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ANEXO IX

CRIA DE LARVAS DE TAMBAQUI (Colossoma Macropomum), CURVIER, 1818 EN EL CERLA PREPARADO POR LOS ACUICULTORES MANOEL BATISTA DE MORAES FILHO, JOSE AUGUSTO SENHORINI Y JUAN JOSE DELEON BELLON

1. INTRODUÇÃO

Foi a primeira vez que o CERLA criou larvas de tambaqui (Colossoma Macropomum). Utilizou-se o processo de redes berçários, colocadas em tanques de terra.

Vale salientar que em 1982, com este mesmo processo, iniciou-se, no CERLA, a criação de larvas de pacu (C. mitrei), obtendo-se resultados bastante promissores.

As pesquisas relativas ao cultivo do tambaqui, em águas da região do sudeste brasileiro, particularmente desenvolvidas no Estado de São Paulo, não poderiam ser omitidas, tendo em vista sua importância econômica e o crescente interesse de sua exploração em piscicultura.

Inicialmente, as tentativas de aclimatação de tambaqui no CERLA, foram feitas com alevinos procedentes do DNOCS, no Ceará, entretanto, com muitas perdas nos meses de junho e julho e crescimento praticamente estacionário dos sobreviventes.

Tornou-se necessário estudar o comportamento dessa espécie, a partir da criação de suas larvas.

O CERLA dispunha de um lote de tambaqui, com 4 anos de idade, criados em seus tanques, sendo que alguns exemplares já se mostravam preparados para a reprodução induzida.

Contudo, no sentido de se testar o comportamento das larvas no que se referem às diferenças climáticas e resistência ao transporte em grande distância (3.000km), solicitou-se ao DNOCS uma partida de larvas desta espécie.

Inclui-se entre os objetivos do CERLA, pesquisas voltadas ao desenvolvimento de técnicas de transporte de larvas recém eclodidas. As vantagens advindas deste processo, além de minimizar custos, permitem o transporte de uma quantidade maior de indivíduos, pois 100.000 larvas, aproximadamente, podem ser transportadas em um saco plástico com capacidade de 8 a 10 litros de água com suprimento de oxigênio, ao passo que 500 alevinos necessitariam de cerca de 500 litros de água, quando transportados sem a adição de oxigênio.

A metodologia para a criação de larvas em redes berçários em fazendas, inclusive onde não haja energia elétrica, está sendo desenvolvida no CERLA.

No decorrer do processo criatório, uma maior atenção foi dispendida à manutenção das taxas de sobrevivências das larvas e alevinos, evitando-se manuseios excessivos, o que prejudicou, em parte, a obtenção de dados biométricos.

2. MATERIAL E MÉTODO

Foram usadas para a criação das larvas seis redes bercários, sendo três com abertura de malha de 333 micra e 3 com abertura de malha de 1mm.

Das três redes de malha de 333 micras, uma com as dimensões de 6m × 4m × 0,50m (12m3) foi usada com o emprego de compressor para a aeração; as outras duas, chamadas de “redes fazenda” com as dimensões de 7,56m × 2,45 × 1,00m (18,52m3) e 7,20m × 2,40m × 0,92m (15,9m3) com o fundo de lona plástica, dispensam o emprego de compressor, porque ficam acopladas a uma bica de madeira que permite constante renovação da água, as outras três redes de 1 mm de malha, sem fundo de lona plástica, com as dimensões de 9,70m × 2,50m × 0,70m (17m3); 11,60m × 2,32m × 0,92m (15,9m3) e 6,70 × 1,00m × 0,50m (3,3m3) podem também receber o suprimento de ar por compressor. Utilizaram-se dois tanques de terra de 1.000m2 expurgados com cal virgem, adubados com esterco de galinha, com as respectivas bicas de madeira para receber as redes berçários; dois compressores com os acessórios para o suprimento de ar nas redes; um marcador para o registro do consumo de energia; um microscópio e uma lupa estereoscópica para exame do plancton; um liquitificador para bater a ração suplementar nos primeiros dias de alimentação das larvas; um pulverizador marca “Pioneiro” para aspergir, na forma líquida a ração; duas redes de plancton, uma de 37 micra e outra de 373 micra.

