FAO in Portugal

OCDE e FAO esperam uma maior produção e preços mais baixos na próxima década

02/07/2015

O aumento dos rendimentos nos países em desenvolvimento irá incentivar a procura por alimentos e mudanças nas dietas

Paris – Fatores como o alto rendimento das culturas, uma maior produtividade e um crescimento mais lento da procura mundial devem contribuir para um declínio gradual dos preços reais dos produtos agrícolas na próxima década mas, ainda assim, os preços irão provavelmente manter-se em níveis acima dos praticados no inicio do século XXI, de acordo com o último relatório Perspetivas Agrícolas produzido pela OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico  e a FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.

Os baixos preços do petróleo irão contribuir para uma descida dos preços dos alimentos forçada por menores custos de energia e de fertilizantes e um menor incentivo para a produção de biocombustíveis de primeira geração fabricados a partir de cultivos alimentares.

O relatório Perspetivas Agrícolas 2015-2024 da OCDE e da FAO projeta que o mercado agrícola cresça a um ritmo mais lento que na década passada, enquanto a proporção global de produção agrícola e o consumo se mantêm estabilizados. Este relatório aponta para uma crescente concentração da exportação de produtos agrícolas básicos entre alguns países exportadores, juntamente com uma dispersão das importações num número cada vez maior de países – tendências que tornam imperativo garantir o bom funcionamento dos mercados internacionais.

O crescente papel de um grupo relativamente pequeno de países no abastecimento dos mercados globais com produtos básicos pode aumentar os riscos do mercado, incluindo aqueles associados a desastres naturais ou à adoção de medidas comerciais contraproducentes.

Esperam-se grandes alterações na procura nos países em desenvolvimento, onde o crescimento da população, o aumento dos rendimentos per capita e a urbanização irão aumentar a procura por alimentos, de acordo com o relatório. O aumento dos rendimentos continuará a incentivar os consumidores a diversificar as suas dietas, nomeadamente aumentando o consumo de proteína animal em relação aos amidos. Como resultado, é esperado que os preços da carne e dos lacticínios sejam altos relativamente aos custos das culturas. De entre as culturas, os preços dos cerais secundários e das oleaginosas, usados na alimentação animal, devem subir relativamente aos preços dos alimentos básicos.

Ao apresentar o relatório conjunto OCDE-FAO em Paris, o Secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, afirmou “ As perspetivas para a agricultura mundial apresentam-se mais estáveis do que se têm mostrado nos últimos anos, mas não há espaço para complacência, assim como não podemos descartar o risco de novos picos de preços nos próximos anos”.

"Os governos devem aproveitar as condições atuais para se concentrarem no desenvolvimento de políticas que permitam aumentar a produtividade, estimular a inovação, melhorar a gestão dos riscos e garantir sistemas agrícolas sólidos que beneficiem tanto os consumidores como os agricultores", disse.

O Diretor Geral da FAO, José Graziano da Silva, apresentou como uma “boa notícia” a projeção de que a população nos países em desenvolvimento vai provavelmente continuar a melhorar a sua ingestão calórica. Observou também que os países menos desenvolvidos "permanecem significativamente atrasados relativamente às economias avançadas, o que é motivo de preocupação, uma vez que significa que a fome pode persistir nestes países".

"E a malnutrição é um problema: os países em desenvolvimento têm agora de enfrentar os problemas do sobrepeso, obesidade e outras doenças não transmissíveis relacionadas com as dietas", acrescentou.

Destaques nas matérias-primas

A acumulação de grandes reservas de cereais ao longo dos últimos dois anos, em conjunto com baixos preços do petróleo, deve levar a uma queda ainda maior dos preços dos cereais a curto prazo. O aumento lento dos custos de produção e uma procura sustentada deverão novamente fortalecer os preços a médio prazo.

A forte procura por farinhas proteicas vai impulsionar ainda mais a expansão da produção de oleaginosas, de acordo com o relatório. Isto deve tornar as farinhas alimentares muito importantes na rentabilidade global das oleaginosas, e favorecer uma maior expansão da produção de soja, especialmente no Brasil

Uma maior procura por açúcar nos países em desenvolvimento deverá permitir a recuperação dos baixos níveis de preços, e atrair novos investimentos no sector. A situação do mercado dependerá da rentabilidade do sector do açúcar em relação ao etanol no Brasil, o maior produtor mundial e poderá, por isso, permanecer volátil devido ao ciclo de produção do açúcar em alguns países asiáticos, importantes produtores de açúcar.

A produção de carne deve responder a uma melhoria das margens, devido à baixa dos preços dos cerais para alimentação animal que repõe a lucratividade do setor, que operou em ambiente de custos particularmente elevados e voláteis das matérias-primas durante a maior parte da última década.

A produção pesqueira no mundo deve expandir-se em quase 20 por cento em 2024. A aquicultura deverá ultrapassar o volume total das pescas de captura em 2023.

As exportações de produtos lácteos deverão continuar a concentrar-se entre quatro produtores principais: Nova Zelândia, União Europeia, Estados Unidos e Austrália, onde as oportunidades de crescimento da procura interna são limitadas.

Os preços do algodão deverão diminuir a curto prazo devido à depleção de grandes stocks na China, mas prevê-se que recuperem e se mantenham relativamente estáveis durante o restante período das projeções. Em 2024, tanto os preços reais como nominais irão situar-se abaixo dos níveis alcançados em 2012-14.

Espera-se um crescimento, a um ritmo mais lento, na utilização de etanol e biodiesel, durante a próxima década. Prevê-se que o nível de produção seja dependente de políticas nos principais países produtores. Com os preços do petróleo mais baixos, o mercado de biocombustíveis deve permanecer uma pequena parte relativamente à produção total. 

 

Projeções para o Brasil

A projeção deste ano tem especial enfoque no Brasil, que se prepara para capturar a maioria da expansão do mercado gerada pelo crescimento da procura de importações, particularmente na Ásia.

Prevê-se que o crescimento agrícola do Brasil seja guiado por melhoramentos contínuos na produtividade, com um maior rendimento das culturas, alguma conversão das pastagens em plantações e uma produção animal mais intensiva.

Reformas estruturais e a reorientação no apoio aos investimentos de promoção da produtividade, por exemplo nas infraestruturas, poderiam fomentar estas oportunidades, o mesmo ocorrendo com acordos que melhorem o acesso a mercados estrangeiros.

O Brasil teve grandes progressos na eliminação da fome e na redução da pobreza. As perspetivas de futuras reduções da pobreza através do desenvolvimento agrícola estão a crescer para os produtores de alguns produtos alimentares, bem como para os produtores de produtos de maior valor tais como o café, os hortícolas e os frutos tropicais.

A projeção aponta para que o crescimento agrícola previsto possa ser alcançado de forma sustentável. Apesar do aumento da produção continuar dever-se mais aos ganhos de produtividade do que ao aumento das áreas de cultivo, a pressão sobre os recursos naturais pode ser diminuída através de iniciativas de conservação, incluindo o apoio a práticas de produção sustentáveis, à conversão de terras de cultivo naturais e degradadas em pastagens e à integração de sistemas agrícolas e pecuários.