FAO in Portugal

Rumo a um acordo de comércio para produtos da agricultura familiar com qualidade diferenciada nos países da CPLP

03/10/2017

Lisboa - A garantia de acesso igualitário aos mercados e oportunidades de agregação de valor, enquadradas por um sistema multilateral de comércio internacional mais equitativo são medidas contempladas na Agenda 2030 das Nações Unidas. São também, tal como mencionado pelo Diretor-geral da FAO, Jose Graziano da Silva e por Roberto Azevedo, Diretor-geral da Organização Mundial de Comércio preocupações de ambas Organizações[1]

As Diretrizes para Fortalecimento e Promoção da Agricultura Familiar nos países da CPLP recomendam aos Estados-membros, entre outras ações, que (Diretriz 5.12): Os Estados-Membros devem envidar esforços para promover ativamente o reconhecimento da qualidade diferenciada dos produtos da agricultura familiar, revendo, quando necessário, o quadro regulamentar vigente.
 
Todos os países, crescentemente, possuem produtos reconhecidos pela sua qualidade diferenciada o que equivale a diferentes impactos sobre a saúde dos consumidores e rendimentos dos produtores familiares. Encontramos neste caso, grãos, café, carne fresca bovina e suína, produtos de salsicharia, vinhos, azeites e óleos alimentares, frutas frescas e secas, cacau, peixe e mariscos e até diversos produtos com propriedades nutracêuticas. Um mercado em franco crescimento e muito ligado aos sistemas de produção familiar em cada Estado-membro.
 
Os Países estão circunscritos pelos imperativos da legislação consagrada no âmbito dos vários acordos regionais e Comunidades que integram, nomeadamente sobre tarifas aduaneiras e direitos de propriedade intelectual relacionados com o comércio. Existe, no entanto, alguma margem ao nível da cooperação económica para estabelecer acordos de comércio intra-CPLP.
 
Uma das condições para a sua possível viabilização e futura aprovação ao nível do CONSAN – Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional da CPLP e ao nível da Reunião de Ministros do Comércio, é a realização de um estudo de avaliação inicial.
 
Nesse sentido, com o apoio da FAO PT/CPLP, o Mecanismo de Facilitação da Participação do Setor Privado no CONSAN – CPLP está a efetuar uma recolha de informação sobre a produção, transformação e comercialização destes produtos e quadro regulamentar vigente em cada Estado-membro CPLP. Incluem-se nesse âmbito os produtos obtidos em modo de produção biológico, comércio justo ou ainda com outras certificações de qualidade diferenciada como seja a indicação geográfica.
 
O objetivo deste levantamento e processo negocial que se segue será: i) delimitar a produção e comercialização incluindo trocas entre os países; ii) promover ativamente o reconhecimento da qualidade diferenciada dos produtos da agricultura familiar incluindo a construção de regulamentação nacional para a produção e reconhecimento da qualidade diferenciada; iii) ampliar o acesso dos agricultores familiares ao mercado dos demais países em linha com a vontade expressa por ocasião das reuniões dos Ministros do Comércio da CPLP em Díli (2016) e Luanda (2012), no sentido de promover o comércio intra-CPLP através da promoção da qualificação de produtos e; iv) reforçar a cooperação politica, técnica e científica no âmbito da implementação da legislação nacional, dinamização da produção, transformação e comercialização de produtos de qualidade diferenciada.
 
Espera-se que o levantamento esteja concluído até final de 2017 permitindo avançar a discussão desta proposta na Reunião de Alto-Nível sobre Segurança Alimentar e Nutricional que se realizará em Lisboa em Janeiro de 2018.


[1] “Unidos pela segurança dos Alimentos”, Jornal Valor Económico, 12/07/2017

 

Foto: ©FAO/David Boerma