Para a tomada dos parâmetros de temperatura, oxigênio dissolvido, pH e amônia (NH3), foram utilizados um oxigenômetro, modelo 57 e um phmetro Fisher digital 107 modelo 607, e uma caixa Hach, modelo DR EL/02, usada para a determinação da amônia (NH3).

A alimentação das larvas, bem como dos alevinos nas redes, constituíram principalmente de alimento vivo e de ração artificial, esta, distribuída duas vezes ao dia.

Quando era notada pelas amostragens feitas dentro das redes, a diminuição do plancton (principalmente rotíferos), aumentava-se a suplementação da ração artificial que tinha o teor protéico de 52%.

Além das pequenas formas de zooplancton que conseguem atravessar a malha de 333 micra da rede, foi feito um reforço diário dessa alimentação, colocando-se nas redes 40 litros concentrados de rotíferos, produzidos nos tanques de terra, sendo 20 litros pela manhã e 20 litros a tarde.

Os tanques de terra empregados, foram adubados para garantir a necessária produção de alimento vivo, quinze dias antes da chegada das larvas.

3. DESENVOLVIMENTO DOS TRABALHOS

A fim de levar a efeito a programação para criação de larvas de tambaqui, foram mantidos contatos com a 2a. Diretoria Regional de Pesca e Piscicultura do DNOCS, no Ceará, solicitando-lhe o envio de uma remessa de larvas.

Por outro lado, iniciavam-se trabalhos dirigidos à desova induzida do lote de reprodutores de tambaqui, existentes no CERLA.

Os prazos previstos para a obtenção das desovas tanto no CERLA, quanto no DNOCS, não se confirmaram, tendo havido um atraso de 16 dias que trouxe implicações desfavoráveis ao esquema de produção da alimentação viva, de acordo com as sucessões planctônicas.

De um lote especialmente selecionado na Estação de Piscicultura Pedro de Azevedo, em Lima Campos, Ceará, uma fêmea pesando 8,5 quilos desovou em 23/02/84, ocorrendo a eclosão às 12 horas do dia 24/02/82; do lote induzido no CERLA, uma fêmea pesando 6,0 quilos desovou em 29/02/84, um valor estimado de 300.000 larvas, de acordo com dados fornecidos pelo Setor de Reprodução.

As larvas procedentes do Ceará, ainda com saco vitelino e boca fechada, foram embaladas para viagem em 8 sacos plásticos com suprimento de oxigênio, contidos em caixa de isopor.

Um total de 19.00 horas foi gasto para o transporte das larvas, desde a embalagem, até a efetiva chegada ao CERLA, utilizando-se na viagem, transportes terrestres e aéreos.

Num intervalo de 16.00 horas, procedeu-se a abertura dos sacos contendo as larvas, para efetivar a reoxigenação da água, ainda quando em caminho para o CERLA.

Para a recepção das larvas, duas redes berçários já estavam instaladas num tanque de terra de 1.000m2.

Foram realizadas a determinação da temperatura da água dos sacos e de dentro das redes, a fim de proceder-se a devida homogeneização. Apresentavam 3 sacos, maior quantidade de larvas mortas, tendo sido, por isso, determinados seus teores de amônia.

Os dados referentes à temperatura, oxigênio dissolvido, pH e amônia, estão demonstrados na tabela a seguir.

SACOTEMPERATURA
(°C)
O2D
(ppm)
pHNH3
130.7+20--
231.7+20--
330.9+20--
431.0    16.0--
531.2+206.71.90
631.1    12.0--
731.6    11.86.351.67
831.5    15.06.354.09

A temperatura da água nas redes e consequentemente na do tanque era de 31°C.

