FAO em São Tomé e Príncipe

Condições de comercialização de peixe em São Tomé desvalorizam um produto de qualidade excepcional

Photo Legend: É preciso que se crie condições para a comercialização do pescado em São Tomé e Príncipe (Crédito: Denilson Costa)

14/07/2017

14 Julho 2017, São Tomé – O sector da pesca em São Tomé e Príncipe representa uma das maiores apostas do governo, o qual tem investido no setor com vista a aumentar no futuro a contribuição do setor na geração de riqueza no País. As ilhas são-tomenses possuem uma superfície marítima aproximadamente 160 vezes superior à sua superfície terreste, uma área relativamente pequena para um país insular e inferior às áreas de pesca dos países vizinhos. Mais do que adequada, a sua exploração seria uma oportunidade ímpar para o desenvolvimento nacional, nomeadamente no contexto da economia azul.

Apesar dos esforços do governo, em parceria com a FAO, com vista a aumentar a contribuição do sector das pescas na economia do País, este não tem prosperado como devia. Segundo os dados actuais disponíveis da Direcção das Pescas, que reflectiu uma contribuição de 7,2% em 2016, as expectativas seriam mais elevadas.

 

O peixe é considerado um alimento saudável para a dieta humana, sendo uma fonte de proteína animal de alto valor biológico e possuidora de vários nutrientes que proporcionam efeitos benéficos à saúde. No país, em função deste alto valor nutricional alimento e do preço relativamente superior da carne comercializada, o consumo de peixe sempre foi alto. Este elevado consumo parece registar uma tendência crescente, o que representa mais uma razão para investir no setor pesqueiro.

 

Particularmente a pesca artesanal representa considerável importância social no país, sendo a fonte de subsistência de excelência das populações costeiras, que dependem desta actividade directa ou indirectamente, através de actividades relacionadas. Contudo, a conservação e comercialização de pescado tem-se mantido o maior entrave, pois o próprio mercado não dispõe de condições necessárias para tal, facto que tem desvalorizado o produto. Segundo Aldair Almeida, pescador e palaiê da praia Gamboa, a falta de meios de conservação desde a captura até chegada ao consumidor final tem desvalorizado o pescado e contribuído para a sua baixa qualidade, pois, sem os meios de conservação do pescado não lhes é possível vender aos hotéis e supermercados, que têm exigido essas condições, apesar da qualidade do pescado ser inegável.

 

Mediante as dificuldades apontadas, só os pescadores veem como única solução o mercado livre em locais que não reúnem as condições higiénicas devidas nem possuem as mínimas condições para a comercialização dos produtos. Nestes locais, o pescado fica exposto por longas horas, sem refrigeração e sem protecção contra poeira e insectos, propiciando condições para a sua contaminação e, consequentemente, deterioração e aumento de risco de ocorrência de doenças transmitidas. O peixe, por ser um alimento altamente perecível necessita de condições adequadas de armazenamento e comercialização de modo a garantir uma boa qualidade e segurança alimentar para quem o consome.

Face às poucas exigências do mercado consumidor e às normas do governo, observa-se que o pescado tem sido comercializado de forma inapropriada, especialmente no mercado onde as condições precárias revelam inúmeras irregularidades no que toca à conservação deste alimento,  que é vendido ao ar livre e exposto à acção directa das bactérias. Portanto, é preciso que se criem condições higiénico-sanitárias nas instalações do mercado, para que se tenha um bom espaço de comercialização dos produtos. Para que as apostas na economia azul e turismo logrem efeitos, todos estes elementos devem ser tidos em conta, até porque a saúde pública dos são-tomenses está a ser posta em causa. No sentido de solucionar este problema, a FAO desenvolve no país o projeto de “Apoio à melhoria da introdução de produtos haliêuticos nos mercados de São Tomé e Príncipe” (TCP/STP/3603).