Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO

Mulher indígena da Bolívia trabalha com algodão há cinco décadas: uma arte com valor cultural

A artesã María Posiva aprendeu a fiar desde pequena. Atualmente, ela compartilha seus saberes ancestrais com outras mulheres para manter viva a cultura da fiação do algodão.

@FAO

Santiago do Chile, 8 de março de 2023“Tenho 62 anos e ainda trabalho com artesanato. Esta é a nossa arte”, se apresenta a agricultora e artesã María Posiva, do município de San Antonio de Lomerío, na Bolívia. Desde os 10 anos aprendeu o ofício da fiação com a avó e o algodão está presente na sua história de vida desde criança, pois sua família trabalhava na lavoura para produzir as próprias roupas.

Ainda muito jovem, juntou-se a um grupo de mulheres de sua comunidade, onde aprendeu a costurar e produzir redes. Casou-se e continuou com o artesanato do algodão, dividindo o dia entre os afazeres domésticos, o trabalho no campo e a fiação. Isso permitiu que ela contribuísse para a renda da família, ajudando os 11 filhos a cursar o ensino médio: “É um recurso que nós ajuda muito”.

Hoje, ela é presidente de uma associação de mulheres, formada por cerca de 50 parceiras, cujo trabalho se concentra no artesanato com fios de algodão. A artesã boliviana conta que seus produtos já cruzaram o Atlântico, conseguindo vender redes, toalhas de mesa e bolsas para países como a Itália. No entanto, ele reconhece que a pandemia as afetou: “Os turistas não vêm a San Antonio. (A pandemia) prejudicou muito o nosso trabalho.”

Porém, estamos em outro momento. María Posiva vê com muita esperança o retorno do cultivo do algodão em sua região: “O algodão estava se perdendo, mas agora está se recuperando com artesãos que trabalham, plantam algodão, fiam e tecem. "Eles estão nos despertando, para que voltemos a plantar algodão e, assim, não perdermos nossa cultura."

Hoje, a artesã também passa seus conhecimentos para outras mulheres, assim como foi ensinada quando era bem pequena. María Posiva compartilha seus saberes para a revalorização dos conhecimentos ancestrais, como o uso de raízes, caules, cascão ou cascas de plantas para o tingimento natural de fios de algodão.

Novos conhecimentos e intercâmbios

Com o apoio do projeto de cooperação +Algodão, ela e outras mulheres de sua associação conseguiram fortalecer suas capacidades por meio de cursos e trocas de experiências entre artesãs, inclusive de outros países da região. “Sabemos que o treinamento é sempre necessário para aprimorar o trabalho”, afirma.

O projeto, que integra as ações do Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO, é executado na Bolívia em conjunto pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE) e os Ministérios do Desenvolvimento Produtivo e Economia Plural (MDPyP) e do Desenvolvimento Rural e Terras (MDRyT).

Os problemas para obter os fios na Bolívia foram resolvidos com as máquinas de fiação fornecidas pelo projeto +Algodão. Agora, ela e as outras mulheres da associação continuam a tradição ancestral da fiação do algodão que aprenderam com suas mães e avós.

Para este 8 de março, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher, María Posiva deixou um recado às artesãs latino-americanas, como ela, para que não abram mão do artesanato: “Vamos trabalhar juntas, compartilhando ideias”.