Dos 8 sacos, 5 foram colocados na rede de 12m3, malha de 333 micras com suprimento de are 3 que apresentavam maior quantidade de larvas vivas, na rede de fazenda, tendo capacidade aproveitável de 9,3m3, com uma coluna de água, em média, de 50cm.

As redes foram cobertas com tela de nylon para evitar que a Odonata pudesse fazer postura na água dentro da rede, bem como a entrada da água foi protegida com uma tela de malha de 333 micra (antiovo).

Colocadas as larvas nas duas redes, elas se comportaram com impulsos ainda direcionados na vertical, procurando atingir a superfície da água.

No dia 28/02/84, as larvas, em sua maioria, estavam com cerca de dois terços do saco vitelino absorvidos e a boca já aberta; a temperatura da água mantinha-se numa variação de 26°C a 30°C (no período da manhã e a tarde). Neste estágio o saco vitelino ainda era visível, olhando-se a larva de dorso, esférico.

O CERLA escalou um de seus técnicos para acompanhar não só o processo de reprodução induzida do tambaqui, em Lima Campos, bem como o transporte das larvas até o Centro.

Em virtude do atraso havido na programação da chegada das larvas, com referência ao cronograma de produção do alimento vivo, tivemos que usar mais dois tanques de terra de 1.000m2, a fim de garantir esse tipo de alimento nos tanques e nas quantidades adequadas à capacidade de apreensão das larvas.

Os tanques foram expurgados com 200g/m2 de cal virgem e adubados com esterco de galinha em gaiola, a base de 1.100g/m2 com adição de 5g/m2 de escória de Volta Redonda que é rica em silicato de cálico.

Houve abundante produção principalmente de rotíferos Brachionus calyciflorus, do gênero Conochilus e outras espécies de Brachionus, sucedidos por piques de cladóceros da espécie Moina micrura e copépodo - Calanoida Argyrodiaptomus furcatus.

As algas forrageiras, para a alimentação desse microherbívoros, foram mais abundantes Chlorella, Botryoccus, Esphaerocystis e Scenedesmus.

Os rotíferos atingem a produção máxima e permanecem em pique, apenas, 3 a 4 dias, podendo uma espécie suceder a outra em densidade elevada se as condições do meio lhes forem favoráveis principalmente, alimento, pH e temperatura.

A alimentação suplementar inicialmente foi distribuída às larvas na forma líquida, batida em liquidificador e aspergida nas redes, por pulverizador, duas vezes ao dia: às 9:00 e às 16:00 horas, prevenindo-se, com isto, uma possível carência alimentar, devido a densidade relativamente grande de larvas.

Essa ração continha níveis considerados altos de aminoácidos arginina, leucina, isoleucina e ácido glutâmico, tidos como estimuladores de crescimento.

As larvas do DNOCS, Ceará, permaneceram nas redes de malha de 333 micra, 10 dias e as larvas nascidas no CERLA, 13 dias.

Apresentavam as larvas do DNOCS em 28/02/84 com 4 dias de idade o comprimento total de 6, 5mm. As do CERLA que completaram 4 dias de idade em 03/03/84, o comprimento total de 7, 0mm.

Nas redes de 1mm de malha as larvas do Ceará ficaram 16 dias e as do CERLA, 9 dias.

Ainda nas redes de malha 1mm, os alevinos do DNOCS em 12/03/84 com 17 dias de idade, apresentavam comprimento total de 15,0mm e altura de 5,09; ao completarem 27 dias de idade em 23/03/84, apresentavam comprimento total de 43, 0mm e altura de 17, 0mm, e aos 38 dias de idade, em 02/04/84, 65, 0mm de comprimento e altura de 29, 0mm.

Essas medidas não correspondem à média, são dados de amostras casuais.

