FAO in Mozambique

"Pandemia veio exacerbar a situação de insegurança alimentar e nutricional"

Ministro da Agricultura, Primeiro Ministro e Coordenadora da ONU em Moçambique
16/10/2020

16 de Outubro 2020, Maputo- O Representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) em Moçambique, Hernani Coelho da Silva, alertou que a pandemia do Covid-19 poderá exacerbar ainda mais a situação de insegurança alimentar e nutricional, prevendo um aumento signicativo do número total de desnutridos no mundo em 2020.

"A pandemia do Covid-19 veio exacerbar ainda mais esta terrível situação. Avaliações preliminares com base nas últimas perspectivas económicas globais disponíveis sugerem que a pandemia COVID-19 pode adicionar entre 83 e 132 milhões de pessoas ao número total de desnutridos no mundo em 2020, dependendo do cenário de crescimento económico (perdas variando de 4,9 a 10% pontos no crescimento do PIB global)", declarou.

O Representante da FAO falava durante as celebrações do Dia Mundial da Alimentação, sob o lema "Cultivar, Alimentar, Preservar Juntos – As Nossas Acções São o Nosso Futuro", no evento realizado em Maputo, no Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural.

"Se por um lado nos deparamos com centenas de milhões de vidas em risco por falta de alimentos, ao mesmo tempo somos alertados para a necessidade de evitar comportamentos e escolhas de dietas que possam resultar em exesso de peso e obessidade, que na mesma medida constituem um problema de saúde pública em muitos países do mundo", acrescentou.

Para atenuar a situação, segundo o Representante da FAO, é necessário definir acções inteligentes e sistêmicas que garantam uma produção e distribuição adequadas: "levar o alimento a quem precisa e melhorar o comportamento do consumo para quem já o têm. Devemos investir esforços para evitar perdas e desperdícios dos alimentos, melhorando os sistemas de armazenamento, processamento, transporte, distribuição e comportamento dos consumidores", disse.

Nesta data, que também se assinala o 75º aniversário da criação da FAO, a Organização defende que, "além das ferramentas convencionais, as novas tecnologias, as ferramentas digitais e inteligência artificial, devidamente utilizadas, poderão incrementar a produtividade, contribuir para prever ameaças à colheita, reduzir as perdas e desperdícios, antecipar os riscos climáticos e pôr em acção os mecanismos de protecção do ecossistema e da biodiversidade".

Em representação do Governo de Moçambique, o Primeiro Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, que dirigiu a cerimónia, defendeu o aumento da produção no sector agrário para a melhoria da segurança alimentar no país.

"Ao aumentarmos a disponibilidade e acesso de alimentos à população, estaremos igualmente a melhorar a segurança alimentar no âmbito do Iniciativa "Fome Zero'", e deste modo reduzir a taxa de desnutrição crónica no nosso país" destacou.

É neste contexto, prosseguiu o Primeiro Ministro, que o Governo moçambicano colocou a agricultura no topo da sua agenda, alinhado com os compromissos assumidos ao nível da Comunidade de Desenvolvimento dos Países da África Austral (SADC, na sigla inglesa), da União Africana e das Nações Unidas, sobretudo para o alcance do segundo Objectivo de Desenvolvimento Sustentável, que tem como meta "Fome Zero e Agricultura Sustentável"até 2030.

O primeiro-ministro indicou que,nos últimos anos, o Governo têm vindo a fazer esforços para aumentar os recursos para agricultura, estando actualmente a alocar cerca de 10% do total do Orçamento do Estado para este sector, o que contribui para o aumento das áreas cultivadas, a assistência e a extensão agrária.

Segundo dados oficiais, os níveis de insegurança alimentar crónica em Moçambique estão nos 24% e a desnutrição crônica está em 43% em crianças dos 0-5 anos, afectando principalmente o norte do país.

Em 2019, aproximadamente, 700 milhões de habitantes do nosso planeta continuavam a passar momentos de fome, dos quais 135 milhões enfrentaram situações de crise alimentar, e desses, mais de metade foram registados em 36 países da África.

As celebrações do Dia Mundial da Alimentação em Maputo contaram com a presença da Coordenadora Residente das Naçoes Unidas em Moçambique, Myrta Kaulard, representantes de missões diplomáticas, quadros do Governo moçambicano e sociedade civil.