FAO in Portugal

Crises alimentares continuam a atacar e a fome severa intensifica-se

Habitantes da região de Maungdaw, Estado de Rakhine em Myanmar, local onde o conflito contribuiu para o aumento dos níveis de insegurança alimentar.
31/03/2018

Roma – O mais recente relatório faz soar os alarmes em relação aos crescentes níveis de fome. No ano de 2017, cerca de 124 milhões de pessoas em 51 países foram afetadas pela insegurança alimentar – mais 11 milhões do que no ano anterior – segundo o mais recente Relatório Global sobre Crises Alimentares.

O relatório define a insegurança alimentar severa como uma fome tão grave que representa uma ameaça imediata à vida ou aos meios de subsistência.

O aumento é em grande parte atribuído a novos conflitos ou conflitos que se intensificaram, designadamente em Miamar, no nordeste da Nigéria, na República Democrática do Congo, no Sudão do Sul e no Iémen.

A seca prolongada influenciou as fracas colheitas em países que já enfrentavam altos níveis de insegurança alimentar e desnutrição na África Austral e Oriental.

Produzido anualmente para um grupo de parceiros humanitários, o relatório foi apresentado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Fome e Agricultura), a União Europeia e o Programa Alimentar Mundial num briefing para os países membros da ONU em Roma.

O Relatório advoga que os conflitos, os choques climáticos e os preços elevados de alimentos essenciais, quando conjugados entre si estão na origem de situações de emergência alimentar no Mundo.

Os Conflitos estão na origem da insegurança alimentar em 18 países – 15 dos quais se situam em África e no Médio Oriente. Os desastres climáticos – nomeadamente as secas – também estão na origem da escassez alimentar em 23 países, dois terços dos quais se encontram no Continente Africano.

Os Conflitos provavelmente continuarão a desempenhar o papel principal na origem das crises alimentares em 2018, afetando o Afeganistão, a República Central Africana, a República Democrática do Congo, o Nordeste da Nigéria, a região do Lago Chade, o Sudão do Sul, a Síria e o Iémen, segundo dados do Relatório.

Entretanto, o impacto das secas na produção agrícola e pecuária provavelmente contribuirão para o aumento da insegurança alimentar nas áreas pastoris da Somália, no Sudeste da Etiópia e no Leste do Quênia, e nos países da África Ocidental, incluindo Senegal, Chade, Níger, Mali, Mauritânia e Burkina Faso.

As principais mensagens na apresentação do relatório foram:

Neven Mimica, Comissário da União Europeia para a Cooperação Internacional e o Desenvolvimento, advogou: “As crises alimentares poderão tornar-se mais severas, persistentes e complexas, o que terá efeitos devastadores para as vidas de milhões de pessoas. Conseguimos produzir uma Análise Global conjunta com o Relatório Global sobre Crises Alimentares. Estou plenamente empenhado em seguir esta abordagem, pois estou convencido de que o diálogo global, o planeamento conjunto e as soluções coordenadas permitirão à UE, aos seus parceiros internacionais abordar com eficácia as causas profundas das crises alimentares”.

Numa vídeo mensagem, o Secretário-geral da ONU, António Guterres alegou “Relatórios como este facultam dados relevantes para melhor compreender os desafios. Compete-nos definir as medidas de ação para atender às necessidades daqueles que enfrentam o flagelo diário da fome e para fazer frente às suas causas”.

De acordo com o Diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva “Quando se juntam conflito e desastres naturais, a situação torna-se explosiva. É o caso da Somália, de algumas regiões da Etiópia, é o caso da República Centro-Africana e é o caso sobretudo do Iêmen e da Síria. Nesses lugares, a paz é uma pré-condição para se enfrentar a questão da fome. Sem a paz não há segurança alimentar, da mesma maneira que sem segurança alimentar não há paz duradoura.” Mesmo com ajuda externa, “108 milhões de pessoas sofrem de insegurança alimentar severa. Para reverter a situação, são necessárias ações fortes”. 

Foto: ©FAO/Hkun Lat