FAO in Mozambique

Cheias nas províncias da Zambézia e de Sofala

300 000 pessoas foram afectadas pelas cheias de Janeiro de 2015
29/04/2015

Na estação chuvosa de 2014/2015, Moçambique foi atingido por fortes chuvas que levaram a graves cheias, particularmente entre Janeiro e Março de 2015. A 12 de Janeiro, o Conselho de Ministros declarou alerta vermelho para as regiões centro e norte do país. O Coordenador Nacional de Emergência da FAO Moçambique nas províncias da Zambézia e de Sofala, Alberto Chidiamassamba, chegou à região afectada a 23 de Fevereiro e visitou os distritos das duas províncias em Março. Falámos com o Alberto sobre as suas experiências durante a emergência.

FAO Moçambique (FAOMZ): Que situação encontrou nas duas províncias depois de estas terem sido atingidas pelas cheias do passado mês de Janeiro?

Alberto Chidiamassamba (AC): Quando cheguei às duas províncias, a chuva continuava intensa e persistente, principalmente na Zambézia. Os rios ainda transportavam grande volume de água. As famílias afectadas ainda estavam a ser socorridas e assistidas, as vias de acesso permaneciam intransitáveis. Havia povoações, localidades e postos administrativos isolados, pontes, sistemas de regadio e de abastecimento de água e outras infaestruturas económicas e sociais destruídos e/ou danificados, áreas agrícolas com sementeiras inundadas e culturas arrastadas. Devido ao excesso de humidade e ao alto nível de erosão superficial, os solos estavam saturados. Muitas famílias tinham perdido os seus poucos bens e encontravam-se em condições precárias. Os governos locais e os parceiros de cooperação socorriam e prestavam assistência à população. Independentemente das capacidades e dos recursos disponíveis, estavam todos muito empenhados.

FAOMZ: Que efeitos se calcula que as cheias venham a ter sobre a agricultura local a longo prazo?

AC: Para mim, os efeitos a longo prazo não estão ainda claros. Mas a curto e a médio prazos, cheias desta magnitude interrompem momentaneamente o ciclo normal das actividades agrícolas, destroem as reservas alimentares e reservas de sementes locais. Matam os animais de pequeno porte que são fonte e recurso complementar da renda familiar e de proteína animal. Portanto, as cheias desarticulam a programação e a gestão normal do processo produtivo na agricultura, em particular, e no sector agrário, em geral, o que leva tempo a repor. As famílias são obrigadas a dividir os esforços para retomar as actividades agrícolas e, simultaneamente, reconstruir as suas casas.

FAOMZ: A FAO está a prestar assistência a 11 000 famílias na Zambézia e em Sofala, duas das províncias mais afectadas pelas cheias do início do ano. Em parceria com o Governo de Moçambique e a organização não-governamental moçambicana KULIMA, a FAO distribuiu sementes e utensílios pelos agregados familiares mais vulneráveis de sete distritos de ambas as províncias. Que impacto poderá ter o apoio da FAO nas vidas dessas famílias?

AC: Estamos a falar de famílias que perderam quase tudo. Em algumas povoações, a semente e os utensílios recebidos foram imediatamente usados para a retoma da produção agrícola, uma vez que a terra ainda apresentava humidade residual e ainda chovia, dando esperança aos produtores de obter uma colheita nos meses que se seguiriam. Noutros casos, as famílias, usandos os utensílios recebidos, prepararam as parcelas (machambas) para, logo que fosse oportuno, lançar à terra a semente recebida de forma a garantir uma colheita o mais cedo possível. Portanto, os kits recebidos serviram de estímulo, incentivaram o trabalho nas machambas e criaram esperança que permitiu que as famílias retomassem as suas actividades.

FAOMZ: Cheias são um fenómeno natural recorrente em Moçambique, sobretudo ao longo dos maiores rios e nas principais bacias hidrográficas do país. Que acções podem ser levadas a cabo a longo prazo para que a assistência na recuperação seja sustentável?

AC: Não pretendo propor acções concretas. De qualquer forma, quaisquer acções a levar a cabo a longo prazo para uma assistência sustentável na recuparação dependem muito do profundo conhecimento que se tiver sobre a realidade sociológica e cultural e das famílias afectadas e/ou famílias vivendo em zonas de alto risco. Na minha percepção, quanto menos preparadas para enfrentar ocorrências desta magnitude as famílias estão, mais vulneráveis se tornam e, portanto, mais prejudicadas acabam por ser.

FAOMZ: Duas dicas sobre procedimentos de segurança para aqueles que vivem em áreas de risco quando uma cheia é previsível:

Que medida se deve tomar em primeiro lugar?

AC: Levar em consideração e partilhar a primeira informação sobre o perigo eminente e socorrer os mais vulneráveis de forma a salvaguardar as vidas e os bens básicos.

O que não se deve fazer em caso algum?

AC: Não se deve menosprezar o primeiro sinal que se receber ou o primeiro aviso de um perigo eminente.

N.B. As afirmações são da inteira responsabilidade do Coordenador Nacional de Emergência da FAO Moçambique nas províncias da Zambézia e de Sofala, Alberto Chidiamassamba, e não reflectem necessariamente a visão da FAO.

Nas cheias do início de 2015, que atingiram sobretudo as regiões centro e norte de Moçambique, mais de 300 000 pessoas foram afectadas, mais de 50 000 instaladas em centros de realojamento e mais de 160 perderam a vida. Só a 10 de Abril, o Governo do país declarou alerta verde para as regiões afectadas.