FAO in Mozambique

Promovendo a agricultura de conservação em Moçambique

Agricultora explicando a prática aos visitantes
30/03/2017


A Agricultura de Conservação em Moçambique tem sido uma prática cada vez mais aceite por parte dos produtores agrários que veem nesta técnica uma forma de aumentar a produtividade com baixos custos de produção e uma maior protecção dos solos.

No Campo

Foi através desta prática que o agricultor José Sixpene Macorreia, em pouco espaço de tempo, notou um aumento significativo na sua produção, tendo-se tornado num líder de transmissão de práticas agrícolas de agricultura de conservação na localidade de Marera, distrito de Macate, onde reside.

Foi em 2006 que Macorreia deu início a abordagem da agricultura de conservação numa área de 2 hectares produzindo culturas de milho, feijão bóer e mapira através da sementeira em linha e da rotação de culturas.

Desta nova prática, o pequeno agricultor consegue o dobro da quantidade que obtinha na agricultura convencional. Pelos resultados encorajadores, Macorreia recebe regularmente na sua machamba agricultores das redondezas que apreciam os seus campos e procuram aprender a prática.

O agricultor refere que não lhe falta vontade de trabalhar e aumentar a sua área de produção apesar do sacrifício que esta técnica exige.

"Acho que a agricultura de conservação é melhor. Numa pequena porção dá para tirar muita produção, mas é uma técnica que requer muita ajuda financeira para a compra de insumos agrícolas e pesticidas", afirma o agricultor, acrescentando que " ainda cultiva pequenas áreas por causa das dificuldades financeiras e seria bom se o governo e os parceiros pudessem prestar algum apoio".

Sobre o Seminário

Com vista a promover esta prática, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em parceria com a Cooperação Austríaca para o Desenvolvimento (CAD) e a Embaixada da Noruega, através do projecto PROMAC, implementado pela CLUSA em Manica, realizaram um Seminário sobre a Agricultura de Conservação no país com o objectivo de sensibilizar aos produtores sobre a importância deste tipo de agricultura para a segurança alimentar e para a redução dos efeitos adversos das mudanças climáticas, através da partilha de conhecimentos e experiências no país e na região austral de África.

O evento contou com a participação de técnicos dos distritos e extensionistas de todo o país, representantes do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM), a Plataforma Nacional da Agricultura de Conservação e a Embaixada da Noruega, através da CLUSA, incluindo associações de camponeses e pequenos produtores praticantes da agricultura de conservação e especialistas da área vindos de países como Zimbábwe e Swazilândia.

Durante a abertura do evento, o Governador da Província de Manica, Alberto Mondlane, destacou a "necessidade de erradicar a fome", realçando que "a estratégia é aumentar a produção e a produtividade".

Mondlane enfatizou que "este é um grande desafio que os moçambicanos tem, pois importa saber conjugar as acções da agricultura de conservação com as necessidades de produção, boa produtividade e qualidade dos produtos".

Para o Representante da FAO em Moçambique, Castro Camarada, "o país tem registado um esfoço notável para a promoção da agricultura de conservação e este evento pretende complementar e colaborar com os esforços da Plataforma Nacional de Agricultura de Conservação, uma parceria público-privada impulsionada por diversas organizações de apoio ao desenvolvimento agrário em Moçambique".

Castro Camarada referiu-se ainda ao "crescente aumento populacional estimado em 2.4 Biliões até 2050 em África", daí a necessidade do continente, onde 80% da população vive com base na agricultura, "incentivar práticas agrícolas que promovam o uso racional da terra e da água" com todo apoio possível.

O seminário incluiu também visitas de campo as localidades de Vanduzi e Bandula onde os participantes puderam intervir com os pequenos agricultores praticantes da agricultura de conservação em Manica.

Em Representação da Cooperação Austríaca para o Desenvolvimento em Moçambique, Eva Kohl afirmou que "este seminário vem relançar a discussão em torno da Agricultura de Conservação, dada a importância desta tecnologia como medida de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, sobretudo das secas prolongadas que se tem registado nas zonas sul e centro de Moçambique, prejudicando fortemente a segurança alimentar das famílias de produtores das zonas rurais que enfrentam problemas de baixos rendimentos, solos empobrecidos e falta de capital".

Plataforma Nacional de Agricultura de Conservação

A Plataforma Nacional de Agricultura de Conservação foi criada em 2015, envolvendo diversas agências públicas e privadas com objectivo de dinamizar a realização de pesquisas na área, documentar os trabalhos de pesquisa e extensão da Agricultura de Conservação e desenvolver políticas para a massificação desta iniciativa promovida pela USAID no âmbito da criação de uma plataforma de investigação e transferência de tecnologias.

De acordo com o responsável pela plataforma e Pesquisador na área de fertilidades de solos no IIAM, Ricardo Maria, "o seminário serviu para colher diversas experiências que vão contribuir para a sistematização da informação, criação de banco de dados e publicações relacionadas a área de agricultura de conservação".

Maria disse ainda que esta iniciativa vai ajudar a plataforma a integrar novas componentes, novas tecnologias e perceber como os agricultores actuam na área. Acrescentou que "o dia de campo serviu para colher as fraquezas das abordagens usadas na agricultura de conservação de forma a percebermos que metodologias podemos usar nos próximos passos".