FAO in Mozambique

Agricultura familiar e desenvolvimento debatidos em conferência

Conferência foi a última actividade em torno do "Ano Internacional da Agricultura Familiar"
04/12/2014

A poucas semanas do fim de 2014, declarado pelas Nações Unidas "Ano Internacional da Agricultura Familiar" (AIAF), a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) participou esta quinta-feira (4.12.) numa conferência sobre "Agricultura Familiar e Desenvolvimento em Moçambique". O evento, organizado em parceria com o Observatório do Meio Rural (OMR) e a União Nacional de Camponeses (UNAC), reuniu ainda representantes do Governo e de associações de agricultores.

Na abertura da conferência, o Representante da FAO em Moçambique, Castro Camarada, lembrou que o objectivo do AIAF foi, ao longo dos últimos 12 meses, aumentar a visibilidade da agricultura familiar e dos pequenos produtores, chamando a atenção mundial para o seu importante papel na "erradicação da fome e da pobreza, na garantia de segurança alimentar e nutricional bem como na melhoria dos meios de subsistência, na gestão dos recursos naturais e na protecção do meio ambiente para o desenvolvimento sustentável, particularmente nas zonas rurais".

O AIAF 2014 pretendeu reposicionar a agricultura familiar no centro das políticas agrícolas, ambientais e sociais nas agendas nacionais, identificando lacunas e oportunidades para promover uma mudança rumo a um desenvolvimento mais equitativo e equilibrado. "Todos estes aspectos são relevantes para o contexto de Moçambique", continuou Camarada, "a julgar pela estrutura económica e agrária do país, onde este sector é predominante".

Ainda assim, os pequenos produtores e os agricultores familiares continuam a enfrentar diversos desafios, como "a urbanização e o envelhecimento da população rural", disse Hélder Muteia. O Representante da FAO em Portugal afirmou ainda que as soluções, que se buscavam no passado para ter disponibilidade de alimentos, como a expansão das áreas de cultivo ou a revolução verde, hoje já não funcionam. Isto, porque, "por um lado, o actual potencial de expansão não ultrapassa os 20 por cento e, por outro, porque a revolução verde, com a substituição do trabalho humano por máquinas, não teve em consideração a sustentabilidade ambiental".

Quais as soluções actuais para garantir tal sustentabilidade na agricultura e no desenvolvimento, como apoiar o sector e fomentar a educação nutricional foram, entre outros, temas debatidos ao longo da conferência. "Não há dúvida de que a agricultura familiar é muito importante." Entre as razões apontadas na sua intervenção sobre "Políticas e Ideologias da Agricultura Familiar", o Director Executivo do OMR, João Mosca, mencionou a geração de emprego, a produção de alimentos, a conservação ambiental e o desenvolvimento. Contudo, o nível de produtividade agrícola em Moçambique permanece "muito baixo", não sendo suficiente para erradicar a pobreza. Segundo Mosca, "é necessário que haja transformações estruturais como a criação de condições para que outros sectores possam absorver a produção agrícola, é necessário que haja criação de emprego nesta e noutras áreas e é necessário que haja diversificação na agricultura".

Também de acordo com Castro Camarada, "Moçambique atravessa um momento importante sob o ponto de vista económico", registando altas taxas de crescimento. Contudo, concluiu o Representante da FAO em Moçambique, "se entendermos desenvolvimento no sentido lato e com o objectivo de melhorar a condição humana e a avaliar pelos dados da pobreza no meio rural, torna-se fácil depreender que o desenvolvimento no país está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento rural e, muito particularmente, ao desenvolvimento da agricultura, da agro-indústria e de toda uma cadeia de subsectores com eles relacionados".

A conferência sobre "Agricultura Familiar e Desenvolvimento" enquadrou-se no leque de actividades em torno do "Ano Internacional da Agricultura Familiar" como parte de uma ampla discussão e cooperação no âmbito nacional, regional e global para aumentar a consciencialização e o entendimento dos desafios que os pequenos produtores enfrentam e ajudar a identificar formas eficientes de apoiar os agricultores familiares.