FAO in Portugal

Explorando o uso das águas residuais na agricultura

24/01/2017

Lisboa – Com o simultâneo crescimento da procura de produtos alimentares e escassez de água, é tempo de parar de tratar as águas residuais enquanto um problema e encará-las como um recurso valioso que pode ser usado para o cultivo.

“Apesar de ser necessária informação mais detalhada sobre esta prática, pode-se dizer que, a nível global, apenas uma pequena proporção das águas residuais tratadas está a ser usada para a agricultura, principalmente as águas residuais municipais. Contudo, um número crescente de países – Egito, Jordânia, México, Espanha e os Estados Unidos da América, por exemplo – têm vindo a explorar estas possibilidades para fazer face à escassez da água” diz Marlos De Souza, Oficial Superior da Divisão para a Terra e Água da FAO.

A nível global, o crescimento demográfico e a expansão económica estão a colocar uma pressão crescente nos recursos de água doce, tendo a percentagem global de captação de águas subterrâneas aumentando 1 % a cada ano desde os anos 80. As alterações climáticas colocam um entrave adicional à gestão destas pressões.

A agricultura é já responsável por 70% da captação global de águas subterrâneas – sendo estimado que a procura por produtos alimentares crescerá pelo menos 50% até 2050, as necessidades de água para a agricultura aumentarão de forma alarmante. A própria procura por parte das cidades e das indústrias está também em crescimento.

Para além de ajudar a lidar com a escassez da água, as águas residuais têm, frequentemente, teores elevados de nutrientes, o que as torna num bom fertilizante. “Quando usadas e geridas por forma a evitar riscos para a saúde e ambiente, as águas residuais podem ser convertidas em ferramentas úteis” diz De Souza.

Em Portugal, práticas como esta revestem indubitável importância. Devido às baixas temperaturas e diminuição do volume de precipitação, os últimos invernos têm sido bastante secos. As águas armazenadas escasseiam e os seus preços são elevados, levando os agricultores a não produzirem culturas de regadio, como o milho.

Segundo De Souza, para além de ajudar a abordar o problema da escassez da água, reduzir a contaminação das águas e apoiar a produção alimentar, os sistemas de infraestruturas e gestão utilizados para recuperar, tratar e reutilizar as águas residuais podem vir a revelar-se importantes geradores de emprego no futuro.

A forma como os países têm tratado este desafio e respondido às mais recentes tendências na produção agrícola foi o foco das discussões de um grupo de especialista que teve lugar entre os dias 19 e 21 deste mês, em Berlim, durante o Fórum Global de Alimentação e Agricultura. Este evento foi convocado pela FAO em conjunto com a Universidade das Nações Unidas e o Instituto para a Água, Ambiente e Saúde (UNU-INWEH), a UNESCO e a Leibniz Research Alliance Food and Nutrition.

Mais informações em: http://www.fao.org/news/story/en/item/463433/icode/

 

Foto: United States Dept. of Agriculture: https://www.flickr.com/photos/usdagov/sets/72157659490383235