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FICHA DE INFORMAÇÃO 2: PROBLEMAS ALIMENTARES E NUTRICIONAIS


No decurso dos anos 90, certos países africanos melhoraram a produção alimentar e aumentaram os seus níveis nutricionais, enquanto outros viram aumentar o número de pessoas com fome. De facto, mais de 1/4 da população de África não consome alimentos suficientes para ter uma nutrição saudável e uma vida produtiva.

Em muitas regiões, a pobreza é uma das causas principais da fome e da malnutrição Muitas pessoas não têm acesso a uma alimentação suficiente porque os seus rendimentos são escassos. Muitas vezes, as populações rurais sofrem de fome porque não têm acesso a terra boa ou não possuem os conhecimentos e a tecnologia necessários para tornar a sua terra mais produtiva. Para melhorar a produção alimentar e aumentar os níveis nutricionais, é pois importante explorar novas potencialidades. Se forem postas à disposição soluções práticas e conselhos técnicos adequados, é possível aumentar a produtividade do solo, diversificar as culturas e aumentar o consumo alimentar, mesmo se as pessoas só tiverem pequenas parcelas de terra.

Em geral, as crianças e as mulheres grávidas e em fase de amamentação são mais vulneráveis à malnutrição, por causa das suas necessidades nutricionais específicas. Em muitas regiões de África, as crianças têm peso a menos ou outros sinais de malnutrição. Algumas comunidades rurais utilizam termos locais para descrever diferentes sinais ou formas de malnutrição (por exemplo, cegueira nocturna, marasmus e kwashiorkor), mesmo que nem sempre saibam exactamente quais as suas causas.

A malnutrição é uma das principais causas de mortalidade infantil. Um quarto das crianças africanas não atinge os cinco anos de idade. Mais de 10 % dos recém-nascidos, na África Sub-Saariana, têm pouco peso à nascença (inferior a 2,5 kg) devido ao mau estado de saúde das mães e à insuficiência nutricional, antes e durante a gravidez. O baixo peso à nascença é uma das causas principais de doença e de mortalidade entre os recém-nascidos.

As formas mais comuns de malnutrição são a malnutrição proteico-energética (MPE) e a carência de três micronutrientes, nomeadamente a vitamina A, o ferro e o iodo.

MALNUTRIÇÃO PROTEICO-ENERGÉTICA

Sintomas

A malnutrição proteico-energética manifesta-se quando as crianças não consomem alimentos suficientes para satisfazer as suas necessidades de energia e de nutrientes. As crianças apresentam um peso baixo, ou estão desnutridas; e se a sua dieta não for adequado durante vários meses ou anos, não crescerão normalmente, ficando raquíticas (isto é, peso e altura inferiores ao das crianças da mesma idade cuja alimentação é adequada). As crianças desnutridas têm pouca energia para brincar e correr; são muitas vezes apáticas, parecem tristes, aprendem lentamente e têm menor resistência às doenças infecciosas.

As crianças cuja alimentação é insuficiente durante vários meses e que contraem facilmente infecções desenvolvem uma forma de MPE grave, conhecida como marasmo. Os sinais de marasmo são pernas e braços extremamente magros, uma expressão facial de velho, o abdómen saliente e uma tendência para a tristeza e para chorar muito.

A outra forma de MPE grave é a kwashiorkor, que é mais complicada. É igualmente devida à falta de energia e de nutrientes, mas existem outros factores que favorecem o seu desenvolvimento nalgumas crianças, tais como uma forte carência de vitamina A e de outros micronutrientes. Os sinais de kwashiorkor podem aparecer rapidamente, muitas vezes quando uma criança tem uma infecção ou quando o aleitamento materno é interrompido bruscamente. As pernas, os braços e a cara da criança parecem inchados (por causa dos edemas nos tecidos), têm uma "expressão lunar" (a pele fica pálida e fina, podendo haver descamação), e os cabelos ficam mais claros e mais lisos do que é normal. Estas crianças podem ficar também extremamente tristes ou apáticas (com falta de interesse pelas coisas à sua volta). Algumas crianças podem apresentar ao mesmo tempo sintomas de marasmo e kwashiorkor (por exemplo, são extremamente magras e podem também ter edemas nas pernas, nos braços e na cara). Se não receberem uma alimentação adequada e tratamento médico, as crianças atingidas por uma das formas de MPE grave correm o risco de morrer.

FIGURA 1
Marasmo

FIGURA 2
kwashiorkor

Causas

As crianças que sofrem de MPE provêm muitas vezes de famílias pobres que não produzem alimentos suficientes ou não têm rendimentos suficientes para comprar alimentos adequados. Por vezes, as crianças de famílias abastadas são igualmente desnutridas, não porque a família tenha falta de comida, mas porque os pais desconhecem as necessidades alimentares específicas das crianças pequenas e ignoram como preparar refeições equilibradas, saudáveis e nutritivas. Os pais nem sempre estão conscientes da relação entre alimentação insuficiente e malnutrição.

