INIAF, Bolívia), AGROSAVIA (Colômbia), ProSierra (Colômbia), Instituto Nacional de Pesquisa Agropecuária (INIAP, Equador) e Instituto Nacional de Inovação Agrária (INIA, Peru). 

Adriana Gregolin, coordenadora regional do projeto +Algodão, explica que um dos objetivos desta ação é sistematizar informações, manter e disponibilizar um sistema de dados sobre as variedades nativas de algodão da região: “com esses dados em mãos, a rede estabelecida de pesquisadores promoverá a articulação de suas instituições, academia e demais interessados ​​na conservação de sementes na América Latina”, destacou Gregolin. 

Entre os resultados esperados está a formação de uma rede de pesquisa voltada para a conservação do algodão na região com a participação de pelo menos sete instituições de pesquisa, e pelo menos uma instituição por cada país associado; e a preparação de material informativo e metodológico para a conservação e recuperação das coleções de algodão nativo nos países. Os dados coletados e sistematizados ficarão à disposição das instituições para uso, de forma compartilhada e gratuita. 

O projeto +Algodão tem como uma das suas principais componentes de trabalho o apoio aos países parceiros no fornecimento adequado de sementes certificadas e de qualidade. Na Bolívia, em 2018, consolidou-se o relançamento da única variedade nacional convencional de algodão em caroço, a CCA-348 (Mandiyuti). Em 2020, na Colômbia, foi realizada a primeira safra de algodão nativo, resultado de um trabalho de resgate da variedade Gossypium barbadense, que tem uma história de mais de 1.500 anos de cultivo por comunidades indígenas da região de Sierra Nevada de Santa Marta. No Equador, em 2021, estão em andamento os ensaios de uso de uma variedade brasileira de algodão, a BRS-336.

Panorama das sementes de algodão na região

Na América Latina e no Caribe, o algodão é uma cultura ancestral passada de geração em geração para a confecção de roupas e para obter melhor renda. Também tem um forte componente social e espiritual para as comunidades indígenas da região. 

Com o advento da revolução agrícola e da globalização, o algodão adquiriu uma sólida posição comercial, levando a uma extensa produção associada a fortes benefícios econômicos. Isso levou ao abandono de programas de melhoramento e registro de germoplasma (exceto no Brasil e na Argentina) e à chegada do algodão geneticamente modificado de origem estrangeira. 

Cada um dos países associados ao projeto +Algodão reconhece as sementes de algodão nativas e coloridas como parte de seu patrimônio cultural. No entanto, existem poucas pesquisas e poucos programas de conservação, dificultando a preservação de germoplasma sem o uso de ferramentas inovadoras e eficazes de identificação. 

A partir desse panorama, a iniciativa +Sementes teve como objetivo fomentar a recuperação da geração de dados sobre a produção e manutenção de sementes, para fortalecer a agricultura familiar e camponesa que tem um importante papel na produção desta fibra.