FAO in Mozambique

FAO e OIT lançam novo guia ilustrado para proteger crianças de pesticidas

Trabalhador usando pesticida numa quinta no Madagáscar
13/05/2015

Com a ajuda de um novo guia desenvolvido pela FAO e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), os extensionistas agrícolas em África e noutras regiões vão poder trabalhar com as comunidades rurais para reduzir a exposição de crianças aos pesticidas tóxicos usados na agricultura. Cerca de 100 milhões de crianças e adolescentes com idades entre 5 e 17 anos estão submetidas a trabalho infantil na agricultura, de acordo com estatísticas da OIT. Muitas estão directamente expostas a substâncias químicas tóxicas, quando trabalham em actividades agrícolas. As crianças também ficam expostas quando ajudam nas tarefas familiares ou brincam nos campos e através da comida que ingerem e a água que bebem. As crianças são muito mais sensíveis aos pesticidas do que os adultos. A exposição pode levar a intoxicação aguda e a criança pode adoecer imediatamente após o contacto. Mas muitas vezes também há consequências a longo prazo – e que podem se tornar crónicas – para a saúde e o desenvolvimento. Limitar o uso de pesticidas e promover alternativas não-tóxicas é importante para reduzir a exposição, mas a educação também é crucial.

O novo guia da FAO e da OIT 'Proteger as crianças de pesticidas' proporciona uma ferramenta fácil de usar e acessível. Ajuda extensionistas, professores rurais, inspectores de trabalho e as organizações de produtores a ensinar aos agricultores e suas famílias a identificar e minimizar os riscos em casa e na machamba. Eles também aprendem a reconhecer e responder a sinais de exposição a substâncias tóxicas.

O guia conta com três módulos principais: como as crianças estão expostas a pesticidas; quais os riscos para a sua saúde – e por que as crianças são especialmente vulneráveis –; e o que pode ser feito para reduzir esses riscos.

Crescente interesse

"A ferramenta foi inicialmente desenvolvida no Mali, onde é agora amplamente utilizada pelos extensionistas, as Escolas na Machamba do Camponês, os inspectores de trabalho e as organizações de produtores", disse Rob Vos, director da Divisão de Protecção Social da FAO. "O seu uso", acrescentou, "também se está a expandir no Níger e noutros países africanos. Estamos a ver um crescente interesse de outras regiões. O guia não só está a consciencializar sobre a necessidade de fazer alguma coisa, mas também mostra o que fazer".

Nem todas as situações são iguais. O guia está disponível em várias línguas (inglês, francês, português e espanhol e em breve será traduzido para russo) e também se adapta a diferentes contextos regionais, incluindo a Europa Oriental, o Cáucaso e a Ásia Central, a América Latina e as Caraíbas bem como a Ásia-Pacífico. Os gráficos e as ilustrações também se adaptam na mesma medida.

Apoio da Convenção de Roterdão

O esforço para adaptar o guia ilustrado e promover a utilização mais ampla conta com o apoio da Convenção de Roterdão, um tratado multilateral para promover a responsabilidade conjunta em relação à importação de produtos químicos perigosos. A Secretaria da Convenção é presidida conjuntamente pela FAO e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

"Esse é um bom exemplo de como o trabalho normativo de uma convenção pode contribuir para atingir grupos mais vulneráveis e melhorar as suas vidas", disse Christine Fuell, coordenadora da FAO para a Convenção de Roterdão. "As coloridas ilustrações", explicou, "baseiam-se no conhecimento local e referem-se a situações muito concretas e reais, que também atraem as crianças, aumentando a sua própria consciência sobre os riscos associados aos pesticidas".

A FAO lançou o guia durante uma cerimónia realizada no âmbito da Conferência das Partes para a Convenção de Roterdão (RC COP-7), que decorre em Genebra até ao próximo dia 15 de Maio.

Porque é que as crianças enfrentam o maior risco?

As crianças são particularmente vulneráveis à exposição de pesticidas por várias razões biológicas e comportamentais.

As crianças respiram mais ar do que os adultos e, portanto, aspiram mais poeira, vapores tóxicos e gotas de pulverização. Em relação ao seu peso corporal, as crianças precisam de comer e beber mais do que os adultos e se os alimentos estão contaminados, absorvem mais toxinas. A área da superfície da pele de uma criança por unidade de massa corporal é maior do que a de um adulto e a pele é mais delicada. Todos esses factores podem levar a uma maior absorção de produtos químicos e os corpos das crianças são menos capazes de eliminar os pesticidas, porque ainda não estão plenamente desenvolvidos, alerta o manual.

As crianças pequenas brincam frequentemente no chão, colocam objectos na boca e são atraídas por recipientes coloridos, todos esses são comportamentos típicos que aumentam o risco de uma intoxicação.