FAO em São Tomé e Príncipe

Belardina Sousa Pontes: Eu costumava depender dos outros, mas agora tenho 6 funcionários e apoio a minha família

© FAO

Ela chama-se Belardina Sousa Pontes, tem 39 anos e é casada. É mãe de seis filhos, avó de 2 netos, beneficiária do projeto “Melhoria da comercialização de produtos haliêuticos no mercado de São Tomé” e membro da Cooperativa de mulheres transformadores de peixe seco e salgado da comunidade de Porto Alegre, chamada "Associação de Pescadores e Vendedores de Peixe de Porto Alegre".

Para melhorar a comercialização dos produtos haliêuticos de São Tomé e Príncipe, a FAO, com o apoio do Governo e assistência técnica da ONG MARAPA, financiou o referido projeto com um total de US $ 354.000, que teve início em Outubro de 2018.

Um total de 64 membros, entre eles 32 mulheres da comunidade de Porto Alegre, foram beneficiados com o objetivo de tornar as cadeias de processamento e comercialização de produtos pesqueiros de São Tomé e Príncipe mais inclusivas, eficientes e sustentáveis.

No âmbito deste projeto, Belardina Sousa Pontes conta sua história, de como esta experiência-piloto da FAO mudou a sua vida na cidade de Porto Alegre. "Quero testemunhar sobre como a segurança alimentar e nutricional da minha família melhorou".

Apesar de não ter podido terminar os seus estudos, cedo ela se dedicou ao negócio pesqueiro, tal como os seus pais. “Abandonei os meus estudos no primeiro ciclo, praticamente no começo. Os meus pais dedicavam-se à pesca e à comercialização de peixe fresco e salgado, ou seja, a mãe preparava e salgava o peixe e meu pai vendia-o”. Com o passar dos anos, enquanto crescia, ela aprendeu com eles esta mesma prática, que mais tarde aperfeiçoou.

Quando ela completou 18 anos, dedicou-se completamente ao trabalho dos seus pais de forma tradicional e rudimentar. "Comecei a trabalhar de forma tradicional e tinha certeza de que era a forma correta e eficiente com a esperança de que me faria aumentar os meus rendimentos económicos".

“Os meus pais separaram-se há muitíssimo tempo. Aos 15 anos, apaixonei-me por um jovem e charmoso pescador, que agora é o meu marido e o pai dos meus filhos, e desde então estamos juntos”, conta Belardina.

Segundo ela, antes de beneficiar do projeto, ela dependia de outras pessoas para poder vender o peixe fresco ou salgado. “Em tudo que fazia, eu dependia de outras pessoas, sobretudo na hora de conseguir o peixe. Quando soube da chegada do projeto, pensei que seria pesado [em termos de carga de trabalho], mas ainda assim me inscrevi, pois era intrigante, e também precisava de uma fórmula para aumentar os meus rendimentos, o que o tornava muito mais interessante.”

Ela tinha a responsabilidade de cuidar não apenas do seu marido, mas também dos seus filhos e netos, bem como dos seus pais. “Desde um acidente de carro, o meu pai ficou paraplégico e a minha mãe também não está de boa saúde, então o meu marido e eu temos também que cuidar deles. Apesar dessa situação, decidi juntar-me à cooperativa de mulheres transformadoras de peixe”. Esta cooperativa é composta por 64 membros, entre os quais as mulheres beneficiárias representam 46,87%.

“Através do projeto, recebemos diversas formações sobre como salgar peixe com inoquidade em condições saudáveis, também sobre boas práticas de transformação, conservação e comercialização de peixe fresco e salgado, cooperativismo e gestão de pequenas empresas; e a partir daí começou a mudança na minha vida”, assegurou Sousa Pontes.

Entusiasmada, disse que colocar todos estes conhecimentos em prática não apenas mudou a sua vida, mas também a da sua família. “A minha vida mudou ao colocar todos esses conhecimentos em prática. Graças a isso, posso apoiar a minha família. Hoje tenho seis funcionários que trabalham para mim, sou proprietária de dois barcos, um de pesca de longa distância e outro de pesca de curta distância e tenho um motor pessoal.” Ela não precisa mais de cuidar de tudo sozinha.

Atualmente, Belardina tem mais tempo livre para se dedicar à sua família e outras atividades. Na verdade, agora ela não se ocupa apenas da venda de peixe, mas também se dedica à venda de alimentos fabricados localmente e à agricultura na parcela de terreno que comprou; embora reconheça que a atividade que mais rendimentos lhe traz é a venda de peixe fresco e salgado.

“Eu vendia 30, 40, 50 quilos de peixe, dependendo da época, mas agora aumentou para 100, 200 a 300 quilos por dia. Quanto aos rendimentos económicos, eu faço a sua gestão e os distribuo de acordo com as necessidades de investimento e outras” expressou Belardina.

Ela agradece à FAO e à ONG MARAPA por este projeto e por tudo o que aprendeu.

A FAO e o género no setor de pesca

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) quer potenciar a igualdade de género no setor pesqueiro, devido à sua importância na garantia da segurança alimentar tanto no nível dos agregados familiares, nos quais as mulheres ajudam a obter alimentos e rendimentos essenciais para as suas famílias, como a nível global, onde a indústria pesqueira enfrenta o desafio de aumentar a produção de maneira sustentável para alimentar uma crescente população mundial.

Enquanto os homens continuam a dominar a pesca de captura e industrial, as mulheres são habitualmente relegadas ao processamento, venda local e funções de apoio, incluindo a limpeza de barcos e o transporte de peixe para o mercado, revelaram dados divulgados pela FAO no relatório sobre o “Estado das Pescas e Aquacultura no Mundo 2018”.

De facto, as mulheres na pesca e na aquicultura nos países estudados constituem uma força de trabalho cuja importância numérica e qualitativa é superior à mostrada pelas informações disponíveis até o momento, conclui o novo relatório mencionado e publicado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).

Código do projeto: TCP/STP/3603

Duração: 2016-2018