FAO em São Tomé e Príncipe

Técnica inovadora de secador solar para salga e secagem de peixe em instalada em Porto Alegre

Construção de 1 dos 30 secadores solares em Porto Alegre © FAO/Denilson Costa

14/08/2019

 14 de Agosto de 2019, São Tomé – O projeto de “Melhoria da comercialização dos produtos haliêuticos no mercado em São Tomé” trata-se de um projeto de cooperação técnica assinado entre a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e o Governo de São Tomé e Príncipe com o intuito de melhorar as cadeias de transformação e comercialização de pescado em São Tomé e Príncipe, tornando o seu consumo mais seguro e a gestão dos stocks pesqueiros mais eficaz e sustentável.

Como forma de aumentar o alcance das ações deste projeto, a FAO assinou com a ONG MARAPA (ONG Mar, Ambiente e Pesca Artesanal) um protocolo de acordo para o desenvolvimento de determinadas actividades, entre elas, o desenvolvimento de técnicas de conservação, transformação e valorização melhoradas com o propósito de aumentar o valor acrescentado, melhorar a conservação dos produtos e reduzir as perdas pós-captura nas fileiras de peixe fresco, seco/salgado e fumado. A construção de 150 protótipos de tendas individuais de secagem solar faz parte deste objetivo e foi no seu âmbito que a ONG se deslocou a Porto Alegre.

A trinta e oito quilómetros da cidade de São Tomé, no distrito de Cauê, encontra-se a comunidade de Porto Alegre, uma população ribeirinha cuja atividade económica principal é a pesca. Através do projeto, e particularmente do acordo assinado com a ONG MARAPA, mais de 30 mulheres e chefes de família beneficiaram de formação em Boas Práticas de Higiene, Boas Práticas de Transformação e gestão de pequenas empresas e micronegócios, o que lhes permitiu reduzir as perdas pós-captura, aumentar os seus rendimentos e oferecer aos consumidores produtos provenientes do mar com maior qualidade.

De facto, a salga/secagem do peixe é uma antiga tradição praticada, especialmente nas comunidades piscatórias, para conservar o excedente de pescado. Desde os tempos em que esta prática se estabeleceu até ao início das intervenções da MARAPA e da FAO, a salga fazia-se em pleno areal, onde o pescado ficava exposto ao ar livre e em contacto direto com a poluição e detritos diversos presentes nas áreas circundantes.

Benita Ventura, palaiê (transformadora e vendedora de peixe), recorda o tempo em que não possuia conhecimento sobre técnicas de secagem melhoradas, descrevendo os seus principais efeitos preversos: "Estendíamos o peixe em cima de pedras na praia e a gente roubava. Sem falar do estrago que os porcos e cães faziam!". Orgulhosa no que aprendeu, Benita assegura que as técnicas usadas antigamente foram melhoradas e agora se dispõe de melhores condições para as praticar.

Distraída enquanto ajuda na construção do secador solar, Benita Ventura conta brevemente a sua história de vida após terminar a quarta classe: "depois dediquei-me a essa profissão (vender peixe), porque engravidei e até hoje eu sou palaiê com muito orgulho. E se hoje eu tenho filhos a estudar no exterior é graças ao meu esforço!".

“É tudo feito à mão", assegura Benedita descrevendo o processo de salga – “Depois de amanhado e escalado, o pescado é colocado em água do mar com um pouco de sal. Muda-se a água duas ou três vezes e depois coloca-se a secar nas pedras ou no bambú".  Adianta ainda que apenas seca “voador panhá”, que depois é vendido no mercado de São Tomé e a toda vizinhança. "Mas também vendemos aqui na praia ou para alguns turistas", revela.

Segundo o técnico e formador da ONG MARAPA, Elísio dos Santos, “foi a pensar em todas as dificuldades encontradas e na necessidade de potenciar a atividade piscatória que a FAO e a ONG estão de mãos dadas. O novo secador solar de que senhora está sendo beneficiada hoje, só foi possível graças ao financiamento que a FAO colocou à disposição no intuito de as palaiês puderem tirar o maior proveito da sua atividade e oferecer melhores produtos à população”. Elísio termina realçando que “só em Porto Alegre serão construídos 30 secadores”.