Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO

América Latina e África comemoram relevância mundial do algodão como oportunidade de mercado, de geração de emprego e renda

Os países se reuniram em evento virtual para comemorar o Dia Mundial do Algodão de 2021.

Santiago do Chile, 12 de outubro de 2021 - Por meio do amplo portfólio de projetos que englobam o programa de cooperação brasileiro para o fortalecimento da cotonicultura em países em desenvolvimento, alcançamos resultados de grande importância para o setor, dando visibilidade internacional ao algodão”, disse o Diretor-Adjunto da Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), Embaixador Demétrio Carvalho, na abertura da comemoração do Dia Mundial do Algodão, promovida pelo projeto +Algodão, dia 7 de outubro. A transmissão ao vivo nas redes sociais e plataforma Zoom somou mais de 900 visualizações. O Dia Mundial do Algodão foi instituído, em 2019, pela Organização Mundial do Comércio (OMC) para reconhecer e dar visibilidade global a esta importante cultura. 

Em suas palavras, o Representante da FAO no Brasil, Rafael Zavala, destacou a importância do algodão para a subsistência de milhões de pessoas, gerando cerca de 350 milhões de empregos em todo o mundo. “Em nossa região latino-americana, significa uma renda vital para as famílias agricultoras, gerando empregos e renda, além de contribuir muito para a segurança alimentar, principalmente nos países em desenvolvimento”, afirmou. 

O projeto +Algodão é implementado em conjunto, desde 2013, pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a ABC/MRE e sete países parceiros: Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Haiti, Paraguai e Peru; com recursos financeiros do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA). 

Mercado mundial e reflexos no algodão latino-americano

Moderado pela Oficial de Cooperação Sul-Sul da FAO, Dina Lopez, o evento contou no primeiro painel com apresentações do Economista Sênior da FAO, ElMamoun Amrouk, e da Economista do Comitê Consultivo Internacional do Algodão (ICAC), Lorena Ruiz. Segundo Amrouk, o algodão representa entre 75 e 80% da produção de fibras naturais no mundo. Para a construção de um setor de algodão sustentável, ele apontou elementos como inovação para competir com as fibras sintéticas; a mobilização de tecnologias e recursos inovadores; o aumento da produção de algodão e a diminuição do uso de recursos, ou seja, investimentos. Amrouk destacou a necessidade de coerência política e maior coordenação entre os segmentos da cadeia de valor: "Devemos trabalhar lado a lado", disse ele. 

Lorena Ruiz, destacou a crescente demanda por algodão orgânico. No entanto, ela apontou desafios como o fornecimento de sementes para a produção orgânica e a questão da certificação. Ruiz acrescentou que o cultivo de algodão sustentável exige mais esforços e que não há oferta suficiente para essa demanda. Nesse sentido, ela destacou que as grandes marcas devem apoiar os agricultores desde o início da produção. “Muitos consumidores estão mais conectados com questões de sustentabilidade”. 

Fortalecimento do setor algodoeiro: a visão das agremiações

O segundo painel abriu espaço para ouvir a agremiações algodoeiras da América Latina e da África. Cesar Pardo, representante da Confederação Colombiana do Algodão (CONALGODÓN), comentou que atualmente um dos temas importantes para a agremiação é a competitividade do algodão. “Estamos trabalhando para voltar aos bons tempos do algodão no país, atender a demanda nacional e exportar para alguns países da América Latina. Pensamos com esperança no futuro do algodão na Colômbia”, disse.

Já Celso Muchut, da Associação para a Promoção da Produção de Algodão na Argentina (APPA), comentou que no mundo há 350 milhões de pessoas que trabalham com algodão e mais de 7 milhões de pessoas compram roupas feitas com essa fibra. “A qualidade da fibra vem da parte produtiva; por isso, trabalhamos muito com produtores e técnicos, nos capacitando para a qualidade do cultivo”. Representando o Brasil, Marcio Portocarrero, da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (ABRAPA), explicou que a retomada da cotonicultura no Brasil se deu em 2000, com base no cooperativismo, no associativismo e na alta tecnologia. “Hoje, somos o segundo maior exportador do mundo e o quarto maior produtor de algodão do mundo. É a segunda cadeia produtiva que mais gera empregos no país”, afirmou. 

