Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO

Estudo apresenta um panorama da agricultura familiar algodoeira na Colômbia

O projeto +Algodão e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com o apoio da instituição Conalgodón, realizaram um estudo que caracteriza a produção da fibra no país.

Foto: Aurelie Duray/FAO

Bogotá, Colômbia, 09 de maio de 2022 - Mais de oito anos de execução do projeto +Algodão geraram múltiplas lições e conhecimentos sobre a estreita relação entre a cadeia de valor do algodão, a agricultura familiar e a produção diversificada no setor, produto de sistemas agroalimentares instalados em territórios algodoeiros. Com esta introdução, foi aberto no dia 28 de abril o webinar "Políticas públicas para a agricultura familiar na América Latina – o caso do setor algodoeiro", que apresentou os principais resultados da análise realizada sobre o setor na Colômbia. 

O projeto +Algodão é uma iniciativa de cooperação sul-sul trilateral executada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE) e governos de sete países, incluindo Colômbia, por meio do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MADR). Este projeto integra as ações do Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO.

Panorama da cadeia do algodão na Colômbia

No país, destaca-se a sazonalidade das campanhas de produção do algodão, que se caracteriza como uma safra semestral, ciclo que pode ser afetado por épocas de estiagem e outros efeitos da variação climática. 

Além disso, essa cultura tem sido transmitida entre gerações de produtores dedicados à agricultura familiar em associação com outros meios de subsistência agrícolas e que, por sua vez, garantem a segurança alimentar de seu núcleo familiar por meio do consorcio do algodão com culturas alimentares.

O estudo sobre a "Tipologia da agricultura familiar na cadeia produtiva do algodão" foi produzido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, liderado pelo professor Sergio Schneider, em parceria com a Confederação Colombiana do Algodão (Conalgodón ), no âmbito do projeto de cooperação +Algodão. Neste documento foram analisados ​​fatores como a taxa de produção desta cultura, suas vantagens competitivas e sua continuidade. 

Segundo o professor Schneider, essa tipologia foi elaborada sob dois indicadores: o nível de produção e a diversificação. De acordo com o estudo realizado, na Colômbia, 69,1% dos produtores de algodão vinculam a diversificação de produtos em suas propriedades; no entanto, apenas 40% destes têm espaços muito pequenos dedicados ao cultivo do algodão.

Outros aspectos identificados foram a baixa utilização de insumos biológicos na produção de algodão, bem como a alta demanda de mão de obra da agricultura familiar nesta cadeia produtiva. “Em termos de assistência técnica e extensão rural, apenas 6% das mulheres algodoeiras receberam este serviço, o que chama a atenção porque este deve ser um elemento a ser considerado no desenho de políticas que vão ao encontro das necessidades dos produtores e das produtoras e que anda de ´mãos dadas´ com processos de inovação e desenvolvimento sustentável”, explicou o professor.

Schneider acrescentou ainda que “esta análise nos fornece informações para reconhecer a importância de incentivar a extensão agrícola, os créditos de investimento, a transição para sementes e insumos produzidos pelos produtores, bem como o aumento da inovação, entre outras recomendações para que a Colômbia tenha sistemas algodoeiros mais fortes e estáveis”. É um estudo que fornece uma classificação de agricultores em diferentes tipologias, essencial para a implementação mais eficiente e eficaz de políticas públicas voltadas para o setor na Colômbia.

A coordenadora regional do projeto +Algodão, Adriana Gregolin, disse que o estudo classificou a agricultura familiar algodoeira em três categorias: 1) em desativação; 2) em processo de diversificação; e 3) categoria especializada nesta cultura. “É um estudo que proporciona, por meio da contribuição da academia, uma perspectiva de futuro em termos de políticas e estratégias mais efetivas para o setor algodoeiro, e que pode ser utilizada pelo governo nacional, pela agremiação dos produtores de algodão e até pelo setor privado”, avaliou a coordenadora.

Apoio à Agricultura Camponesa, Familiar e Comunitária (ACFC)

Camilo Ardila, especialista da representação da FAO Colômbia, apresentou alguns resultados do projeto Semeando Capacidades, iniciativa de Cooperação Sul-Sul trilateral que foi executada pelos governos do Brasil e da Colômbia e a FAO, para fortalecer instrumentos e políticas para Agricultura Camponesa, Familiar e Comunitária (ACFC), denominação ampliada do conceito de agricultura familiar utilizada na Colômbia. Este projeto, finalizado em dezembro de 2021, também fez parte das ações do Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO. 

Ardila explicou que, dentro do processo desenvolvido, baseado na troca de conhecimento, tanto com produtores, como com instituições, academia e setor privado, uma das ações de destaque foi a extensão agrícola, "na qual, a partir do 'aprender fazendo', as práticas culturais são resgatadas e a transferência de conhecimento e a abertura à inovação são promovidas”.

Da mesma forma, o especialista da FAO Colômbia destacou a agroecologia como uma área na qual a participação da ACFC é plena, e poderia ser um modelo de desenvolvimento rural sustentável a ser seguido. A agroecologia integra múltiplos fatores que impactam positivamente o meio produtivo, ambiental e social, como pode ser identificado durante o processo de construção de insumos para a atualização do Plano Estratégico de Ciência, Tecnologia e Inovação do setor agropecuário colombiano (PECTIA 2017-2027) e na proposta de diretrizes de políticas públicas em agroecologia para a Colômbia. 

O professor Álvaro Acevedo, do departamento de desenvolvimento rural da Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Nacional da Colômbia, apresentou considerações o tema da agroecologia, destacando a importância de levar em conta os processos de transição agroecológica para a segurança alimentar e nutricional na Colômbia. "Essa transição deve considerar várias condições, entre elas e talvez a mais importante: a otimização dos ciclos ecológicos no âmbito das propriedades rurais e do território, e os processos de inovação social e tecnológica, com foco na sustentabilidade".

Para Acevedo, pesquisador da área, "a transição agroecológica, juntamente com a participação ativa do ACFC, pode nos oferecer melhores alternativas para incrementar a produção, de forma sustentável e com impacto positivo no plano social e econômico", e acrescentou: "Nunca antes na história da humanidade foi tão importante considerar a forma como produzimos, sem ignorar o impacto que os alimentos têm na segurança e soberania alimentar, situações que a agroecologia pode resolver".