FAO em São Tomé e Príncipe

Melhorar a nutrição é, antes de tudo, uma questão de políticas públicas

O Director-Geral da FAO saúda alguns dos 450 representantes da sociedade civil que fizeram a viagem neste final de semana à FAO em Roma

13/10/2018

13 de Outubro de 2018, Roma - "Se continuarmos a considerar a nutrição como uma questão apenas dos indivíduos e não como uma responsabilidade do Estado, não avançaremos no combate à fome e à desnutrição no mundo", disse hoje, José Graziano da Silva, Director-Geral da FAO.

"É essencial alterar as estruturas legais e institucionais para que possamos mudar a estrutura produtiva e garantir uma boa nutrição para todos", declarou enquanto falava aos representantes da sociedade civil, reunidos para o seu fórum anual (MSC); uma forma de envolver os atores não-governamentais no processo de formulação de políticas durante o Comité de Segurança Alimentar Mundial (CSA).

"Muitas vezes nos focamos sobre as diferentes formas de melhorar a produção,  que deverão necessariamente passar pela adaptação às mudanças climáticas e ser mais sustentáveis. Devemos também nos concentrar sobre diferentes maneiras de mudar os nossos sistemas alimentares e adaptar as estruturas legais e institucionais que os condicionam, e é aí que ficamos para trás”, acrescentou o Director-Geral da FAO.

 "Isso requer a adopção de uma abordagem multissectorial que envolva não apenas governos, mas também organizações internacionais, a sociedade civil, o sector privado e os cidadãos em geral", disse Graziano da Silva, destacando a importância do CSA como uma plataforma inclusiva para uma diversidade de atores.

O Director-Geral da FAO enfatizou que, nos últimos três anos, a fome e a desnutrição registaram números elevados e que estamos nos estamos a afastar dos compromissos assumidos no âmbito do Programa de Desenvolvimento Sustentável no horizonte 2030.

Segundo as últimas estimativas, 821 milhões de pessoas sofrem de fome, enquanto que o sobrepeso e obesidade se tornou uma epidemia que abrange todo o mundo. A proporção de pessoas obesas no mundo aumentou de 11,7% em 2012 para 13,3% em 2016, incluindo 672 milhões de adultos obesos.

Os sofrimentos relacionados com a fome concentram-se principalmente em áreas específicas, como aquelas devastadas por conflitos, pela seca e pela extrema pobreza. A obesidade é um fenómeno muito mais difundido e está a aumentar em todo o mundo. O aumento da obesidade está "completamente fora de controlo", indicou Graziano da Silva, apontando que 8 dos 20 países em que o problema está em ascensão situam-se em África.

O Director-Geral da FAO insistiu em reorientar a "superestrutura que condiciona a produção" de alimentos, incluindo as instituições, o sector universitário e de pesquisa.

Graziano da Silva enfatizou que os esforços colectivos para alcançar dietas saudáveis também devem levar à criação de padrões sobre a rotulagem e a proibição de certos ingredientes perigosos, a introdução da nutrição nos programas escolares e a adopção de métodos para evitar perda e desperdício de alimentos. O mesmo realçou a importância de estabelecer acordos comerciais que não dificultem o acesso a alimentos frescos das explorações agrícolas familiares e cultivadas localmente.

"Com o aumento da fome e da desnutrição e o questionamento do sistema multilateral por alguns Estados que tentam impor sua lógica de "quem paga mais, decide mais", estamos num momento crucial de reflexão para a sociedade civil e para os povos indígenas ", disse Graziano da Silva.

Durante os próximos dois dias, como parte do Fórum do Mecanismo da Sociedade Civil (MSC), mais de 450 representantes de organizações não-governamentais e outras associações reunir-se-ão em Roma para preparar a sua participação no CSA, que começa na segunda-feira.

 

Notícia adaptada para a língua portuguesa. Link para a notícia original: http://www.fao.org/news/story/fr/item/1157228/icode/