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FICHA DE INFORMAÇÃO 9: GESTÃO DA ÁGUA


A conservação do solo e a gestão da água estão intimamente relacionadas. Embora as plantas tenham diferentes necessidades de água, nenhuma planta cresce sem uma certa quantidade de água. Contudo, certas plantas desenvolveram uma grande tolerância à seca e, algumas delas, uma grande resistência.

As plantas podem conter até 90 % de água. A água é absorvida principalmente através do sistema radicular da planta, sendo os nutrientes absorvidos ao mesmo tempo. As raízes saudáveis precisam de ar (arejamento) para se desenvolverem, mas um excesso de água no solo impede o ar de penetrar, o que prejudica as raízes da planta. A gestão da água é pois extremamente importante, quer nas regiões com bons recursos hídricos, quer nas regiões onde a água é escassa.

A capacidade de retenção da água é fortemente influenciada pelo tipo de solo. Um solo rico em matérias orgânicas tem um melhor arejamento, uma estrutura melhor e uma melhor capacidade de retenção da água.

Os terrenos pesados e lamacentos são demasiado densos para permitir a penetração do ar e a saída da água, pelo que as raízes não podem respirar e as plantas podem ter problemas de crescimento. Quando um solo deste tipo seca, fica como se fosse cimento, e a água leva muito tempo para o penetrar. Por outro lado, os solos arenosos de estrutura grossa, são demasiado soltos para reter a água. Neste tipo de solos, as raízes da planta não conseguem encontrar água suficiente para crescer no caso de não receberem um abastecimento regular de água. Uma aplicação regular de matérias orgânicas nestes dois tipos de solos, melhorará a sua capacidade de reter e libertar água e ar suficientes.

GESTÃO DA ÁGUA EM REGIÕES DE GRANDE PRECIPITAÇÃO

Nas regiões onde as precipitações são abundantes, ou em terras húmidas, a gestão da água consiste sobretudo em limitar os estragos provocados pelo excesso temporário de água. A drenagem é pois o factor mais importante. Nas terras em declive, os canais de drenagem escavados ao longo das curvas de nível permitem o escoamento da água. O declive não deve exceder 0,4 graus (isto é, uma diferença de altitude de 10 cm em 25 m) para abrandar a corrente da água e evitar a erosão. A água pode ser recolhida na extremidade do canal de drenagem, numa cisterna escavada à mão, a fim de ser utilizada mais tarde.

Uma boa maneira de gerir o excesso de água consiste em plantar, perto de um ponto de água (terras húmidas, margens de um curso de água ou terras inundadas), plantas que podem tolerar maior humidade do solo As plantas menos tolerantes ao excesso de água devem ser plantadas em camalhões ou canteiros sobrelevados. Se forem bem geridas, algumas terras húmidas, conhecidas como dambos na Zâmbia, mapani no Zimbabwe, mbugas na Tanzânia, machongos em Moçambique e marais no Ruanda, podem ser cultivadas durante todo o ano. Deve-se evitar a drenagem excessiva, especialmente em solos orgânicos.

As terras húmidas baixas estão sujeitas a inundações sazonais ou permanentes causadas pelo escoamento das águas de superfície ou pela infiltração das águas subterrâneas que se escoam de um depósito situado sobre uma camada de solo impermeável, em direcção a terras mais baixas. Nestas zonas, as matérias orgânicas decompõem-se lentamente, formando uma camada de solo escura, rica em húmus e muito fértil.

As terras húmidas são importantes porque permitem aos pequenos agricultores produzirem alimentos durante uma boa parte do ano, nomeadamente durante a estação seca. Na África Oriental e Austral e em certas regiões do norte da África Ocidental, as hortas encontram-se principalmente em terras húmidas. Como estas terras podem permanecer húmidas durante uma grande parte do ano, a maioria das culturas cresce em canteiros sobrelevados ou camalhões para reduzir o excesso de água e facilitar a drenagem. Os regos vão impedir o excesso de água de se aproximar das plantas, conduzindo-o para as raízes da planta, como vem ilustrado na Figura 1. Quando o nível da água baixa, esta é canalizada para caldeiras e retirada com recipientes para os camalhões. Se o nível da água descer mais, as plantas são cultivadas em canteiros planos e, eventualmente, no pico da estação seca, em canteiros abaixo do nível do solo. As plantas podem ser cultivadas em diferentes partes de um camalhão (no alto, nos lados ou no fundo), de acordo com a sua necessidade de água ou a sua tolerância ao excesso de água.

Os canais e valas drenam a água das superfícies inundadas pelas chuvas. As plantas que necessitam de muita água, tais como o arroz, a cana-de-açúcar, a matabala e o cacon, podem crescer nestas terras. Outras plantas, como a mandioca, o inhame e os legumes de folhas, podem ser cultivadas em canteiros sobrelevados. As terras húmidas são frágeis e devem ser utilizadas com muitos cuidados, pois tanto a erosão do solo como uma drenagem excessiva as podem prejudicar.

