FAO in Mozambique

Embaixador dos EUA junto das agências da ONU em Roma visita projectos em Manica

"A colaboração entre as três agências da ONU em Moçambique é impressionante", disse D. Lane
12/12/2014

Pouco antes de deixar Moçambique, o Embaixador norte-americano junto das agências das Nações Unidas dedicadas à alimentação e agricultura, baseadas em Roma, David Lane, afirmou que "a colaboração entre as três agências da ONU em Moçambique é impressionante". A visita de Lane à província de Manica, no centro de Moçambique, terminou esta sexta-feira (12.12.), depois de, ao longo de cinco dias, ter visitado agricultores e agro-negócios emergentes assim como projectos da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e das três agências da ONU – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e Programa Mundial para a Alimentação (PMA).

A viagem do Embaixador Lane teve como objectivo verificar a cooperação entre os Estados Unidos e as três agências no apoio a pequenos agricultores e agro-negócios locais bem como ao Governo moçambicano no sentido de aumentar a segurança alimentar e nutricional e promover o desenvolvimento agrícola no país. Durante a sua deslocação, o Embaixador fez-se acompanhar pelos representantes das três agências da ONU no país, Castro Camarada (FAO), Custódio Mucavel (FIDA) e Abdoulaye Baldé (PMA) bem como por uma delegação de jornalistas de Moçambique, da Etiópia, da Namíbia, do Ruanda, da Suazilândia e da Tanzânia.

No fim da viagem, o Representante da FAO, Castro Camarada, disse esperar que "as actividades seleccionadas para mostrar à delegação tenham reflectido a forma como as agências colaboram em termos práticos nos programas de SAN". Também para o Representante do PMA, Abdoulaye Baldé, a viagem "foi uma boa oportunidade para ver o trabalho que as três agências estão a desenvolver no sentido de promover segurança alimentar e nutricional (SAN) em Moçambique".

Fomentando a produtividade agrícola

No primeiro dia da viagem (8.12.), o grupo visitou o Laboratório Regional de Sementes de Chimoio, renovado em 2012 com apoio da FAO, que, na ocasião, forneceu novo equipamento para certificação das sementes e formou os seus técnicos no âmbito do sub-programa "Acelerar o Progresso Rumo ao Alcance do ODM1c em Moçambique" (ODM1c).

Num país onde 91 por cento das sementes usadas na produção agrícola são obtidas no mercado informal, "é crucial testar a sua qualidade que, normalmente, é bastante baixa", disse o Director do laboratório, Manuel Bacicolo, durante a visita da delegação. "O controlo feito neste laboratório garante um poder germinativo das sementes que chegam aos agricultores ao nível dos standards internacionais", acrescentou Walter de Oliveira, Coordenador da FAO do sub-programa ODM1c. Este sub-programa de cinco anos (2013-2018) é financiado pela União Europeia e pelo Governo de Moçambique e implementado conjuntamente pela FAO, pelo FIDA e pelo PMA. As sementes distribuídas pela FAO na região através da componente de voucher do ODM1c são testadas neste laboratório.

Promovendo segurança alimentar

Ainda hoje, 24 por cento dos agregados familiares moçambicanos sofrem de insegurança alimentar crónica e 43 por cento das crianças com idades inferiores a cinco anos sofrem de desnutrição crónica. No segundo dia da viagem, a delegação visitou o Centro de Saúde 1º de Maio, uma de mais de 120 unidades hospitalares onde, com financiamento da USAID, o PMA distribui, desde Março de 2014, suplementos alimentares altamente nutritivos.

No mesmo dia, o grupo visitou ainda o agricultor Lucas Mujuju, que produz leite e iogurte à base de soja. Mujuju começou o seu negócio, entretanto financiado por um projecto da USAID, numa barraca dentro do recinto da Feira Popular de Chimoio e hoje está a construir a sua própria fábrica com a sua própria marca: Só Soja. O objectivo por detrás da mudança de instalações, disse, é "cumprir as normas de higiene, requisito necessário para poder vender em grandes quantidades, por exemplo, para supermercados". Tal como este empresário, também a Optima Industrial, onde a delegação esteve depois, recebeu assistência da USAID. A Optima produz agora suplementos alimentares energéticos para famílias em situação de insegurança alimentar, escolas, lojas e organizações como o PMA.

Ainda na terça-feira a delegação passou pelo Centro de Agro-negócios de Vanduzi, uma empresa privada apoiada pelo projecto da USAID AgriFuturo, que pretende transformar agro-negócios em empresas sólidas nas áreas de fornecimento de insumos e serviços relacionados de forma a aumentar a produção de pequenos agricultores e melhorar a qualidade dos seus produtos.

Apoiando negócios emergentes

O grupo teve também a oportunidade de interagir com Tomé Zacarias, da localidade de Mutocoma, distrito de Gondola. O moçambicano tem vindo a dedicar-se à aquacultura desde 2002. Desde então, já construiu cinco tanques com a mulher e os filhos. Zacarias é um de mais de 150 agricultores que estão a beneficiar do Projecto de Promoção de Aquacultura de Pequena Escala, PROAQUA, financiado pelo FIDA. O aquacultor não só alimenta, agora, a sua família como também vende parte da sua produção. "A criação de peixes ajuda-me a diversificar a minha cultura e, mesmo que a colheita da machamba seja fraca, posso alimentar e sustentar a minha família", afirmou com orgulho. Tal postura vai de encontro à visão do Embaixador norte-americano: "Os produtores agrícolas e pesqueiros não devem apenas alimentar as suas famílias, mas também vender os seus produtos", disse Lane. "Ao fazê-lo estão a garantir rendimentos que permitem educar os seus filhos e, assim, melhorar as suas vidas."

Reforçando os meios de subsistência

Um dos mais claros exemplos da colaboração entre as três agências de Roma é o sub-programa ODM1c. Durante a visita, no último dia de campo (11.12.), à Escola na Machamba do Camponês (EMC) ‘Kubakema Kurima’, na localidade de Bandula, Messica, foi Timóteo Tapera, o facilitador da escola, que apresentou o método da EMC aos visitantes. Esta é uma abordagem alternativa que fomenta a capacidade de os agricultores analisarem a sua produção e identificarem as suas principais dificuldades, testando possíveis soluções no campo e adoptando, posteriormente, as práticas e as tecnologias mais adequadas. Para Castro Camarada, "o método da EMC é uma abordagem participativa com grande potencial para trazer transformação visando a melhoria dos sistemas de produção", ao que Tapera acrescentou: "A forma como a comunidade aprende na EMC ajuda-nos a desenvolver-nos como agricultores. Com novas técnicas de cultivo e sementes de qualidade, produzimos mais em pequenas parcelas de terra."

Já no fim do dia, o grupo visitou uma família de camponeses que agora armazena a sua produção num dos celeiros melhorados que a FAO promove: os celeiros do tipo Gorongosa, com capacidade para armazenar uma tonelada, resistentes a humidade, parasitas e roedores, o que reduz em grande medida o risco de perdas pós-colheita. Antes de deixar Manica, David Lane viria a dizer destes celeiros: "O que nós vimos é uma inovação. Um método de armazenamento de produtos agrícolas de baixo custo e tão eficaz é, sem dúvida, uma inovação."