FAO in Portugal

América Latina e Caribe no caminho certo para da erradicação da fome e da pobreza

02/03/2016

Diretor Geral da FAO destaca o compromisso político na região como a chave para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

 

1 Março 2016, Cidade do México - "O mundo entrou numa nova era: a era dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável", disse o Director Geral da FAO, perante os representantes dos governos da América Latina e do Caribe, reunidos na conferência regional bienal da agência.

Os dois primeiros Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – a erradicação da fome e da pobreza até o ano de 2030 – são "os mais ambicioso e importantes compromissos da história das Nações Unidas", disse José Graziano da Silva, acrescentando que a América Latina e o Caribe pode ser a primeira região a alcançá-los.

Em 1990, 14,7 por cento da população da América Latina e do Caribe sofria de fome, com mais de 66 milhões de pessoas incapazes de obter alimentos suficientes para uma vida saudável.

Mas "hoje a situação é diferente”, disse Graziano da Silva. "O número total de famintos decresceu para 34 milhões e a percentagem reduziu para 5 por cento, embora a população total tenha aumentado em 130 milhões desde 1990", ressaltou.

América Latina e Caribe eleva a aposta

A América Latina e Caribe foi a única região do mundo que alcançou as metas de redução da fome previamente estabelecidos pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio e pela Cimeira Mundial da Alimentação de 1996.

Com base neste sucesso, os governos da região comprometeram-se em erradicar a fome até 2025, cinco anos antes da meta estabelecida pelos recentemente aprovados Objetivos  de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas .

Para conseguir isso, eles estão a implementar importantes acordos regionais como a Iniciativa América Latina e Caribe Sem Fome, e o Plano da Comunidade dos Estados da América Latina e do Caribe ( CELAC ) para a Segurança Alimentar, Nutrição e Erradicação da Fome. Muitos governos estão também a implementar programas nacionais de combate à fome.

Graziano da Silva salientou que a FAO continuará a apoiar fortemente os países da região na implementação dos ODS, com especial ênfase para os três que se relacionam com a erradicação da pobreza, da fome e da necessidade de adaptação às alterações climáticas.

"A nossa principal colaboração poderá ser no domínio das estatísticas, uma vez que é essencial estabelecer metas básicas para cada país, de modo a facilitar a posterior monitorização ", disse Graziano da Silva.

 

A fome diminui mas a obesidade aumenta

Embora a fome e a pobreza tenham reduzido na região, 7,1 por cento das crianças estão com sobrepeso, enquanto 22 por cento dos adultos são obesos.

“A situação das mulheres é particularmente preocupante, com uma taxa de obesidade média que chega a 29 por cento, comparada com os 18 por cento nos homens", disse Graziano da Silva.

O Diretor Geral encorajou os países a gerarem "ciclos virtuosos", interligando a agricultura sustentável com uma melhor nutrição, e conectando programas de alimentação escolar e de educação nutricional com a agricultura familiar, através de compras públicas.

"A preservação de culturas e alimentos tradicionais da região, permitir-nos promover melhores dietas e enfrentar o duplo fardo da malnutrição ", disse.

 

Uma nova abordagem do desenvolvimento

De acordo com Graziano da Silva, a estreita relação entre a pobreza rural e a insegurança alimentar na região exige uma nova abordagem para o desenvolvimento socioeconómico e ambiental.

A erradicação da fome não só requer o fortalecimento da agricultura familiar, como também o desenvolvimento de sistemas alimentares inclusivos, eficientes e sustentáveis ​", afirmou.

A chave é coordenar políticas de desenvolvimento agrícola, com políticas de proteção social, gestão de riscos e emprego agrícola, disse o Diretor Geral.

Esta abordagem deve também considerar o acesso aos recursos produtivos e aos serviços, políticas de proteção social e emprego rural, particularmente para os jovens, mulheres rurais e povos indígenas.

 

Alterações Climáticas

Observando que "o clima está em mudança. Não no futuro, mas hoje", Graziano da Silva apelou aos governos para promoverem o uso sustentável dos recursos naturais, a gestão do risco de desastres naturais e adaptação às alterações climáticas.

Ele referiu-se ao recente Acordo de Paris como um marco histórico que a região deve adotar para incentivar a capacidade de resistência dos agricultores aos impactos das alterações climáticas.

O sector agrícola da região perdeu 11 mil milhões de dólares devido a desastres naturais entre 2003 e 2013, e um terço da população vive em áreas com alto risco de desastres naturais.

Os agricultores familiares são particularmente vulneráveis ​​, referiu o Diretor Geral da FAO. "Os seus meios de subsistência são altamente dependentes do clima e eles têm uma fraca capacidade de recuperação de desastres naturais", disse, “o que torna necessária a implementação de uma gestão holística do risco de desastres”.