FAO em São Tomé e Príncipe

As agricultoras são-tomenses, heroínas invisíveis e pilares das famílias rurais

Mulheres beneficiárias do HUP em Santa Clara © FAO

14/06/2019

14 de Junho de 2019, São Tomé – Segundo o último Recenseamento Geral da População e Habitação realizado em 2012, 49% do total da população rural de São Tomé e Príncipe (58 958 habitantes) é do sexo feminino. De facto, as mulheres têm vindo a ganhar espaço no setor agrícola e a cada dia que passa o seu papel na produção de alimentos fica mais evidente.

A comunidade de Santa Clara, distrito de Lobata, trata-se de uma das zonas de intervenção do projeto Horticultura Urbana e Periurbana (HUP) executado pela FAO de 2015 a 2017, onde as mulheres têm apostado na agricultura como forma de garantirem o sustento das suas famílias, graças às oportunidades de aprendizagem proporcionadas pelo projeto.

Ciente da desigualdade de género existente nos meios rurais, o projeto HUP deu uma especial atenção às mulheres e jovens rurais do distrito, tendo realizado formações sobre produção agrícola, empreendedorismo e transformação de produtos locais. Estas duas últimas formações serviam de alavanca para a geração complementar de rendimentos destas camadas populacionais, especialmente das mulheres.

Os rendimentos complementares são especiais importantes no meio rural como forma de garantir o poder económico dos pequenos agricultores nos intervalos de produção agrícola. No caso das mulheres, é comum a complementaridade da produção agrícola com a venda informal de produtos diversos (atividade de palaiê), seleção de cacau, criação de aves de capoeira, a transformação de produtos locais (como farinha de mandioca, fruta-pão e banana, conservas de tomate, compotas de frutos, entre outros) e a prestação de serviços domésticos é comum. Além dos trabalhos como produtoras, as mulheres são encarregadas de educação, dos cuidados e alimentação dos seus filhos e, muitas vezes, das pessoas idosas ou em situação de dependência do agregado familiar. O seu esforço é árduo e, na sua maioria, acompanhado da inexistência dos períodos de descanso devido.

Porém, estas “heroínas invisíveis” não podem ser esquecidas e, por esta razão, a FAO tem especial atenção à inclusão de abordagens de intervenção em prol da afirmação do seu papel na sociedade e igualdade de género. Como mencionado, o projeto HUP é um exemplo desta preocupação e que, desde 2015 a 2017, trabalhou para reduzir a pobreza rural e promover a segurança alimentar e nutricional dos beneficiários.

Depoimentos de mulheres batalhadoras que apesar dos percalços apostam na agricultura

“O meu maior obstáculo foi a falta de abertura para mim no campo da agricultura – ou seja, enquanto mulher, mostrar do que era e sou capaz. Quando o projeto da FAO (HUP) veio a esta comunidade e começou a dar uma atenção especial às mulheres, consegui enfrentar as minhas dificuldades no acesso aos produtos, sementes e materiais e venci os desafios que já fizeram alguns homens recuar na agricultura”, diz Octávia Dias. Esta beneficiária do projeto HUP que recebeu formação agrícola no âmbito das aulas de Escola de Campo realizadas em Lobata, colheu em 2017 cerca de 1,5 toneladas de tomate.

Já Laurinda Camplé cedo se sentiu incentivada para a prática da agricultura. Desde criança acompanhava o pai ao campo. “Ele sempre me incentivou. Aos 26 anos, consegui a minha própria parcela para cultivo e, desde então, é da agricultura tiro o meu sustento e dos meus filhos, pois, como mãe solteira, tenho que zelar pelo bem-estar dos meus filhos”, afirmou Laurinda.

Apesar do sucesso que as une, a dificuldade de acesso à terra sentida por Octávia é um obstáculo que impede a prática da agricultura de muitas mulheres no mundo. Em São Tomé e Príncipe, a lei fundiária garante o acesso igualitário à terra de ambos os sexos. No plano prático, do total de 35,2% de mulheres são-tomenses chefes de família no meio rural, apenas 30% beneficiaram de terras. Esta é uma realidade que a FAO tem trabalhado para reverter, especialmente através da capacitação técnica e apoio na geração de rendimentos alternativos.