FAO em São Tomé e Príncipe

Para além de carne: moldando o futuro da pecuária

© FAO/Lea Plantek

20/01/2018

Roma/Berlim – A pecuária é um dos pilares da segurança alimentar e nutricional e dos modos de vida das populações rurais, e a comunidade internacional deve trabalhar de forma conjunta para se assegurar de que o sector alcança todo o seu potencial contributo para o desenvolvimento sustentável, declarou o Diretor-Geral da FAO, José Graziano da Silva.

A FAO estima que mais de metade da população que sofre de pobreza no mundo seja constituída por criadores de gado e pastores. Aqueles que se encontram ainda em pior situação dependem da pecuária, atividade que representa um papel vital nos seus modos de vida.

Apesar de que os produtos animais contribuem em grande escala para a nutrição e luta contra a pobreza, estes implicam impactos brutais no clima e meio ambiente, e assegurar a saúde animal é cada vez mais importante para também se assegurar a saúde humana, sublinhou o Diretor-Geral da FAO no 10º Fórum Global para a Alimentação e Agricultura em Berlim.

Pecuária e modos de vida

À medida que cresce a procura de carne e outros produtos de origem animal, especialmente nos países em desenvolvimento, questões de equidade e distribuição eficiente adquirem cada vez mais importância.

Mais de metade da população que vive em condições de pobreza no mundo depende da pecuária e estas populações devem ser dotadas de capacidades, conhecimentos e tecnologias apropriadas para participar e beneficiar deste crescimento expectado, em vez de serem “colocadas de parte pela expansão de grandes operações intensivas em capital”, advertiu Graziano da Silva.

O Diretor-Geral explicou que o consumo crescente de produtos de origem animal melhorará a nutrição, particularmente das crianças mais jovens nos países em desenvolvimento cujo desenvolvimento cognitivo e físico requer micronutrientes tais como zinco e ferro. Porém, não deixou de alertar que o excesso de consumo destes produtos também acarreta riscos.

 “Temos de nos focar em dietas saudáveis e equilibradas” acrescentou.

Também recordou que as fontes alternativas de proteína – tais como peixe e leguminosas – estão disponíveis e devem ser exploradas.

Reduzindo as pegadas de carbono

Tendo em conta que a pecuária gera mais gases de efeito de estufa do que outras fontes de alimento – cerca de 14.5 por cento de todas as emissões antropogénicas – a expansão do sector apresenta desafios à biodiversidade, sustentabilidade do acesso a água e, particularmente, aos objetivos da promessa do Acordo de Paris de limitar a subida da temperatura média global.

Contudo, “um sector da pecuária baixo em emissões de carbono é possível de alcançar”, assegurou Graziano da Silva apontando para as estimativas da FAO que preveem que as emissões de metano podem ser rapidamente reduzidas em 20 a 30 por cento em todos os sistemas de produção através da adoção de práticas conhecidas de criação, como o pastagem regenerativa, seleção de forragem e melhor reciclagem de nutrientes e energia de resíduos da criação de gado. Uma melhor gestão das pastagens e capacidade de armazenamento de carbono nos solos também são essenciais para que o aumento da produção de gado não exija uma maior desflorestação, acrescentou.

“Com práticas melhoradas e inteligentes face ao clima, podemos rapidamente colocar em prática cadeias de fornecimento de gado mais sustentáveis e ‘verdes’” disse Graziano.  O mesmo exortou que se aproveitasse a janela de aberta na cimeira climática COP23 realizada no ano passado em Bonn na qual se indicou especificamente a gestão de sistemas de pecuária melhorados enquanto uma prioridade.

Saúde Animal

Graziano da Silva não deixou de abordar as questões de saúde animal e humana, alertando que “a emergência de doenças irá provavelmente intensificar nos próximos anos, uma vez que o aumento das temperaturas irá favorecer a proliferação de insetos”.

Por essa razão, mencionou que as doenças zoonóticas com potencial pandémico tais como algumas estirpes de gripe aviária “representam uma grande ameaça para as pessoas, animais e meio ambiente”.

A FAO tem um longo historial na luta contra as doenças transfronteiriças dos animais, incluindo a liderança da erradicação bem-sucedida da peste bovina e de uma nova campanha mundial para erradicar a peste dos pequenos ruminantes.

A FAO também reconhece a necessidade de enfrentar a resistência antimicrobiana (AMR, sigla inglesa), uma grande ameaça à saúde humana que é exacerbada pelo abuso, uso excessivo e uso indevido de antibióticos na criação de gado, o que faz com que globalmente estes animais consumam três vezes mais de antibióticos do que os humanos.

O Diretor-Geral enfatizou as recomendações da FAO sobre a necessidade de eliminar imediatamente o uso de medicamentos antimicrobianos para promover o crescimento animal e que estes produtos só devem ser usados para curar doenças e aliviar sofrimentos desnecessários, enquanto que o seu uso preventivo deve ser implantado apenas sob rigorosas circunstâncias. Adicionou ainda que a FAO está a prestar assistência a variados países com vista a que estes desenvolvam e implementem planos nacionais de ação AMR.

(Esta notícia foi adaptada do artigo presente no link http://www.fao.org/news/story/en/item/1098231/icode/)