A malnutrição também pode ser consequência da falta de água, falta de lenha ou de utensílios de cozinha para a preparação dos alimentos, ou ainda da falta de tempo da mãe para se ocupar da criança convenientemente ou para as visitas regulares à unidade sanitária. As infecções frequentes causadas por falta de higiene e instalações sanitárias sem condições também contribuem para a malnutrição.

As crianças que estão frequentemente doentes estão mais expostas à malnutrição, porque, quando estão doentes, perdem o apetite e recusam-se a comer. Por outro lado, as crianças malnutridas têm menor resistência às infecções e adoecem com mais frequência do que as crianças bem alimentadas.

Para que as crianças se mantenham de boa saúde, os pais devem assegurar-lhes uma alimentação que forneça energia suficiente e todos os nutrientes essenciais, incluindo as proteínas, as vitaminas e os sais minerais. A alimentação deve também ser saudável e livre de germes ou de parasitas. Deve-se dar às crianças água limpa e potável e ensinar-lhes hábitos de higiene correctos (por exemplo, lavar as mãos antes das refeições e depois de usar a casa de banho).

Os grupos de risco

Uma nutrição adequada é essencial em todas as etapas do ciclo da vida, do nascimento à velhice. Contudo, é particularmente importante que os bebés e as crianças em idade pré-escolar tenham uma ingestão alimentar adequada, uma vez que são os mais vulneráveis à malnutrição. As mulheres grávidas e as mães em fase de aleitamento são igualmente vulneráveis, assim como os idosos e os convalescentes. Os bebés ficam desnutridos se não tiverem leite materno suficiente ou se a alimentação complementar for introduzida demasiado tarde, ou não fornecer a energia e os nutrientes essenciais necessários. A partir dos 6 meses de idade, o leite materno é insuficiente; como tal, devem ser introduzidos, na alimentação da criança, os alimentos complementares (por exemplo, os alimentos de desmame), para permitir que cresça e se desenvolva normalmente.

Avaliação

As crianças saudáveis aumentam de peso todos os meses. A pesagem, especialmente de bebés e crianças em idade pré-escolar, constitui pois o meio mais fácil de determinar se uma criança sofre de malnutrição proteico-energética. Uma pesagem mensal é extremamente importante nas crianças com menos de 5 anos. Quando a pesagem mostra que a criança está a perder peso e a ficar malnutrida, uma acção preventiva deve ser tomada rapidamente.

Em muitos países, o pessoal dos centros de saúde das zonas rurais tem formação para pesar as crianças e registar o seu peso no cartão de controle de crescimento. Se as crianças forem pesadas uma vez por mês, é possível saber se estão a crescer normalmente. Infelizmente, certos centros de saúde ou comunidades de África não têm balanças disponíveis; neste caso, um outro método, conhecido pelo nome de perímetro braquial a meia altura (PBMA), pode ser utilizado para avaliar o estado nutricional das crianças.

Entre 1 e 5 anos de idade, o perímetro braquial de uma criança varia pouco. Isso acontece porque, no caso de uma criança bem alimentada, enquanto os músculos do braço se desenvolvem, a gordura que acumulou em bebé diminui. Assim, quando uma criança cresce de forma saudável, o perímetro braquial aumenta pouco. Contudo, se uma criança cresce muito lentamente ou perde peso, os músculos não se desenvolvem muito e o perímetro braquial é inferior ao normal. O perímetro braquial de uma criança bem alimentada é superior a 13,5 cm. Quando o perímetro diminui para se situar entre 13,5 cm e 12,5 cm, a criança é considerada como moderadamente desnutrida. Se o perímetro braquial for inferior a 12,5 cm, a criança está gravemente desnutrida.

A malnutrição pode ser evitada se as crianças receberem uma quantidade adequada de alimentos, pouco volumosos, suficientemente energéticos e ricos em vitaminas e sais minerais essenciais. Informações sobre a alimentação dos bebés e das crianças pequenas serão apresentadas nas Fichas de Informação 4, "Refeições ligeiras nutritivas e saborosas para crianças pequenas", e 5, "Transformação e preparação caseira de alimentos de desmame", assim como na Rubrica Tecnológica de Horticultura, "Garantir diariamente uma boa alimentação à família".

CARÊNCIA DE MICRONUTRIENTES

Para além de macronutrientes, tais como hidratos de carbono, proteínas e gorduras, o corpo humano precisa de vitaminas e de sais minerais. Embora o corpo só necessite de uma pequena quantidade de vitaminas e de sais minerais (é por isso que estes últimos são geralmente designados como micronutrientes), uma quantidade insuficiente de micronutrientes na dieta afecta a saúde e o desenvolvimento tanto das crianças como dos adultos, e provoca doenças carenciais que podem pôr a vida em perigo. As três principais carências de vitaminas e minerais são: a carência de vitamina A, a carência de ferro ou anemia, e as perturbações devidas à carência de iodo.