Já possuindo um comprimento médio de 20mm, os alevinos saíram das redes berçários de 1mm de malha no dia 24/03/84 para três tanques de terra de 1.000m2 (B2, B7 e B12), transportados em sacos plásticos, não tendo havido praticamente perdas.

Desde a entrada das larvas para as redes até a saída dos alevinos para o ambiente livre dos tanques, foram feitas tomadas dos parâmetros temperatura, oxigênio dissolvido, pH e amônia (Gráficos 1, 2 e 3).

Os tanques, para a recepção dos alevinos, foram também expurgados com 200g/m2 de cal virgem e adubados com esterco curtido de bovino a razão de 1.100g/m2 com adição de 5g/m2 de MAP e 5g/m2 de escória de Volta Redonda.

As ninfas de Odonata e de outros predadores são destruídas na ocasião do expurgo, embora a reinfestação se proceda depois com a diminuição do pH. A produção de zooplancton, no momento da colocação dos alevinos nos tanques, era abundante e o pH em torno de 8, 5.

E difícil estabelecer-se uma taxa de sobrevivência, mas, podemos estimar um total de 210.000 alevinos, obtidos das desovas de duas fêmeas: uma do DNOCS, outra do CERLA.

Com vista a chegada do frio que se intensifica nos meses de maio, junho e julho e que acarreta natural queda de resistência orgânica dos peixes, que de regra, pouco se alimentam de ração artificial, ficando portanto sujeitos às doenças, os tanques estão sendo mantidos num regime de adubação a cada 10 dias com 50 quilos de esterco de galinha em gaiola, para que haja uma produção contínua de zooplancton, que se constitui numa alimentação mais apropriada em tais condições, principalmente por se tratar de espécie filtradora e que se alimenta, até em estado de semihibernação e, ainda, está sendo mantido o pH à custa de recalagens com cal hidratada, numa faixa em torno de 8,5, o que é desfavorável ao desenvolvimento do Ichthyophthirius, principal agente dizimador de peixes tropicais nesta época.

A ração suplementar continua a ser distribuída aos alevinos nos tanques, 2 vezes ao dia: pela manhã e à tarde em quantidades estimadas em relação a biomassa. Contudo, em vista deste trabalho se encontrar em fase de andamento, não se tem ainda uma conclusão.

4. DISCUSSÃO

O processo empregado na criação das larvas de tambaqui (C. macropomum) foi a mesmo iniciado em julho de 1982 que apresentou resultado bastante encorajador na criação de larvas de pacu (Colossoma mitrei) e que se baseia na produção de alimento vivo abundante e no controle dos predadores, principalmente das ninfas de Odonata, que chegam a destruir cerca de 70% das larvas de peixe.

As redes berçários empregadas constituem-se no mais importante meio de proteção das larvas em seus primeiros dias de vida contra esse voraz predador. A proteção se estende ainda com a cobertura das redes com tela de nylon para evitar que a Odonata faça postura diretamente na água dentro da rede, bem como o emprego da tela de malha de 33 micra (antiovo) na entrada da água.

A produção do alimento vivo é garantida com a adubação dos tanques, procurando-se eliminar, com as calagens, a ação de certos elementos químicos do solo, antagônicos aos nutrientes fundamentais como é o caso do fósforo.

O uso da ração suplementar com teor de proteína total em torno de 52% foi feito para melhor garantir a alimentação, porque larvas de peixe de modo geral, quando entram em inanição, dificilmente se salvam.

Durante a permanência das larvas e alevinos nas redes não foi observado o canibalismo. O processo ainda está em estudos e esperamos alcançar um máximo de sobrevivência.

Entende-se que os 210.000 alevinos produzidos, mesmo sendo essa quantidade uma estimativa, possa ser considerado um bom resultado.

5. CONCLUSÃO

A criação de larvas de tambaqui (C. macropomum) em redes berçários até a fase de alevinos nas condições ambientais existentes no CERLA e, de acordo com o processamento adotado, é viável.


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