FAO in Portugal

Novos dados revelam avanços no combate à fome na CPLP

29/09/2014

Lisboa, 29 de setembro de 2014 – Cerca de 805 milhões de pessoas no mundo, uma em cada nove, sofrem de fome, de acordo com um novo relatório das Nações Unidas divulgado recentemente.

O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo (SOFI 2014, na sigla em inglês) confirmou a tendência positiva que tem sido o decréscimo global do número de pessoas com fome em mais de 100 milhões na última década e em mais de 200 milhões desde 1990-1992. O relatório é publicado anualmente pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e o Programa Mundial de Alimentos (PAM).

Na edição deste ano, o Brasil é apresentado como um caso de estudo de sucesso, e estão também disponibilizados dados para alguns dos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP (Moçambique, Angola, São Tomé e Príncipe, Guiné Bissau, Cabo Verde e Timor Leste). Estes dados dão conta da prevalência da desnutrição nos países e dos progressos realizados até ao momento em relação ao primeiro Objetivo de Desenvolvimento do Milénio (ODM), de reduzir para metade a percentagem da população desnutrida, e à meta da Cimeira Mundial da Alimentação (CMA), de reduzir para metade o número absoluto de pessoas desnutridas, ambos até 2015.

Segundo os dados presentes no SOFI 2014, São Tomé e Príncipe registou progressos significativos no combate à fome, com uma redução de 52 por cento no número de desnutridos e de 70 por cento em termos relativos, tendo assim atingindo não apenas o primeiro objetivo dos ODM, como também a meta mais ambiciosa da CMA.

Angola também viu o número absoluto da fome cair em cerca de 43 por cento desde 1990. Isto significa, em termos relativos, uma diminuição de 70 por centro da população desnutrida, fazendo de Angola outro caso de sucesso, pois ultrapassou substancialmente a meta do ODM antes do final do prazo de 2015.

Cabo Verde teve uma queda de cerca de 40 por cento na percentagem da população desnutrida no período compreendido entre 1990 e 2014 sendo que, atualmente, menos de 100 000 pessoas (10 por cento da população) sofrem de desnutrição.

Timor-Leste teve uma queda de 36 por cento na percentagem da população com fome entre o período entre 1990-92 e 2012-14. Mas, apesar dos esforços, 29 por cento da população (cerca de 100 000 pessoas) está ainda desnutrida, ou seja, é o país da CPLP com a taxa mais elevada.

Moçambique mantém também níveis muito elevados de desnutrição, apesar dos progressos observados. A queda em 49,7 por cento na percentagem da população desnutrida indica que o país deverá atingir a meta do ODM. No entanto, 28 por cento da população (7.7 milhões de pessoas) sofre ainda de desnutrição, pelo que é o segundo país da CPLP com a taxa mais elevada.

A Guiné Bissau contraria a tendência geral dos países lusófonos, pois regista um aumento no número absoluto da fome, estando assim muito longe de atingir as metas do ODM e da CMA. Este países passou de 200 mil pessoas desnutridas entre 1990-92 para 300 mil entre 2012-14.

Brasil a caminho da erradicação da fome

Um dos casos de estudo analisados nesta edição do SOFI é o Brasil, que está a caminho de erradicar a fome, pois atingiu tanto a meta dos ODM como a meta mais rigorosa da CMA. Entre 2000-02 e 2004-06, a percentagem de desnutridos no Brasil caiu para metade, de 11 por cento para menos de 5 por cento, transformando-o num dos maiores exemplos de sucesso de combate à fome e à pobreza.

Os progressos realizados para alcançar os objetivos estabelecidos internacionalmente foram acelerados em 2003 com o lançamento do programa Fome Zero, que colocou o combate à fome no centro da agenda política do Brasil e pôs em prática uma estratégia global para promover a segurança alimentar, vinculando o apoio à produção com a proteção social.

A redução bem-sucedida da fome e da pobreza extrema em áreas rurais e urbanas resultou de processos participativos de sucesso e na implementação de instituições de coordenação e de políticas públicas socais, nomeadamente através de programas como o Bolsa Família, o Programa Nacional de Alimentação Escolar, o Programa Abono de Família, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, o Plano Brasil Sem Pobreza Extrema, entre outros.