Do continente africano, o representante do Fórum Nacional dos Produtores de Algodão de Moçambique (FONPA), José Domingos, apresentou a organização criada em 2005 pelos produtores de algodão com o objetivo de defender os interesses dos 25 mil associados, que representam a mais de 280 mil produtores no país. “O novo plano estratégico do FONPA visa facilitar a organização dos produtores de algodão, fortalecer suas capacidades de prestação de serviços, melhorar a rentabilidade, entre outros”. 

Algodão: a fibra que une

Durante o evento foi lançada a animação 'Algodão: a fibra que nos une', produzida no âmbito do projeto +Algodão, onde as personagens Ruan, Rosa e Alessandra explicam de forma simples e pedagógica os ciclos da cadeia algodoeira, desde o cultivo, passando pela transformação e a chegada ao consumidor. 

Organismos internacionais: as contribuições da cooperação sul-sul

A Coordenadora do projeto +Algodão, Adriana Gregolin, falou sobre o projeto executado há oito anos. Segundo Gregolin, foram necessários ajustes ao longo dos anos para uma visão mais abrangente da cadeia produtiva, com a inclusão de temas como inovação social, mercados inclusivos, entre outros. “Hoje estamos na terceira fase até 2024, onde buscamos construir a sustentabilidade dos resultados alcançados e da cadeia de valor do algodão”, afirmou. Gregolin acrescentou que este projeto também contribuirá para um modelo de produção sustentável validado por cinco países, com o apoio de todas as instituições brasileiras e nacionais: “tudo isso para um sistema de produção onde tenhamos algodão e alimentos. Porque esta é a realidade em nossos países. Oitenta por cento dos cotonicultores dos países onde atuamos são pequenos produtores e exigem ações diferenciadas”. 

O projeto Além do Algodão, executado pelo Centro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos (PMA) e pela ABC/MRE, foi apresentado por Albaneide Peixinho, Coordenadora do projeto. A iniciativa busca apoiar a vinculação de subprodutos do algodão e culturas afins e diversificadas, como milho e feijão, a mercados seguros, incluindo programas de alimentação escolar. Peixinho ressaltou que a principal missão é melhorar a qualidade de vida dos agricultores familiares por meio do fortalecimento dos canais de comercialização e do escoamento da produção sustentável certificada. “Não se trata apenas de plantar, é preciso oferecer educação alimentar e nutricional aos agricultores para que eles possam vender seus produtos para gerar renda e comprar outros alimentos que serão a base de sua dieta”. 

A coordenadora do projeto Promoção do Trabalho Decente nos países produtores de algodão, Fernanda Barreto, apresentou a iniciativa de cooperação Sul-Sul realizada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em conjunto com a ABC/MRE. Para a construção das ações do projeto, Barreto explicou que o primeiro passo foi a “identificação de fragilidades, como uso de agrotóxicos, falta de capacitação e mão de obra infantil”. A segunda etapa foi a identificação de soluções baseadas na cooperação Sul-Sul, como a promoção da associatividade, ações contra o trabalho infantil, promoção da segurança no trabalho, metodologias de formação e formação e qualificação profissional, entre outros. 

O evento foi encerrado por Haroldo Cunha, representando o Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), que destacou as vantagens do algodão em termos de sustentabilidade em comparação a outras matérias-primas, como espaço de oportunidade para a fibra. Sobre o trabalho de cooperação, ele comentou que é uma iniciativa que respeita as características de cada país, “onde acontece a troca de experiências brasileiras e que são adaptadas de acordo com a realidade e as diferenças entre os países, potencializando assim o conhecimento de cada região”. Cunha destacou a importância da organização dos agricultores para a sustentabilidade das ações e continuidade do fortalecimento do setor.