FIGURA 1
Os camalhões permitem conduzir a água directamente para as raízes das plantas

A GESTÃO DA ÁGUA NUM CLIMA SECO OU DURANTE A ESTAÇÃO SECA

É mais difícil e trabalhoso manter a humidade do solo e recolher a água proveniente de diferentes fontes do que impedir as colheitas de terem excesso. Nas zonas áridas, gerir a água significa utilizar eficazmente os recursos hídricos disponíveis, impedindo o escoamento das águas e reduzindo a evapotranspiração, isto é, a perda de água pela evaporação a partir do solo e das folhas das plantas. Em condições de seca, as plantas devem ser cultivadas de modo a permitir a máxima utilização da humidade disponível. É evidente que é muito importante escolher plantas que resistam à seca e que tenham reduzida necessidade de água. As plantas com raízes profundas, como a beringela africana, podem normalmente suportar melhor a falta de água do que as plantas de raízes superficiais. Uma vez enraizadas, as culturas permanentes, tais como muitas árvores e arbustos, toleram bem condições de baixa disponibilidade de água.

É igualmente importante utilizar da melhor forma possível as águas das chuvas e procurar que as plantas beneficiem da humidade durante o maior tempo possível. Durante a estação das chuvas, os canteiros em caldeira ou em sulcos são muitas vezes utilizados para reter uma quantidade máxima de água e torná-la acessível às plantas, ou para evitar o escoamento das águas de superfície. As microcaldeiras são utilizadas desde há muito tempo; adaptam--se bem às terras inclinadas. Constroem-se colocando um anel ou semicírculo de pedras, de solo ou de outro material, à volta de cada planta, em particular das árvores de fruto. É importante não fazer barreiras mais altas do que o tronco da planta, a fim de não prejudicar a casca. Deste modo, é possível recolher a água na caldeira a uma certa distância do tronco, como ilustra a Figura 2.

FIGURA 2
Microcaldeira à volta de uma árvore

Se a planta estiver exposta à luz solar e ao calor, a água perde-se por causa da transpiração. Pode-se evitar ou reduzir este inconveniente criando quebra-ventos naturais e sombra. A protecção com folhagem seca também permite reduzir a perda de humidade do solo por evaporação.

As ervas daninhas devem ser arrancadas porque disputam a humidade com as plantas cultivadas. Para reduzir as perdas de rendimento, podem colocar-se junto dos pontos de água as culturas que têm um período de maturação curta. Quando um solo tem um teor elevado de matérias orgânicas fica húmido mais facilmente. O composto e o adubo verde permitem aumentar o teor do solo em matérias orgânicas. A protecção com folhagem seca ajuda a reter a água no solo, evitando que a sua superfície seque ou aqueça demais. A folhagem de protecção de cor clara é particularmente eficaz, uma vez que reflecte a luz do sol e o calor. Para mais detalhes, ver a Rubrica Tecnológica de Horticultura 6, "Técnicas especiais para melhorar a gestão do solo e da água".

MOBILIZAÇÃO DA COMUNIDADE EM TORNO DE UM PONTO DE ÁGUA

Nas regiões húmidas e semi-húmidas de África, a cultura pluvial é praticada durante cerca de sete meses por ano, e a procura de água de irrigação é relativamente baixa. Além disso, como o nível de água é bastante elevado durante a estação das chuvas, o custo de exploração de um ponto de água para a horticultura é relativamente baixo. A situação é, contudo, muito diferente para as famílias das regiões semi-áridas. É frequente, nestas regiões, que as famílias não tenham acesso a um ponto de água fiável durante todo o ano.

Em tais regiões, a necessidade de um ponto de água fiável torna-se um elemento fortemente mobilizador da comunidade, e essa mobilização pode concretizar-se de diversas maneiras. Por exemplo, as famílias, consultando os serviços de extensão técnica competentes, governamentais ou não governamentais, podem formar grupos e decidir qual o ponto de água mais apropriado para explorar. As famílias interessadas podem então juntar os seus recursos para instalar um ponto de água colectivo, por exemplo construir uma pequena barragem ou cavar um poço, ou conseguir bombas para transportar a água a partir de uma ribeira próxima.

Os membros da comunidade podem formar um grupo de poupança ou uma associação para obter apoios, provenientes de um fundo de desenvolvimento comunitário ou de um micro-projecto, destinados à compra de bombas de água. Se a qualidade da água puder ser garantida, investir num abastecimento regular de água tem múltiplas vantagens. Para além de fornecer água para a produção alimentar durante todo o ano, isto pode permitir ter água potável em quantidade suficiente e diminuir assim a carga de trabalho das mulheres, reduzindo o tempo que despendem a procurar água longe.

A mobilização da comunidade em torno de uma fonte de água comum, pode ser o ponto de partida para outras actividades de desenvolvimento. Por exemplo, a associação comunitária para a água pode constituir o meio de organizar ou de melhorar a comercialização dos produtos das hortas, no caso de haver excedentes; ou de organizar a compra conjunta de factores de produção (por exemplo, sementes, ferramentas) e outros bens essenciais; ou negociar para obter melhores preços. Depois de terem investido num ponto de água comum, as comunidades devem ter um papel activo na garantia da sua eficácia graças a uma manutenção regular.


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