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Reduzir o risco da agricultura em Cabo Verde


A Cooperação Sul-Sul FAO-China oferece soluções agrícolas para mudanças e desafios

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Os impactos das alterações climáticas em Cabo Verde são evidentes, com a seca e as pragas a afectarem a produtividade e os rendimentos dos agricultores do país, como Elisabeth da Conceição. ©FAO/Giuseppe Carotenuto

25/07/2024

Os feijões saem da vagem quando Elisabeth da Conceição os põe a secar. É o fim da época das colheitas. Este ano, choveu o suficiente para que Elisabeth pudesse guardar uma parte do feijão, da batata-doce e do milho para o consumo da família, mas também para vender. Tudo depende da chuva.  

Embora o clima em Rui Vaz, nas altas colinas da ilha capital de Cabo Verde, Santiago, seja húmido e receba mais precipitação do que no resto do país árido, também aqui houve grandes mudanças.

"Nos últimos tempos, a precipitação tem sido um dos maiores desafios porque, como sabemos, o clima mudou. Chove menos. Gastamos muito dinheiro para produzir e, quando há falta de chuva, perde-se tudo", diz Elisabeth.

Com as mudanças no clima, Cabo Verde, como muitos outros países, não só tem visto uma diminuição da chuva, mas também tem visto um aumento de pragas agrícolas. Em 2017, a lagarta do cartucho chegou ao país dizimando grande parte das culturas de milho, e não só. Mas também se registou um aumento de muitas outras pragas.

Elisabeth conta: "O maior desafio desde 2016 até agora tem sido as pragas, como a lagarta do milho, o percevejo verde, os insectos... É preocupante porque em Rui Vaz a agricultura é uma fonte de rendimento, é o sustento das famílias".

É este tipo de preocupações que uma acção de formação oferecida pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), no âmbito do Programa de Cooperação Sul-Sul (CSS) FAO-China, está a abordar.

Especialistas da China estão a transmitir conhecimentos especializados para combater estes desafios. Através de formações práticas, Zhiqi Li, especialista em produção animal, e Yanhua Zeng, especialista em horticultura, estão a mostrar formas de lidar com várias questões, como a poupança de água através de técnicas de irrigação adequadas ou a produção de fertilizante orgânico feito a partir de estrume e outros materiais facilmente disponíveis.

Também mostraram aos agricultores como implementar um melhor controlo das pragas através de armadilhas com feromonas e outras soluções inovadoras e não químicas. Com estas e outras dicas, Elisabeth e outros agricultores de Cabo Verde estão a assistir a um aumento da produção, apesar das chuvas irregulares e das invasões de pragas. 

Como um pequeno Estado insular em desenvolvimento, Cabo Verde também está fortemente dependente das importações de alimentos, rações e outros bens. O aumento dos preços destes bens de primeira necessidade exerceu uma pressão adicional sobre os agricultores. ©FAO/Giuseppe Carotenuto

Cabo Verde não está certamente sozinho nestes desafios climáticos, mas é um país único, composto por 10 ilhas, nove das quais são habitadas. Faz parte da faixa árida do Sahel da África continental, apesar de estar situado a cerca de 500 quilómetros da costa, em pleno Oceano Atlântico. Cabo Verde faz parte de um grupo de países conhecidos como Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (PEID) que enfrentam um conjunto de desafios diferentes de outros países em desenvolvimento e distintos dos países continentais.

"A exposição à erosão [do solo] é algo que realmente define um PEID... Estamos em mar aberto, no meio do Oceano Atlântico. Podemos ver que as condições de vento são mais elevadas do que noutros locais", afirma Ana Laura Touza, Representante da FAO em Cabo Verde. "Mas há outras questões não relacionadas com o clima que também definem os PEID. E essas estão relacionadas com a dependência da importação de alimentos, em particular no contexto do aumento do preço dos alimentos básicos que, nos últimos anos, mais do que duplicaram", continua.

As parcerias são ainda mais importantes nestes contextos. "O que precisamos é de adaptar o sistema de produção a estes desafios e construir uma agricultura inteligente. Isto requer financiamento, reforço de capacidades, inovação e o que vemos é que também precisamos de uma cooperação muito forte com os nossos parceiros", afirma Gilberto Silva, Ministro da Agricultura e do Ambiente de Cabo Verde. 

Com o projecto de CSS da FAO, os especialistas agrícolas da China estão a ajudar os agricultores a reduzir o risco da agricultura, ensinando-lhes técnicas acessíveis e replicáveis que os ajudam a poupar água, a evitar as pragas e a aumentar os rendimentos. ©FAO/Giuseppe Carotenuto

Elisabeth termina a colheita do feijão e regressa a casa para preparar a filha para a escola. A mãe, a irmã e a filha estão na cozinha a preparar o bolo de milho "cuscuz", uma especialidade caseira de Cabo Verde. Este bolo denso servido com ovos ou feijão dá a Elisabeth e à sua irmã a energia necessária para a tarde, em que vão estar a tratar do gado e a preparar a terra, implementando as novas técnicas que aprenderam nas sessões de formação sobre produção hortícola, gestão do solo e controlo de pragas.

"A agricultura é importante para mim porque a vejo como um berço. Foi onde eu cresci e ensino a sua importância à minha filha. Quero que ela compreenda o seu significado... Mas, nos últimos anos, tornou-se muito incerta devido à seca severa, às numerosas pragas, e não é algo em que se possa confiar. É uma questão de sorte", comenta Elisabeth.

As suas palavras são verdadeiras para muitos dos agricultores de Cabo Verde e mesmo para além destas fronteiras. Isso explica em grande parte a migração dos jovens para as cidades e para longe da agricultura. No entanto, esta é uma percepção que a FAO, particularmente através do projecto de CSS, está a procurar dissipar. A natureza não pode ser controlada, mas a agricultura não precisa de se basear no acaso.

As soluções que a China utilizou com êxito nas suas próprias paisagens rurais estão agora a ser adaptadas e aplicadas no contexto deste PEID.

Elisabeth compreende agora melhor o solo e a forma de o abastecer de nutrientes com adubo orgânico. Espera frequentar ainda mais formações, nomeadamente sobre o cultivo em estufa, onde, mais uma vez, o acaso desempenha um papel menos importante.  

Aprendendo que até existem soluções simples para desafios complexos, Elisabeth e outros agricultores estão também a ganhar uma nova motivação e uma nova confiança neste sector.

"Na agricultura, também quero ter a oportunidade de mostrar ao mundo a sua importância, as suas vantagens... porque não há nada melhor do que produzir, ter e colher para nós próprios", conclui Elisabeth.

O programa de CSS FAO-China está a funcionar em 19 países para transmitir inovações, partilhar conhecimentos e práticas replicáveis. Com todos os países a lutarem contra as alterações climáticas de formas diferentes, é fundamental que as experiências e soluções sejam partilhadas entre eles através de parcerias como a cooperação FAO-Cabo Verde-China.

O programa de CSS da FAO implementou com êxito numerosos projectos em países de África, da América Latina, das Caraíbas e da Ásia, contribuindo para a transformação do sistema agro-alimentar através do aumento da produtividade e da rentabilidade agrícolas e da melhoria das cadeias de valor e dos investimentos.

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