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Grandes oportunidades para o crescimento agrícola na África Ocidental

13/07/2015

Grandes oportunidades para o crescimento agrícola na África Ocidental

Novo relatório vê a integração regional como uma oportunidade para tirar o máximo partido da mudança dos padrões alimentares e do crescimento demográfico

02 de julho de 2015, Roma – A África Ocidental conta com oportunidades sem precedentes para o crescimento agrícola mas aproveitá-las ao máximo irá requer uma integração regional mais efetiva, diz o novo relatório do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), da  Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

Para ser competitiva frente aos grandes atores mundiais, a agricultura da África Ocidental precisa de alcançar algumas das economias de escala que estes países aproveitam nos mercados para fertilizantes e sementes assim como na investigação agrícola e desenvolvimento tecnológico, acrescenta o relatório.

Enquanto têm sido feitos progressos importantes em direção à integração regional ao longo das últimas duas décadas, uma implementação eficaz a nível nacional permaneceu um desafio, como evidenciado pelos bloqueios e proibições comerciais que dificultam o comércio intra-regional, acompanhado do uso continuado de normas nacionais díspares para sementes e fertilizantes apesar de regionalmente terem sido acordados protocolos comuns.

O relatório, “Crescimento Agrícola na África Ocidental: fatores determinantes de mercados e políticas” (AGWA), chega num tempo de grande dinamismo nas tendências de demanda por alimentos em África.

É esperado que a população da África Ocidental, agora em 300 milhões, cresça até 490 milhões em 2030. A sub-região é já a parte mais urbanizada da África subsariana, com aproximadamente metade da população residindo nos centros urbanos, e projeta-se que a população urbana continue a crescer a uma taxa de 3.8% por ano entre 2015 e 2030.

Tudo isto, em conjunto com a expansão da classe média, favorece uma grande diversidade na procura de alimentos para consumo, com a conveniência, qualidade nutricional, segurança alimentar e a apresentação a ganhar importância ao lado da acessibilidade. Atender esta procura crescente fornece grandes oportunidades para a adição de valor, criação de emprego, integração e diversificação económica e substituição de importações, diz o relatório.

Muitos países da África Ocidental dependem cada vez mais das importações de alimentos para satisfazer os seus prósperos mercados urbanos, refletindo a incapacidade das suas cadeias alimentares locais para satisfazer a evolução da procura dos consumidores em termos de qualidade, volumes, preços e consistência da oferta.

Uma proporção crescente da população da África Ocidental é composta por compradores líquidos que gastam grande parte do seu rendimento em alimentos. A única forma de garantir que estes consumidores têm acesso a alimentos de baixo custo, enquanto simultaneamente melhoram o rendimento dos produtores, é através da geração de produtividade e eficiência ao longo de todo o sistema agroalimentar. Para que se consiga um ambiente mais estável e previsível é necessário reorientar o investimento público para com os elementos essenciais para um crescimento sustentável a longo prazo e ampliar a capacidade de implementação.

Valor acrescentado após a colheita

O relatório realça que, enquanto é essencial aumentar os rendimentos agrícolas, é necessário prestar mais atenção ao segmento final do sistema agroalimentar: montagem, armazenamento, processamento e venda. Por exemplo, muitas vezes as empresas nacionais de processamento de alimentos preferem importar matérias primas, como o concentrado de sumo de fruta, trigo e óleo vegetal, em vez de os comprarem no próprio país ou de desenvolverem substitutos com base em produtos locais porque as cadeias de fornecimento local são muito frágeis e fragmentadas para garantir um abastecimento fiável.

As políticas variam segundo o país e o segmento de mercado, mas devem ter como uma prioridade política um grande esforço para melhorar as pequenas e médias empresas de processamento de alimentos, juntamente com o reforço das ligações entre a agricultura familiar orientada para o mercado e as suas organizações com a agroindústria de todos os tamanhos para melhorar o acesso aos mercados, insumos e serviços de apoio. Deve ser dada atenção especial no apoio a mulheres empresárias, que desempenham um papel chave no sistema agroalimentar desde a agricultura à venda, e à juventude.

À medida que os segmentos pós colheita do sistema agroalimentar crescem com cada vez mais importância, abordar as diversas exigências sobre o sistema requererá ir para além dos tradicionais encargos da agricultura para se concentrar em interconexões entre questões tão diversas como a investigação, investimentos em transportes, as políticas comerciais, e educação nutricional.

O relatório contém uma análise aprofundada destacando estas interconexões. Por exemplo, os preços do transporte para produtos agrícolas na África Ocidental são muito mais elevados do que em outras regiões em desenvolvimento, dificultando o comércio intraregional e prejudicando os produtores e os consumidores. Abordar esta situação requer uma combinação de medidas que vão desde investimentos em infraestrutura rodoviária através de uma melhor governança das estradas para reformar os regulamentos de camionagem para incutir uma maior competência.

Mais bens públicos, menos subsídios

Com base numa análise detalhada dos fatores determinantes e das tendências que modelam o desenvolvimento do sistema agroalimentar de África ocidental e a resposta do sistema até agora, o estudo identifica implicações chave para políticas e investimento agrícola. Estas descobertas ajudarão a informar as deliberações e as novas orientações acerca do “ECOWAP-10”, a próxima atualização do ECOWAS para a política agrícola atual da África ocidental, ECOWAP/CAADP.

O melhoramento da combinação de investimentos públicos na agricultura na região é tão importante como aumentar o seu nível, como demonstra o relatório. Encoraja os governos a mudar o gasto ao nível dos bens públicos tais como estradas, fornecimento de eletricidade de confiança, investigação e escolaridade ao invés de subsidiar bens privados como fertilizante e tratores.