A carência de vitamina A

A carência de vitamina A (CVA) é uma das doenças nutricionais mais graves nas crianças; está muitas vezes associada à MPE. A carência de vitamina A causa cegueira nocturna e, em casos mais graves, pode afectar os olhos, causar cegueira total, e aumentar o risco de infecção e de morte. Calcula-se que, todos os anos, cerca de 300.000 crianças de países em vias de desenvolvimento perdem a visão devido à carência de vitamina A, e 2/3 destas crianças estão em risco de morrer. A CVA afecta igualmente os adultos; as mulheres grávidas e as mães em fase de aleitamento são particularmente ameaçadas.

A carência de vitamina A aparece quando uma criança ou um adulto não consome alimentos suficientes ricos em vitamina A ou não consome gorduras suficientes. As gorduras e os óleos facilitam a absorção da vitamina A; assim, quando uma dieta é pobre em gorduras, só são absorvidas pequenas quantidades de vitamina A. A carência de vitamina A é muitas vezes agravada por doenças ou infecções, como a varíola ou a diarreia, que aumentam igualmente as necessidades de vitamina A.

A carência de vitamina A é particularmente frequente nas regiões de baixa precipitação, onde a estação húmida e a estação seca são bem distintas e onde a disponibilidade e consumo de legumes de folhas verdes e de frutos amarelos ou alaranjados é sazonal. Por vezes, pode-se detectar a carência de vitamina A numa comunidade, quando o consumo de alimentos ricos em vitamina A é baixo e a população utiliza termos locais para descrever a cegueira nocturna.

A melhor maneira de prevenir a carência de vitamina A é encorajar as famílias a produzirem e consumirem, durante todo o ano, alimentos ricos em vitamina A. Estes últimos compreendem os legumes de folhas verde escuro, os frutos amarelos ou alaranjados, assim como uma grande variedade de legumes de folha tradicionais. Entre os alimentos de origem animal, o fígado é particularmente rico em vitamina A. Antes da introdução de alimentos de desmame, o leite materno é a única fonte de vitamina A para os bebés. Assim, as mães em fase de amamentação deveriam consumir muitos alimentos ricos em vitamina A para cobrir as suas próprias necessidades e as do filho que amamentam. Um consumo adequado de óleo ou de gordura é igualmente importante, para assegurar que a vitamina A é bem absorvida, sobretudo entre as crianças, as mulheres grávidas e as mães em fase de amamentação.

A anemia

A anemia é a perturbação nutricional mais difundida em todo o mundo. A causa mais comum da anemia nutricional é a carência de ferro, ou a falta de ferro na dieta. Outras causas são as infecções parasitárias, tais como a ancilostomíase, e a perda de sangue durante a menstruação e o parto. O ferro é um mineral importante, que é necessário para a formação dos glóbulos vermelhos, que transportam o oxigénio no sangue.

As pessoas com anemia têm geralmente a língua e os lábios pálidos, e o interior das pálpebras branco. A anemia reduz a capacidade de trabalho, aumenta o cansaço e diminui a capacidade de aprendizagem das crianças. Os grupos de alto risco de anemia são as mulheres, especialmente durante a gravidez e depois do parto; os bebés; as crianças pequenas; e os adolescentes, especialmente as raparigas que estão no período de crescimento rápido.

A anemia nutricional pode ser evitada garantindo que as mulheres e as crianças comam suficientes alimentos ricos em ferro (por exemplo, pequenas quantidades de fígado, de carne, de peixe e de leguminosas, tais como o feijão-bambara e o feijão-nhemba). Estes alimentos devem ser consumidos em associação com outros alimentos ricos em vitamina C (por exemplo, os citrinos, as goiabas, as papaias, e alguns legumes verdes), porque a vitamina C aumenta a absorção do ferro. Uma outra forma de prevenir a anemia é evitar beber café ou chá imediatamente depois da refeição, dado que estas duas bebidas contêm substâncias que impedem a absorção do ferro.

A carência de iodo

As perturbações devidas à carência de iodo (PCIs) são causadas por uma falta de iodo na alimentação e no solo em que crescem as culturas. Esta carência é mais comum nas regiões onde o iodo do solo foi arrastado pelas chuvas ou em zonas interiores onde os produtos do mar são raros.

A glândula tiróide, situada na parte da frente do pescoço, armazena e utiliza o iodo para produzir a hormona do crescimento. Se na dieta não contiver iodo suficiente durante um longo período de tempo, aparecem sinais de carência.

Mais de um bilião (mil milhões) de pessoas no mundo estão em risco de PCIs, como o bócio, que se manifesta pelo aumento de volume da glândula tiróide, pelo baixo peso à nascença, crescimento insuficiente nas crianças e alteração do desenvolvimento mental. Em casos mais graves, o cérebro pode ser afectado.

O consumo de sal iodizado é uma maneira eficaz de prevenir as PCIs, e é pois altamente recomendado. Em algumas regiões, o iodo é adicionado à água de beber, incluindo nos poços das aldeias.


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